Balaji Srinivasan, um dos principais nomes do mundo das criptomoedas, imagina um futuro onde escolher uma cidadania seria tão simples quanto se inscrever numa academia. Segundo Balaji, que defende o poder da tecnologia para transformar funções governamentais, as nações poderiam ser substituídas por "Estados em Rede", comunidades emergentes formadas inicialmente online, com interesses e valores compartilhados. Com o tempo, essas comunidades poderiam adquirir terras e se tornar Estados físicos, coexistindo e eventualmente substituindo os governos tradicionais.
Balaji apresentou essa visão durante uma conferência em Amsterdã, onde destacou que, assim como o Vale do Silício desafiou a imprensa e outras indústrias, startups poderiam derrubar instituições tradicionais, incluindo governos. Essas novas nações digitais teriam suas próprias leis e atrairiam cidadãos da mesma forma que empresas atraem consumidores.
Te podría interesar
Leia também: ‘Plataformas digitais não são meras empresas, mas entidades políticas de um novo tipo’, avalia pesquisador
Projeto neocolonial
Essa ideia de "Estado em Rede" é vista por alguns como um projeto neocolonial, onde líderes eleitos seriam substituídos por ditadores corporativos a serviço de acionistas. No entanto, para outros, a proposta oferece uma alternativa às democracias atuais, desregulamentadas e focadas no livre mercado.
Te podría interesar
Projetos desse tipo já começam a surgir. Balaji cita iniciativas como a Cabin, uma rede de aldeias modernas, e a Culdesac, uma comunidade planejada no Arizona para trabalhadores remotos. Outro exemplo é a Próspera, uma "cidade privada" em Honduras, onde leis próprias foram criadas com a benção do governo anterior. Contudo, a atual administração hondurenha tem tentado retirar esses privilégios, o que levou a cidade a processar o governo por US$ 10,8 bilhões.
“Imagine mil startups diferentes, cada uma substituindo uma instituição tradicional diferente (...) Elas existem paralelamente ao sistema estabelecido, vão atraindo os usuários, vão ganhando força, até se tornarem o novo.”, disse Balaji ao público.
Outro personagem deste movimento é Dryden Brown, que busca criar uma nova cidade-estado chamada Praxis, nas margens do Mediterrâneo, governada pela tecnologia blockchain. Brown diz que a cidade será fundada sobre valores de "vitalidade" e "virtude heróica", e seus primeiros cidadãos poderão se mudar para lá até 2026. A comunidade já existe online, e interessados podem se inscrever para obter cidadania.
Essas novas comunidades cibernéticas, como a Praxis, organizam eventos e publicam revistas repletas de memes da internet e símbolos associados a movimentos de direita alternativa. Esses memes, como o sapo Pepe e até mesmo garrafas de leite (um símbolo de supremacia branca), revelam a mistura de provocação cultural e ideias radicais que permeiam o movimento. Brown e seus seguidores veem essas novas cidades como uma alternativa à democracia, acreditando que um "ditador moral" — ou um "rei filósofo" — seria a melhor forma de governo.
Os críticos, por sua vez, veem essas iniciativas como uma tentativa perigosa de criar monopólios corporativos que poderiam controlar todas as esferas da sociedade. Alguns temem que, sob o pretexto de inovação, o movimento possa instaurar regimes totalitários disfarçados de empresas privadas. Contudo, para seus entusiastas, esse é o próximo passo na evolução social, com a tecnologia blockchain e as criptomoedas servindo de base para uma nova ordem global, onde o poder do Estado-nação será finalmente substituído pela eficiência do livre mercado.
Enquanto a ideia de Estados em Rede parece uma fantasia distante para muitos, elementos dessa visão já estão surgindo em várias partes do mundo. Com Donald Trump, por exemplo, propondo a criação de zonas econômicas especiais com baixa tributação nos EUA, a perspectiva de comunidades corporativas autônomas está cada vez mais próxima de se tornar realidade.
O futuro pode reservar um mundo onde, em vez de nascemos com uma nacionalidade fixa, escolhemos livremente a que mais se alinha aos nossos valores — ou interesses comerciais