Uma performance de cunho fascista que ocorreu no último domingo (7), em Roma, capital da Itália, chocou muitas pessoas mundo afora e mirou os holofotes para a primeira-ministra Giorgia Meloni, considerada uma estrela da extrema direita mundial.
Durante o memorial de três ativistas mortos em consequência de confronto com comunistas, em 1978, no beco Acca Larentia, em Roma, centenas de militantes do Movimento Social Italiano (MSI) fizeram a saudação fascista.
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O MSI reorganizou a direita italiana depois da Segunda Guerra Mundial, em 1946, e foi formalmente dissolvido como partido em 1995.
A própria Meloni começou sua militância política na ala jovem do MSI. Depois que seus ex-correligionários sincronizaram o gesto fascista, ela está sendo pressionada pela oposição a punir os participantes da manifestação.
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A premier italiana e o líder do Senado, Ignazio La Russa, foram fundadores do partido de extrema direita Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), que os levou ao poder numa coalizão de direita em 2022, com 44% dos votos.
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Quem é Giorgia Meloni
Aos 46 anos, Giorgia Meloni, loira de olhos verdes e principal liderança da extrema direita italiana, é dona de um discurso inflamado repleto de comentários controversos e se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra da Itália.
No guarda-roupas dela, de acordo com as revistas de moda italiana Donne Magazine e Io Donna, predominam peças formais, como terninhos femininos, principalmente em preto, azul marinho e cinza, combinados com camisas masculinas ou tops brancos.
Embora o closet seja às vezes intencionalmente repetitivo, ela usualmente opta por acessórios de destaque, especialmente brincos marcantes, quase sempre pendentes e feitos de materiais como ouro, madrepérola ou prata, com finas correntes em cascata, arabescos de prata ou motivos de folhas em ouro ou strass.
Ela também usa muitas joias para dar aquela "pitada feminina", como broches dourados e pulseiras múltiplas, além de anéis florais, alianças espartanas e colares dourados.
Uma das marcas do estilo de Meloni são os scarpins de salto médio, exibidos principalmente em cerimônias oficiais, os botins pretos de bico fino e tênis off-white.
Preterida por estilistas italianos
A relação entre a indústria da moda e a política italiana ganhou destaque recentemente, especialmente após a eleição de Meloni. Desde a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016, quando designers se recusaram a vestir a então primeira-dama, Melania Trump, não se via um conflito tão aberto entre a moda e a liderança eleita de um país.
Pouco antes de deixar a Casa Branca, no Natal de 2019, o agora pré-candidato republicano a mais uma temporada na Presidência dos EUA partilhou uma publicação do site Breitbart News em que se criticava os “snobs elitistas na imprensa da moda” que “mantiveram a primeira-dama mais elegante da história americana fora das capas das suas revistas durante quatro anos consecutivos”.
Chegou a vez da italiana ser preterida pelo 'mundo fashion'. Em setembro de 2022, durante as preparações para as eleições italianas e a Semana da Moda de Milão, diversos designers usaram o Instagram para incentivar seus seguidores a votar por liberdade, abertura e progresso, em oposição às políticas conservadoras em imigração e moralidade tradicional defendidas pelo partido de Meloni.
Personalidades como Pierpaolo Piccioli, da Valentino, e Donatella Versace, da Versace, se manifestaram em prol dos direitos conquistados e do olhar progressista para o futuro. Stella Novarino, de Stella Jean, também se pronunciou, enfatizando a importância dos direitos civis e humanos.
Após a vitória da coalizão de Meloni, surgiram dúvidas sobre quem vestiria a nova primeira-ministra, mas ninguém se pronunciou publicamente sobre o assunto. O chefe da Camera della Moda, órgão comercial da moda italiana, também optou por não comentar a situação.
Vestida de Armani
No final das contas, a primeira mulher primeira-ministra da Itália usa Giorgio Armani. Assim que iniciou o governo de transição, em outubro de 2022, cumpriu as primeiras agendas com peças assinadas pelo renomado estilista italiano nos três dias de passagem do bastão de poder do seu antecessor, Mario Draghi.
Armani, Nascido na Emília-Romanha, norte da Itália (ao sul de Milão), estabeleceu um novo padrão na moda feminina. Inspirou sua linha feminina em trajes comumente masculinos, no entanto, desenvolvendo acabamentos, tecidos e corte que privilegiavam as formas femininas.
Meloni, fundadora do partido de extrema direita Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália) e líder da coalizão conservadora que venceu as eleições nacionais, escolheu três terninhos Armani para as primeiras aparições no novo cargo.
Vestiu um Armani com camisa preta para sua primeira fotografia oficial com seus ministros, um Armani com camisa branca para sua reunião de transferência com Draghi e um Armani azul marinho no meio. E assim continuou.
Meloni usou um terno Armani durante uma coletiva de imprensa após a primeira reunião de seu gabinete, quando anunciou, entre outras coisas, novas medidas repressivas contra raves ilegais noturnas. E ela apareceu novamente em Armani para sua primeira reunião com líderes da União Europeia em Bruxelas.
A predileção por criações do conterrâneo Armani aliado ao estilo do cabelo loiro liso e bem arrumado, começou a se destacar como um uniforme simbólico no ambiente político.
Terno emula masculinidade
Essa escolha de vestuário de Meloni, que se alinha visualmente com os líderes empresariais e uma marca reconhecida como um pilar do establishment, parece refletir uma estratégia deliberada. Ela busca redefinir a imagem da Itália no cenário internacional, onde cada detalhe de sua apresentação ganha relevância.
Ao optar por um estilo associado ao poder e à tradição, Meloni parece contrapor-se à natureza muitas vezes radical de seu populismo e de suas políticas ultradireitistas.
Essa abordagem sutil na escolha da vestimenta pode sugerir uma tentativa de suavizar a percepção pública sobre seu governo, que tem sido marcado por um discurso político agressivo e pelo desmonte de direitos conquistados.
Ao preferir o uso de terninhos, Meloni não foge à regra não-escrita de que, em geral, quando as mulheres chegam ao poder, acabam se vestindo e se penteando todas iguais e, na minha opinião, aderem à estética masculina para serem aceitas e respeitadas.
Como, por exemplo, os terninhos adotados por Dilma Rousseff, Laura Chinchila (Costa Rica), Cristina Kirchner (Argentina) e Angela Merkel (Alemanha).
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Estilo para destruir direitos
As escolhas de vestuário na política são frequentemente mais do que uma questão de estilo pessoal e funcionam como declarações de intenções e ferramentas de comunicação estratégica.
No caso de Meloni, a marca principal da sua liderança de extrema direita na Itália é a de retrocesso. É possível interpretar, por exemplo, as mangas arregaçadas das camisas masculinas como um símbolo do trabalho árduo para destruir direitos conquistados.
Em sua campanha, ela usou o slogan fascista de Mussolini, “Deus, pátria e família”. Também já elogiou publicamente o ex-ditador fascista italiano, que foi aliado de Hitler na Segunda Guerra Mundial. Para ela, Mussolini foi “um bom político” e “fez muito pela Itália”.
Entre os alvos preferenciais da fúria conservadora dela está o que chama de “lobby LGBT”, se opondo a casamento entre pessoas do mesmo sexo e adoção por casais homossexuais.
A líder de extrema direita conseguiu aprovar uma lei que prevê a exclusão do nome da mãe não biológica das certidões de nascimentos de crianças que são filhas de casais lésbicos.
A lista de destruição, vestida de Armani, é extensa:
Política de Imigração: Meloni tem trabalhado ativamente em políticas de migração, incluindo a assinatura de um pacto com a Tunísia, no qual a União Europeia se comprometeu a pagar 900 milhões de euros para o controle das fronteiras tunisinas, em troca do compromisso de impedir a chegada de migrantes à Itália. No entanto, esses acordos têm enfrentado dificuldades operacionais, especialmente considerando que muitos dos migrantes são cidadãos dos próprios países parceiros.
Perseguição a LGBT: Meloni manteve uma postura fiel às suas promessas eleitorais e ao perfil de extrema direita do seu partido em questões internas. Ela introduziu medidas como um decreto-lei contra raves, restrições ao registro civil de filhos de casais homossexuais e limitações à atuação de organizações não governamentais que resgatam imigrantes.
Direitos Civis: O governo Meloni lançou uma luta a favor da família tradicional, emitindo uma circular que pede aos municípios que deixem de registrar os pais não biológicos nas certidões de nascimento de crianças com dois pais ou duas mães.
Relação com a União Europeia: Apesar de seu perfil inicialmente eurocético, Meloni teve de adaptar sua postura para trabalhar com as instituições europeias. Ela tem enfatizado a necessidade de apoiar a Ucrânia durante a guerra, apesar de alguns membros de seu governo terem expressado admiração por Vladimir Putin, presidente da Rússia.
Economia e Natalidade: O governo de Meloni prometeu zero impostos para quem tenha filhos, com uma revisão desta promessa prevista para ocorrer em seis meses. A economia italiana cresceu 3,7% em 2022, mas enfrenta o desafio da segunda maior dívida da Europa, atrás apenas da Grécia.