ORIENTE MÉDIO

‘Estado Islâmico’ sai das catacumbas e assume atentado que deixou 84 mortos no Irã

O grupo fundamentalista wahabita, nascido graças ao apoio da Arábia Saudita conforme apuração do jornalista britânico Patrick Cockburn, usou o Telegram para reivindicar o ataque mais letal desde a Revolução Islâmica de 1979

Estado Islâmico.Créditos: Wikimedia Commons
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O Estado Islâmico reapareceu para os meios de comunicação globais nesta quinta-feira (4) para assumir a autoria do atentado terrorista a bomba contra o mausoléu do general Qassem Soleimani em Teerã, capital do Irã. O EI usou o Telegram para se pronunciar a respeito do ataque mais letal vivido pelos iranianos desde a Revolução Islâmica de 1979.

As duas bombas que explodiram no local quando milhares de pessoas prestavam homenagem ao falecido general no aniversário da sua morte deixou 84 mortos. O governo iraniano chegou a divulgar um total de 103 mortos, mas após as apurações voltou atrás na cifra. 284 pessoas foram feridas.

O Irã esteve na linha de frente do combate ao EI, também conhecido como ISIS ou Daexe - como é chamado pelos persas. O Estado Islâmico é formado por radicais sunitas que consideram os xiitas iranianos apóstatas.

Além disso, é importante lembrar a apuração do jornalista britânico Patrick Cockburn, correspondente de guerra no Oriente Médio para o The Independent. Em seu livro “A Origem do Estado Islâmico”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária em 2015, ele traça a origem do grupo nas escolas wahabitas impulsionadas por décadas pela monarquia da Arábia Saudita, grande aliada do Ocidente e que segue a vertente sunita do Islã.

Entre outras razões, o fomento do wahabismo – que também influenciou a Al-Qaeda e a Frente Al-Nusra – tinha como objetivo combater o secularismo que cresceu ao longo do século XX nos países árabes e gerou, entre outros, lideranças como o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser e o líder palestino Yasser Arafat.

O Estado Islâmico viveu seu auge entre 2014 e 2016, quando tomou o controle de partes do território do Iraque e da Síria e proclamou o ressurgimento do Califado Islâmico, sua forma de organização social supostamente baseada no antigo império liderado por Saladino e que funciona sob a lei Sharia – enraizada em interpretação fundamentalista do Corão. As principais cidades controladas pelo grupo foram Mossul e Raqqa, mas o EI chegou a ocupar áreas próximas a Bagdá e ameaçar áreas controladas pelo governo de Bashar Al-Assad na Síria.

O grupo enfrentou uma série de inimigos naquele período até ser quase completamente derrotado. Atualmente ainda tem algum nível de atuação na Guerra Civil Síria e tenta promover atentados à distância pelo mundo utilizando a internet, mas foi expulso do Iraque e de uma série de territórios sírios antes conquistados. O Irã, comandado pelo general Soleimani, foi a principal força a combater o EI. Junto com os persas também havia milícias curdas, iraquianas e o governo Assad na Síria.

O General Soleimani

O general, da cúpula da Guarda Revolucionária do Irã, foi assassinado pelos Estados Unidos em 3 de janeiro de 2000, quando visitava o Iraque. Teerã considera o general o "arquiteto" de uma nova geometria regional, de resistência às tentativas de Washington de redesenhar o mapa do Oriente Médio.

Depois das invasões do Afeganistão e do Iraque, de derrubar o governo da Líbia e de tentar fazer o mesmo na Síria, os Estados Unidos trabalhavam para incorporar a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos numa "arquitetura de segurança regional formada por nações 'democráticas' alinhadas a seus interesses", na visão de uma articulista do Teerã Times, porta-voz do governo do Irã.

Cabia ao general Soleimani organizar a resistência, como segundo líder mais importante do regime, abaixo apenas do aiatolá Khamenei. Ele foi morto em ataque de drone dos Estados Unidos, autorizado pelo presidente Donald Trump, perto do aeroporto de Bagdá, quando estava a caminho de se encontrar com o primeiro-ministro do Iraque.

Na visão de Teerã, Soleimani se tornou alvo "depois de revitalizar a resistência fragmentada em toda a região. Os combatentes na Palestina, no Líbano, na Síria, no Iraque e no Iêmen começaram a aproveitar a experiência do comandante, utilizando a sua orientação para se reorganizarem em baluartes firmes contra os EUA e seus aliados".

Na última quarta (3), milhares de pessoas estavam nas proximidades do mausoléu de Soleimani quando as bombas explodiram.