LUZ E TREVAS

Netanyahu cita Isaías, Hezbollah e Estado Islâmico no mesmo discurso

Tom messiânico para justificar invasão de Gaza e enfrentamento ao arco da resistência

Messianismo.Benjamin Netanyahu se esconde atrás da religião para justificar o bombardeio a GazaCréditos: Wikipedia e Governo de Israel
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Em seu mais recente discurso ao povo de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez uma citação religiosa:

"Com forças compartilhadas, com profunda fé na Justiça de nossa causa e na eternidade de Israel, realizaremos a profecia de Isaías 60:18 – “Não se ouvirá mais violência em sua terra, nem desolação, nem destruição dentro de suas fronteiras; mas aos teus muros chamarás Salvação, e às tuas portas, Louvor", disse.

O livro de Isaías, no Antigo Testamento, é fonte de inspiração para judeus e cristãos.

O texto reflete um período em que os reinos de Israel e Judá estavam sob cerco.

Ele conteria profecias sobre o futuro.

Isaias fala, por exemplo, em um tempo em que povos dispersos seriam reunidos:

E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra 

Isaías 11:12

No ano seguinte à vitória na Guerra dos Seis Dias contra uma coalizão árabe, Israel publicou um selo citando Isaías e Jerusalém:

"Coloquei sentinelas sobre seus muros, ó Jerusalém".

Netanyahu só voltou ao poder por conta do apoio de partidos religiosos de extrema-direita, que deram a ele a estreita margem de vantagem para formar um governo.

O discurso de Netanyahu em que o primeiro-ministro cita Isaías tem outra frase em tom messiânico:

Estamos recrutando o apoio dos líderes mundiais para a continuação da campanha. Hoje, muitos deles compreendem o que lhes dizemos desde 2014: o Hamas é o Estado Islâmico e o Estado Islâmico é o Hamas. Digo-lhes que a nossa guerra contra o Hamas é também a guerra deles. A nossa guerra contra o Hamas é um teste para toda a humanidade. É uma luta entre o eixo do mal Irã-Hezbollah-Hamas e as forças da liberdade e do progresso. A luz derrotará as trevas.

Alguns analistas ocidentais pró-Israel consideram a comparação entre o Hamas e o Estado Islâmico absurda.

Ao falar em luz e trevas, ele justifica a imensa destruição que se vê em Gaza, onde 3 mil crianças já foram mortas pelos bombardeios de Israel.

O convite a líderes ocidentais para se engajar numa coalizão contra o Hamas é uma forma de vencer o isolamento internacional de Tel Aviv.

O primeiro-ministro vem recebendo críticas em Israel por no passado ter apoiado o Hamas na disputa com o Fatah, movimento palestino que é a base da Autoridade Palestina.

O objetivo teria sido dividir e enfraquecer o inimigo.

Uma pesquisa publicada no Jerusalem Post indica que 52% dos israelenses apoiam a renúncia de Netanyahu depois da guerra, uma vez que ele fracassou na defesa de Israel depois de prometer que o avanço dos assentamentos de Israel na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental não teriam consequências políticas.

Quando mais tempo durar a guerra e quanto melhor for o resultado militar, maiores as chances de Netanyahu de preservar seu legado.

Por isso ele iniciou o discurso dizendo:

Todos os terroristas do Hamas são homens mortos que caminham – acima do solo, abaixo do solo, fora de Gaza.

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