GUERRA

Guerra no Niger? Tensão aumenta na região e conflito pode começar em breve

CEDEAO ameaça intervenção militar no país, que conta com apoio de parceiros regionais e da Rússia

Golpe militar no Níger foi considerado a gota d'água para França e CEDEAO contra insurgências anti-imperialistas no SahelCréditos: Reprodução/RTN
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Nesta quinta-feira (3), o governo senegalês anunciou que irá enviar destacamento de suas tropas caso a Comunidade de Estados da África Ocidental (CEDEAO) decida invadir o território do Niger para depor o governo militar instaurado no país na última quarta-feira (26).

Os países da comunidade exigem a soltura do presidente eleito Mohamed Bazoum e a restauração da democracia no país. Na semana passada, sanções econômicas já haviam sido confirmadas contra os nigerinos.

O governo militar que comanda o país já afirmou que não vai cair nas provocações da CEDEAO e anunciou que contará com apoio de Burkina Faso e Mali para se defender da intervenção.

Os governos burkinabé e malineses já enviaram nota conjunta, afirmando que "qualquer intervenção militar contra o Níger seria equivalente a uma declaração de guerra contra o Burkina Faso e o Mali".

O que está em jogo?

O conflito entre a junta Mali-Niger-Burkina Faso e outros países africanos pode ser um dos mais complexos conflitos dos tempos atuais.

Os três governos possuem caráter anti-imperialista e tem como principal alvo a França. O novo governo nigerino já prometeu renegociar os acordos de urânio com o país europeu. O Mali abandonou o francês como língua oficial. Burkina Faso pediu a construção de uma usina nuclear russa em seu território.

Em manifestações em Niamney, a embaixada francesa foi alvo de vandalismo e cartazes com as frases "Abaixo a França, Viva Putin" foram erguidos.

Do outro lado, Senegal, Nigéria, Gana e outros países da região enxergam o movimento como um risco para a estabilidade econômica e política da região, e tem medo que movimentos militares similares se espalhem por dentro de suas fronteiras.

Além disso, contam com o apoio tácito de Estados Unidos, França e Reino Unido para realizarem sua operação de guerra no território nigerino, malinês e burkinabé.

O que é a CEDEAO?

A CEDEAO é um grupo de países africanos ocidentais, composto por  Benin, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau, Libéria, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo. Estão suspensos Mali, Burkina Faso, Guiné e, agora, Níger, por conta dos golpes militares.

O órgão busca ser um fórum econômico e político para que países africanos possam resolver seus problemas com relativa autonomia.

Contudo, a CEDEAO conta com um histórico de intervenções militares, em especial contra golpes militares na região.

Intervenções militares da CEDEAO

Ao longo da história, foram sete operações militares do órgão contra países membros. Boa parte delas contou com apoio francês e da ONU.

  • 1990: Libéria: A CEDEAO interveio para resolver a guerra civil liderada por Charles Taylor contra o governo liberiano. Embora controversa devido a violações de direitos humanos cometidas por suas tropas, a missão ajudou a garantir a paz até o fim da guerra em 1996.
  • 1997: Serra Leoa: Após o golpe militar liderado pelo Major Johnny Paul Koroma que derrubou o governo eleito de Ahmed Tejan Kabbah, a CEDEAO, sob o comando de tropas nigerianas, recapturou a capital Freetown e reinstalou Kabbah como líder do país.
  • 1999: Guiné-Bissau: A CEDEAO atuou em uma missão de cessar-fogo na Guiné-Bissau após uma tentativa de golpe em 1998. Uma trégua foi estabelecida com a criação de um governo de unidade nacional e novas eleições, mas a violência recomeçou em 1999
  • 2003: Costa do Marfim: A CEDEAO implantou tropas para complementar as forças da ONU e da França após um acordo de cessar-fogo entre as forças armadas marfinenses e grupos rebeldes.
  • 2003: Libéria: Devido à segunda guerra civil no país, a CEDEAO enviou tropas para servir como uma força de interposição, mantendo as partes em conflito separadas e facilitando a chegada da Missão das Nações Unidas na Libéria (UNMIL).
  • 2013: Mali: Após um golpe em 2012 e a tomada do norte do país por grupos armados islâmicos, a CEDEAO liderou a Missão de Apoio Internacional à África no Mali (AFISMA) para apoiar o governo maliense na luta contra os rebeldes.
  • 2017: Gâmbia: A operação "Restaurar a Democracia", liderada pelo Senegal, enviou tropas para Banjul para forçar Yahya Jammeh, que se recusou a aceitar a derrota nas eleições de 2016, a deixar o poder e permitir uma transição pacífica para Adama Barrow.