Nesta quarta-feira (26), a população do Niger e o mundo assistiram uma tomada de poder violenta que depôs o presidente do país Mohamed Bazoum e instalou um governo militar em Agadez.
Um coronel-major do exército nigerino assumiu o poder, e anunciou na televisão que todas as instituições do país estavam suspensas até segunda ordem. Na prática, ocorreu um golpe. E, até o momento, foi bem sucedido.
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A cena da tomada de poder é parecida com a vista em maio de 2021, no Mali, e, em 2022, em Burkina Faso.
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Baixas patentes
O Niger já havia sofrido uma tentativa de golpe em 2021, que falhou. O presidente eleito do país, Mohamed Bazoun, conseguiu tomar posse e governou por dois anos.
Mohamed Bazoum, presidente detido, era um civil, membro do Partido Nigerino pela Democracia e pelo Socialismo, uma organização de centro-esquerda que tinha maioria no parlamento nigerino.
O comunicado do golpe foi dado por Amadou Adramane, coronel-major do Exército. Segundo informações da RT, o golpe não teve apoio da alta patente de militares do país.
Os novos chefes de governo afirmam que não vão matar Bazoum. “Reafirmando o nosso compromisso de respeitar todos os compromissos assumidos pelo Níger, asseguramos à comunidade nacional e internacional que a integridade física e moral das autoridades será respeitada, de acordo com o princípio da integridade", afirmaram os militares que tomaram o controle de Agadez.
O Niger é um país localizado no meio do Saara, ex-colônia francesa, e era utilizado pelo governo da França como base no combate contra grupos islamitas fundamentalistas, em especial no norte do Mali.
A incapacidade francesa em lidar com os grupos terroristas motivou o golpe no Mali e no Burkina Faso, que começaram a contar com o grupo Wagner para apoio em suas operações contra os islamitas ligados a Al-Qaeda e ao ISIS.
O Niger fazia parte de uma "nova doutrina militar" da França no Sahel, anunciada em março deste ano e, ainda que não seja claro, o movimento parece ter uma conexão com seus dois vizinhos.
O país passa pelo seu quinto golpe de estado em 63 anos de história de independência.
Significado internacional
O que ocorre no Niger pode ser interpretado como parte de um movimento simultaneamente anti-democrático e anti-imperialista, se confirmado o seu alinhamento ideológico com Burkina Faso e Mali. Ambos os países já insinuaram a formação de uma confederação.
Em Uagadugu e em amako, o sentimento comum entre os militares de baixa-patente é um distanciamento da Europa e, em especial, da França, que tenta cumprir um papel de "protetora" da África Ocidental. Ambos os movimentos militares buscam aproximação da China e da Rússia para se consolidar no meio internacional.
Resta saber se o novo governo de Agadez tomará o mesmo caminho e se também buscará apoio do Wagner para combater os muhajideen em seu território. De qualquer forma, o movimento aponta para uma queda do poder francês em seus antigos domínios coloniais e, simultaneamente, a falência da democracia liberal no continente africano.