Pesquisadores do Grupo de Trabalho do Antropoceno (AWG, na sigla em inglês) revelaram nesta terça-feira (11) uma proposta para delimitar o início do Antropoceno, a nova era geológica do Planeta Terra, a partir de uma camada específica de sedimentos encontrada em um lago no Canadá. Para uma parte da comunidade científica, o Antropoceno seria a era geológica marcada pela intervenção humana no ambiente.
O termo “Antropoceno” já circula entre a comunidade científica há mais de duas décadas. Ele foi popularizado em 2000, quando o vencedor do Prêmio Nobel de Química de 1995, Paul Crutzen, o utilizou em um encontro do Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP). No entanto, a nomenclatura ainda não é oficial. Por isso, a descoberta do AWG marca um avanço na decisão sobre se o Antropoceno deve entrar ou não na escala de tempo geológico ,que demarca oficialmente eras, períodos, épocas e outros intervalos da idade da Terra como conhecemos.
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O que demarca o Antropoceno
Duas questões se colocam para definição da nova época geológica: se os depósitos geológicos mostram uma assinatura realmente distinta daquela do Holoceno – a era geológica em que, oficialmente, a Terra se encontra – e a partir de quando esses sinais são marcantes ao ponto de se poder dizer que a Terra está em outra época de sua história. A última questão, aparentemente, foi respondida.
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Para os cientistas do Grupo de Trabalho do Antropoceno, o ponto inicial da era são os sedimentos datados dos anos 1950, extraídos do fundo do lago Crawford, localizado em uma reserva natural ao sul de Ontário, no Canadá, por estarem repletos de plutônio, um elemento radioativo que a Terra quase não produz por meios naturais, resultado dos testes de armas nucleares nos primeiros anos da Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética.
Para uma parte da comunidade científica, as evidências de que a humanidade já se encontra em uma nova era geológica englobariam o aumento da concentração de gases do efeito estufa, da contaminação por microplásticos e dos resíduos radioativos de testes nucleares. Além disso, até ossos de frango podem mostrar a interferência humana na Terra, isto porque, frangos de supermercado, criados pelos humanos para crescerem muito mais do que o normal, representam dois terços da biomassa de todas as aves, explicou o cientista Jan Zalasiewicz, em entrevista à Agência France Presse.
Cientistas também citam os “tecnofósseis” – vestígios de objetos tecnológicos – e os “produtos químicos eternos” – aqueles encontrados, por exemplo, em panelas antiaderentes – como comprovadores do Antropoceno. No entanto, nem todos os especialistas concordam em equalizar o peso dessas mudanças com o de um calendário – o geológico – que foi modificado de forma muito lenta ao longo de milhões de anos.
A proposta do AWG ainda precisa ser aprovada pela União Internacional de Ciências Geológicas, quando, então, a nomenclatura se tornará oficial.