DESCOBERTA

Cientistas descobrem qual parte do cérebro é registrada a dor crônica

Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram onde impulsos são registrados, abrindo caminhos para tratamentos

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Há muitas evidências de que a percepção da dor ocorre no cérebro, ela é uma das experiências subjetivas mais importantes e básicas que uma pessoa pode ter. No entanto, havia uma enorme lacuna de conhecimento sobre onde e como esses sinais são processados no cérebro.

Pela primeira vez, pesquisadores estadunidenses conseguiram registrar dados associados à dor de dentro do cérebro humano, identificando padrões de disparo. Eles estudaram pacientes que apresentavam distúrbios de dor crônica causados por acidente vascular cerebral ou amputações (dor do membro fantasma) e publicaram os resultados na revista Nature Neuroscience.

Ao menos 10% da população mundial sofre com a dor crônica, aproximadamente 60 milhões de pessoas. As causas são múltiplas: desde artrite, câncer e problemas nas costas até diabetes, derrame e endometriose.

Por muitos anos, esforços foram feitos para entender como a dor é representada pela atividade cerebral e como modular essa atividade para aliviar o sofrimento da dor crônica, porque decifrar a atividade cerebral subjacente à dor crônica em pacientes aumenta a esperança de que terapias estimulantes do cérebro já usadas para Parkinson e depressão maior possam ajudar aqueles que ficaram sem escolha.

“O que aprendemos é que a dor crônica pode ser rastreada e prevista com sucesso no mundo real, enquanto os pacientes estão passeando com o cachorro ou em casa, quando se levantam pela manhã e durante suas vidas”, disse o neurologista e pesquisador principal do projeto na Universidade da Califórnia, Shirvalkar.

Embora a dor crônica tenha levado a um aumento nas prescrições de opioides potentes, nenhum tratamento médico funciona bem para essa doença, levando os especialistas a pedirem uma reavaliação completa da forma como os serviços de saúde tratam os pacientes com dor.

Para o novo estudo, Shirvalkar e seus colegas implantaram cirurgicamente eletrodos em quatro pacientes com dor crônica intratável após acidente vascular cerebral ou perda de membros. Os dispositivos permitiram que os pacientes registrassem a atividade de duas regiões cerebrais - o córtex cingulado anterior e o córtex orbitofrontal - com o apertar de um botão em um controle remoto. O córtex orbitofrontal é uma área responsável pela regulação emocional, autoavaliação e tomada de decisão.

Por meio de trabalhos separados, descobriu que dores agudas ou de curta duração, como a produzida pelo contato de um objeto quente com a pele, são acompanhadas por uma atividade cerebral muito diferente. A descoberta pode explicar, pelo menos em parte, por que os analgésicos comuns são menos eficazes para a dor crônica do que o alívio de uma topada no dedo do pé.

“A dor crônica não é apenas uma versão mais duradoura da dor aguda, é fundamentalmente distinta no cérebro”, diz Shirvalkar. "A esperança é que, ao entendermos melhor isso, possamos usar as informações para desenvolver terapias personalizadas de estimulação cerebral para as formas mais graves de dor".

Com base nas descobertas, poderão ser realizados ensaios clínicos que avaliem o uso da estimulação cerebral profunda no controle da dor crônica. A estimulação cerebral profunda envia impulsos elétricos ao cérebro para interromper os sinais problemáticos.

Diversas vezes ao dia, os voluntários foram solicitados a preencher breves pesquisas sobre a intensidade e o tipo de dor que estavam sentindo e, em seguida, foram registrados instantâneos de sua atividade cerebral.

Utilizando as respostas da pesquisa e gravações cerebrais, os cientistas descobriram que poderiam treinar um algoritmo para prever a dor de uma pessoa com base em sinais elétricos de seu córtex orbitofrontal. Segundo Shirvalkar, foi desenvolvido um biomarcador alvo para esse tipo de dor.

Por envolver cirurgia cerebral, esse tipo de estimulação é um tratamento de último recurso. Mas já é usado para a doença de Parkinson e transtorno depressivo maior. Para serem eficazes, os médicos devem saber exatamente quais sinais devem ser tratados.

O professor Blair Smith, especialista em dor crônica da Universidade de Dundee, no Reino Unido, que não chegou a participar da pesquisa, comentou que a falta de medidas objetivas da dor torna difícil para os médicos avaliar a eficácia dos tratamentos.

"Se esta pesquisa for ampliada com sucesso, ela oferecerá a oportunidade não apenas de desenvolver uma medição objetiva de alguns tipos de dor, mas também de melhorar nossa compreensão dos mecanismos biológicos", disse ele. O especialista também esclareceu que a dor é um fenômeno complexo, no qual intervêm fatores psicológicos, sociais e culturais, experiências anteriores de dor e também expectativas.

 

Com informações de Infobae