FUTURO

Cérebro envelhece? Especialista aponta mitos e verdades sobre o tema

Das doenças neurológicas relacionadas ao envelhecimento, o Alzheimer e a demência vascular são as mais comuns e ambas influenciadas pelos hábitos de vida

O cérebro humano oferece muitos desafios à ciência.Créditos: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Por mais que a ciência avance, um fato é inexorável: não se pode impedir o envelhecimento. A medicina busca oferecer possibilidades para que a pessoa envelheça bem de saúde, com o máximo de autonomia possível e domínio das funções cognitivas.

Da mesma forma como acontece com outras partes do corpo, como pele e ossos, por exemplo, o cérebro, um dos órgãos mais misteriosos e desafiadores para cientistas, começa a envelhecer por volta dos 30 anos, dependendo da pessoa.

As mudanças são não somente estruturais, mas também funcionais. Nos cérebros idosos ocorre perda de sintonia entre as regiões, o que explica falhas de memória, raciocínio mais lento e dificuldade no processamento de determinadas informações.

Das doenças neurológicas relacionadas ao envelhecimento, o Alzheimer e a demência vascular são as mais comuns e preocupantes. Ambas são muito influenciadas pelos hábitos de vida.

O médico neurocirurgião Marcelo Valadares, pesquisador da disciplina de neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein, esclarece curiosidades a respeito da saúde do cérebro e seu envelhecimento. Em dez itens, ele revela alguns mitos e verdades sobre o tema.

1) O tamanho do cérebro pode diminuir com a idade. Verdade.

A redução do volume do cérebro com a idade é frequente durante o envelhecimento. Isso se deve à diminuição no número de células, entre elas, os neurônios, que são os principais responsáveis pelo funcionamento do órgão. Além disso, acontece uma diminuição das conexões entre os neurônios. Essa alteração do volume cerebral também é chamada de atrofia e pode ser maior ou menor, de acordo com outras condições de saúde, que variam para cada pessoa.

2) Exames preventivos podem contribuir para evitar o envelhecimento do cérebro. Mito.

Até o momento, não existem exames que possam prevenir o envelhecimento do cérebro. As recomendações são relacionadas à prevenção de problemas de saúde. Exames podem ser úteis quando existem alterações neurológicas perceptíveis, como problemas de memória e de atenção.

3) Os neurotransmissores, que são substâncias que levam a informação de um neurônio ao outro ou a um tecido, também sofrem com alterações durante o envelhecimento. Verdade.

Dentro do próprio neurônio a transmissão se dá por meio de energia, como acontece com o sistema elétrico de uma casa, por exemplo. Da mesma forma que os cabos de energia, os neurônios são compridos e podem ter mais de um metro de extensão. Entre as células, são os neurotransmissores que se comunicam, passando a mensagem adiante. Hoje, conhecemos mais de 60 tipos de neurotransmissores e, com a idade, a concentração de cada um pode variar; isso pode estar associado a problemas de saúde.

4) Já existem formas de frear o desenvolvimento das doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Mito.

Infelizmente, ainda não há uma forma clara de frear processos degenerativos no cérebro, principalmente quando doenças como Alzheimer e Parkinson já foram identificadas. Porém, existem condições de saúde que podem diminuir o perigo do desenvolvimento dessas doenças. Adotar um estilo de vida mais saudável desde cedo, com alimentação balanceada, prática de atividades físicas e evitando o excesso de bebidas alcoólicas, por exemplo, pode reduzir o risco de doenças neurodegenerativas.

5) O estilo de vida do jovem pode influenciar, no futuro, no envelhecimento do seu cérebro. Verdade.

Um cérebro jovem deve ser estimulado e bem cuidado. A forma como se estimula o cérebro hoje impacta diretamente no amanhã. O cuidado deve ser físico, mental e emocional, uma vez que as emoções e a cognição estão ligadas às conexões entre os neurônios. Hábitos de vida saudáveis associados a um sono regular, evitando estresse e ansiedade, são cuidados essenciais.

6) Pessoas que mantêm hábitos relacionados à atividade intelectual, como ler e estudar, têm menor predisposição a desenvolver demência. Verdade.

Manter vivo hábitos como ler e estudar parece estar relacionado a um menor risco de desenvolver demências ou, ao menos, de resistir aos sintomas em seu início. A principal hipótese para explicar o mecanismo é chamada de reserva cognitiva. Estudos indicam que, quem estimula o cérebro, tem mais conexões entre seus neurônios e maior capacidade de processamento da informação. Essa reserva seria fundamental diante da morte de neurônios ligada ao envelhecimento ou a doenças, suprindo a função que seria perdida normalmente.

7) A qualidade do sono é importante, porque o cérebro desliga e, assim, estaremos descansados para o dia seguinte. Mito.

O sono de qualidade é um dos principais elementos para manter a saúde do cérebro em dia. Porém enquanto dormimos, em vez de ‘desligar’, nosso cérebro inicia um dos seus momentos de maior atividade. Enquanto nossa consciência está ausente e sonhamos, os neurônios processam e arquivam as informações recebidas durante o dia. Além disso, acreditamos que boa parte da ‘limpeza’ de resíduos de atividade cerebral ocorra durante o sono. Esse trabalho noturno é o que assegura a qualidade e a ‘limpeza’, garantindo que o órgão esteja apto às atividades no próximo dia.

8) A prática de atividades físicas que desenvolvam a musculatura corporal também pode contribuir para o cérebro. Verdade.

Por mais estranho que pareça, é verdade. Diversas pesquisas apontam que a atividade física moderada está associada com menores índices de atrofia do cérebro. Ou seja: o cérebro de quem faz exercício físico pode ser maior em relação àqueles que não fazem. Pesquisadores acreditam que isso também signifique um risco menor de doenças neurodegenerativas.

9) Alimentação desregulada e excesso de álcool podem influenciar diretamente no envelhecimento do cérebro. Verdade.

O consumo excessivo de álcool, de açucares e alimentos processados em excesso pode influenciar o cérebro. Entre mudanças possíveis, estão: alterações na capacidade cognitiva em qualquer idade; aumento na atividade inflamatória, afetando especialmente, pessoas idosas. Pesquisas apontam que evitar alimentos do tipo em excesso pode preservar a estrutura e as funções cerebrais. No caso do álcool, especificamente, podem ocorrer alterações profundas nos neurotransmissores.

10) Suplementação com DHA (tipo de gordura da família do ômega 3) é essencial para prevenção do envelhecimento cerebral. Mito.

O DHA é um ácido-graxo que faz parte do chamado ômega 3, complexo de três tipos diferentes de substâncias muito importantes para o organismo. Pode ser obtido por meio do leite materno e de alimentos como óleos de peixes. Porém, a decisão de suplementar ou não DHA, além do que já é obtido naturalmente na alimentação, deve ser avaliada caso a caso, com orientação médica e nutricional. O DHA está presente em nosso corpo e é parte essencial do cérebro, mas ainda não está claro se consumi-lo pode ajudar no funcionamento do organismo. Como dito anteriormente, é importante ressaltar que também não existe, até o momento, uma forma de prevenir o envelhecimento do cérebro.