RÚSSIA

Putin diz que "traição" do Grupo Wagner é "facada nas costas" e cita ação da "máquina do Ocidente"

Presidente russo se pronunciou à nação após "rebelião armada" de grupo mercenário, que tomou as instalações militares da principal frente de batalha na guerra contra a Ucrânia e prometeu "punição inevitável".

Vladimir Putin em pronunciamento à nação após rebelião armada do Grupo Wagner.Créditos: Sputnik / Pavel Bednyakov
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Em pronunciamento à nação na manhã deste sábado (24), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, classificou como "facada nas costas do nosso país e do nosso povo" a ação do Grupo Wagner, principal agrupamento mercenário do Exército Russo, que iniciou uma rebelião armada contra o comando militar e assumiu o controle das instalações na cidade de Rostov-do-Don, onde se concentra as forças de combate na Guerra contra Ucrânia.

Putin citou primeiramente a "luta dificílima" contra a "máquina militar, econômica e informacional do Ocidente" e insinuou que o Grupo Wagner foi cooptado pelos "inimigos externos".

"Hoje a Rússia está conduzindo uma luta dificílima pelo seu futuro, repelindo a agressão dos neonazistas e seus patrões. Basicamente toda a máquina militar, econômica e informacional do Ocidente foi dirigida conta nós", disse o líder russo, referindo-se aos combates na região de Donbass, na Ucrânia, onde se situam diversas células neonazistas que foram liderados pelo Grupo Wagner.

"Esta batalha, quando o destino do povo está sendo decidido, requer a unidade de todas as forças, união, consolidação e responsabilidade. Quando tudo o que nos enfraquece deve ser posto de lado, qualquer briga que nossos inimigos externos possam usar para nos minar por dentro. E por isso, as ações que dividem nossa unidade são, de fato, apostasia de nosso povo, dos companheiros de armas que agora estão lutando na frente. Isto é uma facada nas costas do nosso país e do nosso povo", emendou Putin, segundo informações da agência russa Sputnik.

Putin ainda lembrou a I Guerra Mundial e a "tragédia da Guerra Civil", quando "russos matavam russos, irmãos matavam irmãos, enquanto lucros interesseiros eram obtidos por vários tipos de aventureiros políticos e forças estrangeiras, que dividiam o país".

Em seguida, ele se referiu à "traição" dos mercenário, até então símbolo de heroísmo na guerra contra a Ucrânia.

"Aquilo que enfrentamos é exatamente traição. Ambições excessivas e interesses pessoais levaram à traição. À traição ao seu país, ao seu povo e àquela causa pela qual os combatentes e comandantes do grupo Wagner lutaram e morreram lado a lado com as nossas outras unidades. Os heróis que libertaram Soledar e Artyomovsk, as cidades e os povoados de Donbass, lutaram e deram suas vidas pela Novorossiya, pela unidade do mundo russo. Seu nome e glória também foram traídos por aqueles que estão tentando organizar uma rebelião, empurrando o país para a anarquia e o fratricídio, rumo à derrota e, em última análise, à capitulação", disse o presidente, em duro pronunciamento, em que prometeu "punição inevitável" aos traidores.

"Todos aqueles que deliberadamente tomaram o caminho da traição, que prepararam uma insurreição armada, que tomaram o caminho da chantagem e dos métodos terroristas, sofrerão a punição inevitável, responderão tanto perante a lei quanto perante o nosso povo".

Putin ainda anunciou que as Forças Armadas e agências governamentais estão a caminho de Rostov-no-Don para desencadearem "ações resolutas para estabilizar a situação".

"Apelo ainda que aqueles que estão sendo arrastados para esse crime não cometam um erro fatal, trágico e irrepetível, que façam a única escolha certa, de parar de participar de ações criminosas. Acredito que preservaremos e defenderemos o que nos é caro e sagrado e, junto com nossa Pátria, superaremos todas as provações e nos tornaremos ainda mais fortes", concluiu.

Entenda

A rebelião armada do Grupo Mercenário Wagner, uma espécie de milícia que luta ao lado do Exército russo principalmente combatendo grupos neonazinas na região de Donbass, um dos principais alvos da disputa na Guerra contra a Ucrânia, começou depois que o líder dos mercenários, Yevgeny Prigojin, acusou o Exército da Rússia de bombardear suas bases próximas à linha de frente.

Nas primeiras horas deste sábado, Prigojin anunciou a tomada de instalações militares na cidade de Rostov-no-Don, onde está o quartel-general militar da ofensiva contra Kiev.

A rebelião armada acontece após uma série de críticas de Prigojin contra o governo russo, em especial contra o Ministério da Defesa, a quem culpa pelo grande número de baixas no campo de batalha.

Um dia antes de desencadear a rebelião, Prigojin criticou a invasão da região de Donbass- ex-República Soviética que busca se tornar independente da Ucrânia -, "perpetrada por uma elite corrupta em busca de dinheiro e glória sem se preocupar com a vida dos russos".

Prigojin ainda afirmou que Putin estava sendo enganado, mas mirou o presidente russo.

"A guerra não era necessária para devolver os cidadãos russos ao nosso seio, nem para desmilitarizar ou desnazificar a Ucrânia", disse em áudio divulgado no Telegram, referindo-se às justificativas iniciais de Putin para a guerra. "A guerra era necessária para que um bando de animais pudesse simplesmente experimentar a glória", continuou.

O Grupo Wagner é composto principalmente por combatentes veteramos e condenados recrutados por Prigojin em prisões russas.