ANÁLISE

Reginaldo Nasser: missão de Amorim mostra que Brasil não está alinhado à Rússia

Brasil condena a invasão à Ucrânia pela Rússia, mas ao mesmo tempo responsabiliza postura armamentista ocidental

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A missão do assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais e ex-chanceler, Celso Amorim, na Ucrânia, serve também para dirimir equívocos sobre a posição do Brasil no conflito. A avaliação é do professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser.

Nesta quarta-feira (10), Celso Amorim tem encontro com o presidente ucraniano em Kiev. O assessor especial deve discutir a criação de um "grupo da paz" para formular uma resolução para o conflito. Em abril, o governo brasileiro recebeu o chanceler russo Sergey Lavrov em Brasília, o que gerou críticas da Casa Branca, rapidamente ecoadas por parte da mídia tupiniquim. 

Segundo Nasser, há um erro de interpretação quando se diz que o Brasil está apenas se alinhando à Rússia. "As falas do presidente Lula, que serão levadas por Amorim, são muito apropriadas no sentido de responsabilizar ambos os lados do conflito, porque não se conhece nenhum acordo de paz, nenhum cessar-fogo que não admita responsabilidades compartilhadas. Se apenas uma das partes é considerada culpada, não há possibilidade de acordo, avalia.

O especialista em Relações Internacionais destaca o papel do Brasil no cenário internacional em relação às tentativas de resolução da guerra na Ucrânia. E critica algumas análises, que colocam o país alinhado à Rússia no conflito. “Acho que a viagem do presidente Lula a Portugal, a Espanha, agora a presença da coroação do rei, as conversas que têm tido com os estadistas europeus também estão desfazendo essas críticas mal fundamentadas de que o chamado Ocidente estaria insatisfeito ou teria represálias em relação a Lula, isso não é fato”, pondera.

De acordo com o professor Reginaldo Nasser, a viagem à Ucrânia é muito importante, uma vez que fecha o ciclo de diálogo, que iniciou com a Rússia e a China. “As conversas com a China já foram estabelecidas, e agora a Ucrânia, que é a outra parte envolvida, a nação agredida. Então é fundamental ter essa conversa”, analisa. Para Nasser, chama a atenção o papel da China também como mediadora do conflito. “A China está manifestando um perfil de diplomacia que até então não era muito conhecido e isso converge com o Brasil, que tem uma uma tradição nessa área”, conclui.

 

 

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