DIPLOMACIA

"Homem de Putin": analistas comentam visita de Lavrov a Lula

"Lavrov é um dos homens fortes de Putin", ressalta analista em entrevista ao Fórum Onze e Meia

O chanceler russo Sergei Lavrov.Créditos: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
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Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (17), o professor Gilberto Maringoni e o advogado Hugo Albuquerque comentaram a vinda do chanceler russo Sergei Lavrov ao Brasil após a visita de Lula à China.

No último fim de semana, Lula fez declarações fortes sobre a postura dos EUA e da União Europeia quanto à Guerra da Ucrânia. "A paz está muito difícil. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não toma iniciativa de paz, o [presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra", disse Lula, em coletiva de imprensa no fim de sua viagem aos Emirados Árabes Unidos.

As falas de Lula causaram celeuma em Washington e na imprensa brasileira. Com a chegada de Lavrov ao Brasil – e com o encontro marcado entre o presidente brasileiro e o chanceler russo –, mais debates sobre a postura geopolítica surgiram para o público.

Maringoni é professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC, e Albuquerque, editor da Autonomia Literária, mestre em direito pela PUC-SP, advogado e diretor do Instituto Humanidade, Direitos e Democracia.

Importância da visita de Lavrov

Albuquerque afirma que a presença de Sergei Lavrov tem que ser levada em consideração. “Tem que se entender quem é Lavrov. Ele é um dos homens fortes do Putin. O Lavrov é um codirigente do partido de Putin”, explica.

Ambos os analistas reconhecem que o momento é extremamente delicado e valorizam a atuação do presidente Lula em estabelecer diálogo com todas as partes do conflito.

Para eles, não se trata de um conflito entre Rússia e Ucrânia, mas entre o Kremlin e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). E, a partir disso, a postura de Lula incomoda.

“O Lula foi muito preciso em dizer que os EUA e a Europa precisam parar de incentivar a guerra. Essa guerra é muito maior do que Ucrânia e Rússia”, explica Maringoni. “É uma guerra entre Otan e Rússia”, completa Hugo.

Ambos os analistas enxergam que a postura de Lula corrobora a importância de uma posição pela paz. Eles exemplificam que o presidente francês Emmanuel Macron, por exemplo, já tem buscado uma postura de redução do conflito. Macron esteve em Pequim no início de abril a convite de Xi Jinping e pediu ao presidente chinês que ajudasse a pôr fim à guerra. "Sei que posso contar com você para trazer a Rússia de volta à razão e todos à mesa de negociações", disse o presidente francês a Xi. "Uma paz que respeite as fronteiras reconhecidas internacionalmente e que evite qualquer forma de escalada. E acredito que é uma questão importante também para a China, tanto quanto para a França e para a Europa. Esta paz, esta estabilidade, é o que estamos tentando alcançar."

Para Maringoni, existe uma superestimação sobre as falas do presidente. “Não é preciso fazer carnaval algum em cima disso. A direita espera essa contrariedade com Lula. As falas do Lula são muito menos radicais ou enfáticas do que as falas do Macron”, disse. “Isso tem que ser encarado com mais normalidade dentro de um país soberano”, completou.

Críticas ao Itamaraty

Para Maringoni, a visita de Celso Amorim ao presidente russo, em Moscou, em 4 de abril deste ano, mostra que o Ministério das Relações Exteriores está completamente fora do tom das necessidades do momento. 

“É uma política externa oscilante, de um amadorismo”, disse o professor. “O Celso Amorim é a palavra do Lula, nunca jamais seria o Mauro Vieira”, completa.

Mauro Vieira, em entrevista ao site Metrópoles, no final de março, afirmou que uma eventual visita de Putin ao Brasil poderia gerar "complicações": "Qualquer viagem, qualquer presença dele [Putin] em um país que seja membro do Tribunal Penal Internacional pode levar a complicações, eu não tenho dúvidas".

Na avaliação de Hugo, existe uma disparidade entre a Presidência da República – mais altiva e soberana – e o Ministério das Relações Exteriores. “O Itamaraty não existe para pensar política estratégica. O Itamaraty existe para executar a política estratégica definida pelo presidente da República”, disse.

“A corporação Itamaraty é um corpo profissional de alto nível, mas não é um corpo profissional preparado para a elaboração política que a gente precisa agora”, completou Maringoni.

Confira a entrevista completa de Maringoni e Albuquerque ao Fórum Onze e Meia: