VIAGEM À PORTUGAL

Na Europa, Lula ameniza o tom sobre Ucrânia, se explica, e fala em "sentar à mesa"

Petista deu declaração na China que gerou repúdio entre europeus e estadunidenses, que segundo ele "estimulariam a guerra". Nova fala baixou fervura e alinhou objetivos.

Lula e Marcelo Rebelo em Portugal.Créditos: Henrique Rodrigues / Fórum
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De Lisboa - Em meio às críticas pelas recentes declarações sobre a guerra na Ucrânia, na mesma semana em que recebeu no Brasil o chanceler russo Sergey Lavrov, Lula ameninou o tom sobre o conflito em pronunciamento ao lado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, na manhã deste sábado (22).

Em discurso lido, o presidente brasileiro reiterou as críticas à invasão do território ucraniano pela Rússia e exortou, mais uma vez, a constituição de um grupo de países para negociar a paz sentando com os dois países à mesa.

"Ao mesmo tempo em que meu governo condena a violação à integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política e negociada para o conflito. Precisamos criar urgentemente um grupo de países que tem que sentar-se à mesa tanto com a Ucrânia, quanto com a Rússia para encontrar a paz", disse.

Antes, falando de improviso diretamente aos olhos de Rebelo, Lula pediu a contribuição para a proposta brasileira de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, órgão que é desrespeitado pelos próprios membros permanentes - China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos -, que têm direito a veto.

"É preciso que a gente crie uma nova governança mundial e é por isso que o Brasil tem brigado muito para que a gente reveja, em especial, o Conselho de Segurança da ONU, dos membros permanentes. É preciso entrar mais países, continentes e reestabeler uma nova geografia, pois a geografia de 1945 [construída pós II Guerra Mundial] não é a mesma, os continentes e os países mudaram e a gente não pode continuar com os membros do conselho fazendo guerra. Eles são membros do Conselho e decidem fazer guerra sem consultar o conselho. Foram os EUA contra o Iraque, a Rússia contra a Ucrânia, a França e a Inglaterra contra a Líbia. Ou seja, eles mesmos desrespeitam o Conselho de Segurança e, por isso, precisamos tentar mudar. E o Brasil está brigando para convencer outros países para a gente ter uma ONU mais representativa, acabar com o direito de veto, para que a ONU possa fazer valer as decisões que a gente toma", afirmou o brasileiro.

Discurso de ódio

Lula ainda pediu a Rebelo ajuda para pôr fim ao discurso de ódio que se instalou na política há cerca de seis anos, principalmente propagado pelas big techs.

"Eu tenho 77 anos, nasci no fim da II Guerra Mundial, e não tinha visto ainda a política criar o clima de ódio que foi criado nos últimos 5 ou 6 anos, em que a indústria do fake news, em que esse mundo digital permite que com algoritmos se mexa com a cabeça do povo, se mude voto e que destrói quase 150 anos de democracia que foi construída a duras penas aqui na União Europeia e no mundo".

O presidente ainda chamou atenção para o que ocorreu no Brasil com o renascimento de um movimento claramente fascista.

"Sobretudo no Brasil, nós temos democracia há 30 anos agora, o período democrático mais longo, e estamos vivendo uma situação do renascimento do extremismo, um movimento declaradamente fascista, que nega tudo que é democracia".

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