ÍNDIA

Yoga de extrema direita? Conheça o Hindutva, o fascismo hinduísta que cresce na Índia

Tradicionalismo religioso e direita indiana se unem na Índia para eleições em 2024

Primeiro-ministro Narendra Modi pratica yogaCréditos: Indian Press Information Bureau
Escrito en GLOBAL el

Em abril de 2024, as maiores eleições do planeta devem acontecer na Índia. A maior democracia do planeta deve escolher seu próximo primeiro ministro, que deve governar o país por mais cinco anos.

A batalha está centrada entre Narendra Modi, atual primeiro-ministro de direita, ligado a movimentos de extrema direita como o Hindutva, e Rahul Gandhi, líder do Congresso Nacional Indiano, partido de centro-esquerda historicamente ligado a Mahatma e Indira Gandhi, e Jawaharlal Nehru.

Gandhi tem o apoio da minoria muçulmana do país - uma minoria do tamanho da população brasileira - e da esquerda do país, em especial no sul da Índia, em regiões como Telangana, Tamil Nadu, Karnataka, Bengaluru e Kerala, além dos votos de membros de castas e tribos reconhecidas pelo sistema de cotas indiano.

O problema é que a extensa maioria da população, concentrada em Maharashtra, Uttar Pradesh e Bihar, ao norte do país, vota massivamente no partido de Modi.

Mas o que isso tem a ver com yoga? Pois é: Modi detém a maioria dos votos nessas regiões por ser um tradicionalista religioso. E o Yoga é um símbolo de como religião e política podem se misturar na Índia.

A prática é conhecida no mundo todo como uma forma de ter mais paz, consciência corporal, força e autoconhecimento. Mas isso faz do yoga uma forma religiosa ou uma prática secular?

Para Modi, é um ato religioso. Fazer yoga é praticar o hinduismo. E praticar o yoga em público, com milhares de pessoas, como o atual primeiro-ministro faz, é como fazer um culto evangélico enquanto presidente do Brasil (te lembra alguém?).

O hindutva

O Bharatiya Janata Party, partido do atual primeiro ministro, possui uma ala radicalíssima chamada de Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), um grupo paramilitar de extrema direita que defende a expulsão dos muçulmanos do território indiano e a criação de uma teocracia hindu na Índia, também conhecido com ideologia Hindutva.

Marcha do RSS em Bhopal, na Índia

O movimento RSS tem forte poder na política indiana e conseguiu eleger deputados e prefeitos sob a legenda do BJP. O yoga é uma das armas pelas quais o movimento tenta arraigar filiados para sua ideia de que só há uma Índia, que ela é hinduísta e que uma teocracia deve ser instaurada.

Modi pode até não ser um hindutva e, desde 2014, tem tentado se equilibrar entre o centro e a extrema-direita da política indiana, fazendo acenos aos fascistas do seu partido, como a lei de cidadania. Em 2019, a administração Modi conseguiu a aprovação do projeto.

Segundo a lei, a religião se tornaria uma das bases para a concessão de cidadania de refugiados e imigrantes. A lei tem como objetivo acabar com os pedidos de asilo de imigrantes muçulmanos e trazer hindus de países de maioria muçulmana, como Bangladesh e Paquistão para o país.

É claro que o yoga, como prática, segue sendo importante para uma vida saudável e não é necessariamente relacionado ao hinduísmo (ainda mais o de extrema direita). Mas ele está sendo utilizado para enganar a população e levar a Índia a um caminho diferente do proposto por Gandhi, Nehru e Babasaheb.