Em entrevista ao programa Fórum Café desta segunda-feira (9), a socióloga e analista internacional Rita Coitinho explicou um pouco da questão que circunda o conflito entre o Hamas e Israel.
Rita Coitinho é socióloga, doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), integrante do Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e autora do livro "Entre duas Américas - EUA ou América Latina?".
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A estudiosa relembra que o conflito não começou nesta semana e defende que as mortes de palestinos vitimados desde a Nakba, em 1948, não sejam esquecidas.
"São 75 anos de massacre do povo palestino. E as pessoas esquecem disso de propósito, né? Então, eu estava acompanhando a Globo News e os canais de TV e fica parecendo que ali havia um estado harmonioso", questionou.
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Durante a conversa, a socióloga defendeu uma memória dos conflitos anteriores ao que ela chama de apartheid, afinal, os moradores da Faixa da Gaza e da Cisjordânia são segregados duramente pelo estado de Israel, vivem em estado de constante vigilância e não disfrutam de direitos em áreas colonizadas pelos israelenses.
Em Gaza, "vivem mais de 2 milhões de pessoas. O Netanyahu fez uma ameaça esse final de semana, dizendo que eles fugissem de lá, porque haveria um banho de sangue. Essas 2 milhões de pessoas não têm como fugir da Faixa de Gaza, eles estão presos lá", explicou a pesquisadora.
"Por quê? Porque a imigração de lá é impossível. Eles não têm como sair de lá. Há cercas para todos os lugares, há policiamento. Essas pessoas estão encerradas ali. O fornecimento de água é precário. Eles dependem muito do Estado de Israel. Há, já há alguns anos, sucessivas invasões de áreas onde vivem palestinos, com destruição das casas e estabelecimento de assentamentos", afirma a socióloga.
Para ela, a reação do Hamas é uma resposta direta aos ataques contínuos de Israel contra a população palestina. Ele relembrou que dezenas de civis palestinos morreram desde o início do ano, mas não foram lembrados pela mídia ocidental.
"Eu acho que as mortes de civis devem ser sempre lamentadas, de lado a lado. A gente nunca deve comemorar a morte de civis, mas a gente precisa ter um olhar científico sobre o processo. Por que esses civis estão morrendo? Os civis morrem todos os dias na Palestina, em decorrência do apartheid em que eles vivem", afirmou.
Então, é esse tipo de confronto, confronto de crianças, adolescentes, mulheres e homens sem armas, ou com poucas armas, contra um dos exércitos mais bem equipados do mundo. É realmente uma situação de desespero.
Ela deixa claro que a maior parte da população palestina defende a solução de dois estados. "São 75 anos de cerco, 75 anos de massacres recorrentes, e nos últimos anos, agora, principalmente do ano passado para cá, há uma ascensão ainda maior de ataques a essas áreas para a criação de novos assentamentos ilegais", disse Coitinho.
A resposta militar iniciada pelo Hamas e apoiada pelo Hezbollah se tornou uma forma de resposta e resistência após anos de violências, afirma a pesquisadora.
"Então, há ali, de fato, uma espécie de decisão do povo palestino de dar basta e partir para o confronto militar. E aí esses foguetes que começaram a ser lançados na sexta-feira, a invasão, a derrubada da cerca e a entrada de pessoas, de palestinos para o lado de Israel, a tomada de reféns, enfim, tudo isso está vinculado a essa resistência, a essa luta", completou.
"E o que os palestinos querem? Eles querem território, eles querem o fim dos assentamentos ilegais e querem a criação do Estado palestino. Há palestinos que defendem o fim do Estado de Israel, mas a gente concorda que hoje, na situação em que nós estamos, essa seria uma solução que não é possível", afirma a membra do Cebrapaz.
Confira a entrevista completa de Rita Coitinho ao Fórum Café desta segunda-feira (9):