Funcionários do Departamento de Estado dos EUA, o 'Itamaraty' de Washington, estão se revoltando contra a política externa do presidente Joe Biden e do secretário Anthony Blinken. Segundo o Huffington Post, jornal ligado ao partido democrata estadunidense, os trabalhadores da carreira se revoltam por conta da postura conivente do governo Biden diante da violência israelense contra os palestinos
Na noite desta quinta-feira (19), Joe Biden fez um discurso em rede nacional pedindo que os americanos o apoiem em seu novo pacote de guerras: ele quer apoio militar para Israel, para a Ucrânia, e apoio humanitário para Gaza.
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Na quarta-feira (18), a embaixadora dos EUA no ONU vetou a proposta brasileira de pausas humanitárias por não citar "o direito de auto-defesa de Israel" e, dias antes, havia rejeitado a proposta russa que falava em cessar-fogo entre Hamas e Tel Aviv.
No mesmo dia, Biden estava na capital israelense dando suporte intenso ao governo Netanyahu, inclusive prometendo um pacotão de apoio militar para a extrema-direita do país.
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"Há basicamente um motim fermentando dentro do Estado em todos os níveis", disse um funcionário do Departamento de Estado à publicação.
O apoio incondicional de Biden aos israelenses tem causado desconforto em uma boa parte do serviço diplomático americano.
Segundo o Huffington Post, em uma reunião, um gestor disse à sua equipe que "sabia que os funcionários com vasta experiência internacional estão insatisfeitos com o plano de Biden pela sensação de que os EUA pouco farão para restringir Israel", "mas que têm poucas hipóteses de mudar"
Os dilemas de Biden
Além dos funcionários do departamento de Estado, Biden têm duas barreiras: a política e a econômica.
Ano que vem tem eleições e criticar Israel faria com que Biden perdesse parte de seu apoio de algumas elites sionistas que financiam sua campanha, bem como de eleitores judeus, em especial nas grandes cidades do país. Por outro lado, o apoio ao genocídio podia causar desconforto entre árabes e muçulmanos (inclusive na comunidade negra e da diáspora paquistanesa), o que pode limitar também os seus votos.
Além disso, a Câmara dos Representantes está totalmente parada por não ter um presidente da casa, após a deposição do republicano Kevin McCarthy. Recentemente, a casa aumentou uma lei que permitia Biden a gastar mais e endividar mais os EUA, travando uma luta política intensa para conseguir o apoio para financiar seu governo.
Após conseguir a expansão do déficit, Biden vai investir seus novos recursos em... armas?
Se a popularidade do presidente já era baixa e se o discurso sobre o complexo militar-industrial já se tornou mainstream nos EUA, Biden se enfia em uma sinuca de bico: sem ajudar Israel, perde apoio entre os sionistas. Caso ajude, ganha uma dor de cabeça com uma parte do eleitorado. Perde a pecha de "pacifista" que tentava administrar desde o fim do Afeganistão e início da guerra da Ucrânia.
Um provável insucesso entrega de bandeja dois conflitos mal resolvidos - Ucrânia e Israel - para que seu adversário, Trump, o esgote durante a campanha. Com mais gastos para a Ucrânia, perde apoio popular entre parte da população, que quer saúde pública e menos guerras. Sem gastos para a Ucrânia, perde apoio internacional e faz o jogo dos republicanos mais radicais que querem o fim do apoio a Zelensky.
Quais serão as escolhas de Biden? Se seguir o ritmo de sua política externa até o momento: deve apostar nos erros mais óbvios, com mais armas e mais guerras para tentar reduzir sua rejeição, que está em 54%. É uma missão difícil, quase impossível.