DIPLOMACIA

Lula se pronuncia sobre ataque contra hospital em Gaza: "inocentes não podem pagar"

Prestes a votar resolução de paz na ONU, presidente mantém equidistância e não condena nenhum envolvido

Lula e Itamaraty tentam resolução que agrade todas as grandes potências na ONUCréditos: Ricardo Stuckert / PR
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Horas antes da votação da resolução brasileira sobre o conflito entre Israel e Palestina no Conselho de Segurança da ONU, o presidente Lula se pronunciou sobre o ataque contra o hospital em Gaza que deixou pelo menos 471 mortos.

Enquanto a inteligência egípcia afirma que o ataque foi comandado por Israel, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu tenta jogar a responsabilidade do crime de guerra para a Jihad Islâmica Palestina.

Lula, que tem adotado uma posição de neutralidade e tentado dialogar com diversos entes envolvidos no conflito, não condenou nem Israel, nem os militantes palestinos.

"O ataque ao Hospital Baptista Al-Ahli é uma tragédia injustificável. Guerras não fazem nenhum sentido. Vidas perdidas para sempre. Hospitais, casas, escolas, construídas com tanto sacrifício destruídas em instantes. Refaço este apelo. Os inocentes não podem pagar pela insanidade da guerra", disse o presidente através do X, antigo Twitter.

Veja a postagem:

Resolução do Brasil na ONU

Nesta quarta-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) deve votar a resolução de paz sobre o conflito Israel-Gaza proposta pelo Brasil, que ocupa a presidência rotativa do órgão.

Lula em discurso na Assembleia Geral da ONU de 2023 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Uma resolução russa que propunha o cessar-fogo foi vetada pela França, Reino Unido e Estados Unidos, além de ter recebido voto contrário do Japão.

Agora, o Brasil tenta passar uma resolução que tenha consenso da Rússia e dos EUA, além de outros países com poder de veto do CSNU.

A resolução brasileira não pede cessar-fogo, apenas "pausas humanitárias" e a criação de corredores para fuga de moradores de Gaza da região.

Além disso, o governo brasileiro também pede a revogação imediata da ordem de evacuação das áreas ao norte da Faixa de Gaza

A proposta condena os "ataques terrorista do Hamas" e não faz menção aos crimes de guerra cometidos por Israel ao longo da guerra, como o bombardeio a escolas e a alvos civis dentro de Gaza.

A resolução brasileira é considerada amena. "O Brasil faz um texto menos contundente buscando ter o apoio das potências que têm assento permanente no Conselho de Segurança", explica Rita Coitinho, socióloga, doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e integrante do Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) à Revista Fórum.

"A diplomacia brasileira faz um recuo no sentido das posições históricas do Brasil em relação à liberdade da Palestina e à solução dos dois Estados, para tentar encampar uma resolução minimamente razoável, vamos dizer assim, em favor dos civis envolvidos no conflito", completa.

Contudo, o risco da resolução brasileira não ser aprovada parte de um eventual veto russo ao texto do Itamaraty. A diplomacia russa fez uma emenda ao texto do Brasil para condenar os ataques a civis, citando nominalmente o atentado contra o Hospital de Al Ahli, que deixou 471 mortos em Gaza.

"É praticamente impossível que o texto seja aprovado por todos os membros permanentes do Conselho com essa emenda da Rússia. E sem a emenda, pode ser que a gente tenha daí, dessa vez, um veto da Rússia, ao invés do veto da França, da Inglaterra e dos Estados Unidos", explica Coitinho.

Além disso, mesmo uma eventual resolução aprovada não significaria que ela fosse respeitada por Israel. Desde 1948, o país mantém um histórico de desrespeito contra as decisões do CSNU.

"Eu acho muito pouco provável que a gente tenha uma resolução desse conflito no curto prazo. Me parece que o Israel e os Estados Unidos têm interesse no escalonamento do conflito. Espero estar errada e espero que a gente possa chegar a um acordo para que os civis sejam poupados nessa nova intensificação dos bombardeios de Israel na Faixa de Gaza", completa a analista.