Um perfil no X (antigo Twitter) atribuído à boxeadora argelina Imane Khelif deu um aviso aos responsáveis pela horrenda campanha de ódio da qual é alvo pelas redes sociais. No recado enviado pelas redes sociais neste sábado (3), a postagem afirma que vai acusar todos que a ofenderam, incluindo o bilionário Elon Musk e a rede de televisão dos EUA ligada à extrema direita, Fox News.
No domingo (4), no entanto, a conta foi identificada como falsa. Vários veículos de imprensa, inclusive a Fórum, noticiaram a postagem. Trata-se de um equívoco, sem a intenção de prejudicar outras pessoas. No entanto, fica o registro do erro e nosso sincero pedido de desculpas.
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O fato de o comentário ter sido feito por uma conta falsa, no entanto, não altera a questão principal desse episódio: a transfobia e a misoginia contra a atleta.
Na última quinta-feira (1), durante a luta de boxe entre Imane e Angela Carini (Itália) que durou 46 segundos, pois a italiana desistiu da luta, foi deflagrada uma onda de discurso de ódio contra atletas transexuais contra a argelina, que é uma mulher cisgênero.
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A conta falsa faz um apelo contundente e apropriado aos apoiadores da atleta.
"Preciso que vocês hoje fiquem do meu lado e me apoiem de todas as formas possíveis. Pretendo realizar campanhas de acusação contra todos aqueles que tentaram me ofender, incluindo Elon Musk, Fox News e outros. Não pouparei ninguém", escreveu.
O comentário da conta identificada como falsa e equivocadamente atribuída à atleta do Time da Argélia nas Olimpíadas Paris 2024 escreveu o comentário ao compartilhar mais um ataque de Musk, que por sua vez compartilhou uma postagem transfóbica da ex-nadadora Riley Gaines, famosa por atuar contra a participação de mulheres trans em competições femininas.
"Homens não pertencem aos esportes femininos #EuApoioAngelaCarini. Vamos fazer isso viralizar", postou.
A conta falsa também compartilhou também foto de quando Imane tinha 13 anos e agradeceu o apoio de internautas.
Pai da atleta de pronuncia
O pai da boxeadora argelina, Omar Khelif, em declaração feita à AFP neste domingo, falou sobre a polêmica sobre o gênero da filha.
"Minha filha é uma menina. Nós a criamos como uma menina. É uma menina forte. Eu a eduquei para que trabalhasse e fosse corajosa. Ela tem uma força de vontade para o trabalho e para o treino. Sua paixão pelo esporte vem desde pequena. Ela era sempre a melhor em todos os outros esportes, no atletismo e no futebol", concluiu.
A entrevista foi concedida à AFP na casa da família em um humilde vilarejo rural localizado a dez quilômetros da cidade de Tiaret, a maior da Argélia.
Após garantir a medalha de bronze ao vencer a húngara Anna Luca Hamori pelas quartas de final da categoria até 66kg no domingo, Imane voltou a afirmar que é uma mulher cisgênero.
"Quero dizer ao mundo inteiro que sou mulher e continuarei mulher. Eu dedico esta medalha ao mundo e a todos os árabes, e digo a vocês, vida longa à Argélia."
A boxeadora argelina ainda luta por uma vaga na final nesta terça-feira (6) quando enfrentará a tailandesa Janjaem Suwwannapheng a partir das 17h34 (horário de Brasília).
Perfil verdadeiro
O perfil verdadeiro de Imane Khelif no X foi criado em maio de 2022 e tem como última postagem uma foto publicada no último sábado (3). Não há menção sobre a onda de ódio contra a atleta.
Na legenda da foto em que aparece no ringue de competição, uma mensagem religiosa:
"Em nome de Deus e louvado seja Deus."
Entenda a fake news
A mentira de que Imane Khelif seria uma mulher trans começou antes da luta, durante uma entrevista de uma ministra do governo de Giorgia Meloni, a responsável pela pasta da Família, Eugenia Roccella, que acusou a atleta argelina de "se disfarçar de mulher".
O Comitê Olímpico Internacional (COI) informou que todas as atletas apresentam condições médicas aplicáveis de acordo com as regras da Unidade de Boxe de Paris e, no site oficial das Olimpíadas de Paris, Imane Khelif está registrada como mulher.
Após a luta, o bom senso e a civilidade se perderam e o dique do discurso de ódio na internet rompeu. Apesar dos fatos, a fake news prevaleceu. Uma das pessoas que contribuiu para isso foi a escritora J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, que fez um ataque abjeto contra a boxeadora argelina, classificando-a como "homem malicioso".
Diante dos ataques contra Khelif, o COI se manifestou em sua defesa. O Comitê afirmou que tomou conhecimento de "informações enganosas sobre duas atletas femininas competindo nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. As duas atletas competem em competições internacionais de boxe há muitos anos na categoria feminina, incluindo os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, o Campeonato Mundial da Associação Internacional de Boxe (IBA) e torneios sancionados pela IBA".
* Errata: A matéria foi atualizada dia 5/8/24 para esclarecer que o perfil da atleta que deu o aviso a Elon Musk e Fox News foi identificado como falso.