CORINTHIANS

Luxemburgo: Manicure quebra o silêncio sobre acusação de assédio de 1996

Mulher afirma que precisou mudar de cidade devido a ameaças que teriam começado após denúncia; Treinador foi absolvido em duas instâncias na Justiça

Vanderlei Luxemburgo, técnico do Corinthians.Manicure quebra o silêncio sobre acusação de assédio de 1996Créditos: Reprodução / Corinthians TV
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O técnico Vanderlei Luxemburgo estreia na noite desta terça-feira (2) no comando do Corinthians em partida válida pela terceira rodada da fase de grupos da Copa Libertadores da América contra o Independiente del Valle, forte equipe do Equador e atual campeão da Copa Sul-Americana. O Timão precisa vencer em Itaquera para seguir vivo na competição, uma vez que na última rodada perdeu, também em casa, para o Argentinos Jrs. Mas apesar da questão esportiva que é vista com entusiasmo internamente, a chegada de Luxa ao clube reavivou um antigo caso de assédio contra uma manicure, do qual o treinador foi acusado em 1996 quando dirigia o histórico Palmeiras que marcou 102 gols no Campeonato Paulista.

O caso volta à tona justamente por conta da crise que levou à demissão precoce do ex-treinador do clube, Cuca. Acusado de estuprar uma jovem em Berna, na Suíça, em 1987, quando ainda era jogador do Grêmio, Cuca foi condenado dois anos depois mas não retornou ao país europeu para cumprir sua pena. O caso revoltou amplos setores da torcida corintiana e da imprensa, uma vez que o próprio Cuca jamais fez uma mea-culpa ou buscou se retratar, de alguma maneira, sobre o episódio. Após forte pressão, o treinador foi demitido e dias depois Luxa reassumiu o Timão pela terceira vez.

O novo técnico nem estreou e o caso em que foi acusado de forçar uma relação sexual contra uma manicure que o atendia em Campinas (SP) retornou às páginas dos jornais. Nesta terça-feira (2), a CNN Brasil publicou uma matéria em que ouviu a ex-manicura Cláudia Laudineide Machado Cavalcante.

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“É difícil falar sobre isso. Já no primeiro momento ele tentou avançar, bateu a porta e o resto não dá para falar. Teve tudo, menos penetração. Fui colocada contra a parede”, relatou.

Naquela tarde de maio de 1996, Cláudia foi contratada para fazer as unhas de Luxemburgo no quarto de hotel em que estava hospedado. O salão em que trabalhava tinha uma parceria com o hotel e era comum que seus profissionais fossem chamados para atender hóspedes.

Ela conta foi recebida por um Vanderlei que vestia apenas toalhas e a todo momento estaria lhe mostrando as genitálias. Cláudia contou que gritou muito após as investidas do treinador e os dois seguranças que estavam na porta do quarto só a deixaram sair devido a sua forte resistência. “Tinham dois seguranças na porta e eu não pude sair. Chamei, chamei e gritei muito. Só assim me deixaram ir embora”, contou.

A manicure também contou que após o episódio ninguém acreditava na sua história. Além disso, sua vida teria virado um inferno após denunciar o treinador. Primeiro na Justiça: “Ele tinha quatro advogados grandes e graúdos. E eu estava com um que não fez nada por mim”, declarou. Mesmo tendo a denúncia aceita na Justiça, posteriormente Luxemburgo foi absolvido em duas instâncias. O treinador não comentou o caso com a imprensa nesta nova oportunidade.

O que saiu na imprensa

Uma matéria sobre o caso foi publicada na Folha de São Paulo em 18 de maio de 1996. A reportagem, intitulada “Esporte convive com acusações de assédio", matéria de capa, narrou o episódio.

Luxemburgo teria tentado forçar uma relação sexual com a manicure após ser atendido. “Quando estiquei a mão para dar boa noite, ele me puxou e começou a beijar o meu pescoço e enfiar a língua na minha orelha (…) Até agora sinto o cheiro daquele homem e tenho nojo”, declarou à época.

Na matéria, Cláudia descreveu o desespero que passa na cabeça de uma mulher no momento em que percebe que pode ser vítima de uma agressão sexual.

Posteriormente a indústria pornográfica explorou o lamentável caso, produzindo um filme que se chamou “Vanderburgo e a manicure”.

A manicure

Cláudia hoje vive em uma pequena cidade do interior de São Paulo a mais de 300 quilômetros de distância de Campinas, onde ocorreu o episódio. Ela diz que teve de deixar a antiga cidade após denunciar o caso e sofrer perseguição. “Torcedores queriam me linchar. Ele estava no auge e eu tive que sumir de Campinas”, declarou.

A ex-manicure também afirma que perdeu o emprego após ser completamente descreditada quando fez a denúncia. Além disso, acusa o treinador de ter subornado possíveis testemunhas que validariam sua versão dos fatos. “Ele comprou todo mundo, ele tinha uma mala de dinheiro. Comprou a recepcionista do hotel e o motorista de táxi que levou embora”.

Atualmente ela sofre de forte depressão e alega que tem de tomar remédios por conta do ocorrido naquela data. Com problemas de saúde mental, vive ao lado de um novo companheiro que a ajuda, uma vez que nunca mais conseguiu voltar ao trabalho. “Estou nessa situação por causa do Luxemburgo”, concluiu.

Relembre a trajetória de Luxemburgo no futebol

Vanderlei Luxemburgo começou sua trajetória como lateral esquerdo ainda em 1971, no Flamengo, onde ficou até 1978. Passou meio apagado pelo período, não por demérito próprio, mas por ter sido o reserva de um dos maiores laterais esquerdos da história do futebol brasileiro, o craque Júnior – que também ficou famoso, após aposentado, como um “Pelé” do futebol de areia.

Em 1978, Luxa teve uma rápida passagem pelo Internacional e nos dois anos seguintes encerrou sua carreira atuando pelo Botafogo, após sofrer uma grave lesão no joelho.

Logo da aposentadoria como jogador, cursou Educação Física na Universidade Castelo Branco, graduando-se em 1983. Nos primeiros anos como treinador, comandou Campo Grande (RJ), América (RJ), Vasco da Gama, Rio Branco (ES), Friburguense (RJ), Al Ittihad (Arábia Saudita), Democrata (MG), Fluminense e Al-Shabab (Emirados Árabes), até chegar ao Bragantino, em 1989, onde ganhou notoriedade.

Pelo Leão de Bragança Paulista, foi campeão da Série B do Campeonato Brasileiro em 1989 e do Paulistão em 1990. No mesmo ano, foi vice-campeão brasileiro da Série A, tendo perdido a final para o São Paulo.

Luxa logo foi chamado para o Flamengo, onde permaneceu durante o ano de 1991. Antes de chegar ao Palmeiras, em 1993, teve passagens por Guarani e Ponte Preta. No Verdão, comandou o timaço de 1993 e 1994 que venceu dois Campeonatos Paulistas, dois Campeonatos Brasileiros e um Torneio Rio-São Paulo. As conquistas, em um Palmeiras que não levanta taças desde 1976, fizeram com que o treinador até hoje seja considerado um ídolo do clube.

O treinador saiu do Palmeiras em 1994 e teve passagens em Flamengo e Paraná até retornar do Alviverde e ser o comandante do histórico time de 1996, que faturou o Paulistão com uma campanha quase perfeita, em que a equipe marcou 102 gols.

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Luxa saiu do Palmeiras e, após uma temporada no Santos em que conquistou o Torneio Rio-São Paulo, chegou ao Corinthians, onde montou um timaço com Rincón, Vampeta, Marcelinho e Edílson, venceu o Campeonato Brasileiro e foi chamado para a Seleção Brasileira no ano seguinte. Na seleção, venceu a Copa América de 1999 mas acabou demitido após ser eliminado por Camarões nas Olimpíadas de 2000. De volta ao Corinthians, em 2001, foi campeão paulista.

O treinador teve uma péssima terceira passagem no Palmeiras em 2002 e logo se transferiu para o Cruzeiro. Na Raposa, montou outro timaço e faturou todos os campeonatos de 2003: Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, de volta ao Santos, foi novamente campeão brasileiro.

Em 2005 passou o ano treinando o Real Madrid. Muito criticado, entrou em conflito com os medalhões galáticos, liderados por ninguém menos que Zinedine Zidane e, após deixar o Real, nunca mais foi o mesmo.

Em 2006 e 2007 foi Campeão Paulista pelo Santos. Em 2008, repetiu a dose pelo Palmeiras. Depois dessa fase, as coisas começaram a ficar mais complicadas para sua carreira vitoriosa. Treinou em seguida Santos, Flamengo, Grêmio, Fluminense, Cruzeiro e Tianjin Quanjian, até chegar ao Sport, em 2017, quando foi campeão pernambucano.

Após passagem pelo Vasco da Gama, em 2019, na qual fez um bom trabalho sem títulos, voltou ao Palmeiras em 2020, onde foi campeão paulista mais uma vez. Sua saída deu lugar à chegada do português Abel Ferreira. De lá pra cá, teve novas passagens por Vasco e Cruzeiro, antes de chegar ao Corinthians.

Ao todo, Luxa acumula 5 títulos do Campeonato Brasileiro, 14 estaduais, uma Copa do Brasil pelo Cruzeiro e uma Copa América pela Seleção Brasileira, além de outros troféus.