Repórteres do Globo Esporte foram à Berna, na Suíça, onde em 1987 quatro jogadores do Grêmio – entre eles o técnico Cuca, que acaba de ser demitido do Corinthians – foram presos pelo estupro uma adolescente de 13 anos. Lá, conseguiram da diretora do Arquivo de Berna, a autorização para visualizar trechos do processo, e, nesta sexta-feira (29), publicaram uma reportagem na qual confirmam um detalhe que reafirma as acusações e incrimina o treinador.
O processo conta com 1023 páginas. Em uma delas, a justiça confirma que, de fato, foi encontrado o sêmen de Cuca na vítima.
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Barbara Studer, a diretora do Arquivo de Berna, leu o processo para os repórteres mas não os deixou obter uma cópia, uma vez que está em sigilo de 110 anos. No entanto, foi convencida a mostrar tal página, que leva o número 915, e assim ficou confirmada a informação.
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Na mesma página começa a descrição da sentença dada pelo Tribunal de Berna dois anos depois, em 15 de agosto de 1989.
Além da presença do sêmen de Cuca, Studer também confirmou que a vítima tentou o suicídio e apontou que a informação consta em matérias de jornal da Suíça publicadas à época.
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Cuca se explica na coletiva
A informação vai de encontro ao que Cuca afirmou logo que assumiu o comando técnico do Corinthians. Na ocasião, contestou as acusações: “Sou uma pessoa do bem, vivo numa família de mulheres, 90% da minha família são mulheres. Esse episódio de 1987 precisa ser explicado. Eu estava no Grêmio havia duas ou três semanas apenas, não conhecia ninguém. Eu jamais toquei numa mulher indevidamente ou inadequadamente. Sou um cara de cabeça e consciência tranquilas. Tenho a consciência tranquila”, ressaltou o técnico.
Advogado da vítima de acordo com o que diz o documento
Por outro lado, o advogado Willi Egloff, que representou a vítima, já havia revelado tal informação. Na ocasião, rebateu as declarações de Cuca, de que não foi reconhecido e jamais teria tocado a menina.
“A declaração do Alexi Stival [Cuca] é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor”, declarou o advogado que à época foi contratado pela família da vítima, tendo sido uma das poucas pessoas que teve acesso aos autos do processo.
Ao jornal Der Bund, da própria cidade de Berna, Egloff também afirmou que um exame realizado pelo Instituto de Medicina Legal da Universidade de Berna encontrou o sêmen do então jogador do Grêmio – e atual treinador do Corinthians – na vítima. Também confirmou que a adolescente tentou o suicídio após o estupro. O processo foi concluído em 1989 com a condenação dos quatro jogadores envolvidos.
O Escândalo de Berna
Em março de 2021, depois de mais de três décadas de silêncio, Cuca resolveu falar sobre a questão polêmica, conhecida como o “escândalo de Berna”, em entrevista exclusiva para Marília Ruiz, colunista do UOL.
“Eu preciso dar um basta nisso. Claro que essa história me incomoda demais. Não posso virar bandido depois de 34 anos. Resolvi juntar minha mulher e minhas duas filhas para falar desse caso de 12.400 dias atrás porque sou inocente”, declarou o técnico.
“Não fui julgado e culpado. Fui julgado à revelia, não estava mais no Grêmio quando houve esse julgamento com os outros rapazes. É uma coisa que eu tenho uma lembrança muito vaga, até porque não houve nada. Não houve estupro como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto. Simplesmente isso. Não houve abuso sexual, [não houve] tentativa de abuso ou coisa assim”, garantiu
Em julho de 1987, o então atacante Cuca, o ex-goleiro Eduardo, o ex-zagueiro Henrique e o ex-atacante Fernando foram presos em um hotel suíço. A acusação? Violência sexual contra pessoa vulnerável, que era uma adolescente de 13 anos. A menina foi ao hotel pedir camisetas aos jogadores e acabou tragada ao quarto dos astros, onde o crime ocorreu.
Os quatro ficaram cerca de um mês presos no país europeu. Após intervenção diplomática, todos acabaram libertados e retornaram ao Brasil. Porém, dois anos depois, foram julgados e condenados - não à revelia como Cuca afirmou, mas defendidos por advogado contratado pelo Grêmio. Para Cuca, a pena foi de 15 meses de detenção, que prescreveu antes de ser cumprida.