O advogado Luiz Carlos Silveira Martins, conhecido como Cacalo, que fez a defesa do técnico Cuca e de outros três jogadores acusados de estupro de uma menina de 13 anos durante uma excursão do time na Suíça, em 1987, afirmou em entrevista ao Globo, publicada nesta sexta-feira (26), que se fosse hoje o caso seria tratado como “estupro”.
“Não podemos analisar (com os olhos de) hoje. Estou analisando o que houve naquela época. Hoje é uma situação totalmente diferente. Hoje acho que seria estupro, vou te dizer assim. Mas, naquela época, nem na Suíça, que é radical em relação a isso, houve a condenação neste sentido”, disse.
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O caso, cujos protagonistas foram Eduardo, Fernando, Henrique e Cuca, ficou conhecido como "escândalo de Berna" (leia mais abaixo), provocou a demissão do técnico Cuca do comando do Corinthians.
Cacalo fez o comentário após declaração que Willi Egloff, advogado da vítima, deu ao UOL, confirmando a notícia, publicada em 1989 pelo jornal suíço Der Bund, de que o relatório forense apontou vestígios do sêmen de Cuca no corpo da menina e que ela reconheceu o então jogador.
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“Ele pode ter dito coisas que eu não tinha visto”, disse Cacalo. “Como, por exemplo, que foi encontrado sêmen do Cuca. Não tive conhecimento disso. Eu não vi esse laudo, nada do que ele diz. Mas pode ter acontecido? Pode. E eu é que não vi.”
Cacalo conseguiu na época a soltura dos quatro jogadores, preparou a defesa e os representou no julgamento. “Houve relação com a menina. Mas não houve estupro. Houve contato. E eles não foram condenados por estupro. Os elementos para a condenação foram: botaram uma menina para dentro do quarto. Um manteve relação, o outro não manteve, e a informação que obtive na época foi de que ela foi consensual. Mas depois a menina quis sair. E aí não saiu. Porque eu não sei”, disse.
“Não percebi na instrução do processo e em todo o tempo que estive lá qualquer evidência de agressão física. A relação sexual que tomei conhecimento na época foi consensual. Claro que depois houve a tentativa dela de sair, alguém não deixou, chegou gente de fora... Não posso dar detalhes porque não estava lá também. Mas bolacha na cara, soco para obrigá-la a transar, isso não houve. Aí você vai me perguntar: por que eles foram condenados então? Porque na Suíça, no Brasil e em qualquer lugar pegar uma menina de 13 anos e tentar ou ter relação com ela não é permitido”, ressaltou.
O Escândalo de Berna
Em março de 2021, depois de mais de três décadas de silêncio, Cuca resolveu falar sobre a questão polêmica, conhecida como o “escândalo de Berna”, em entrevista exclusiva para Marília Ruiz, colunista do UOL.
“Eu preciso dar um basta nisso. Claro que essa história me incomoda demais. Não posso virar bandido depois de 34 anos. Resolvi juntar minha mulher e minhas duas filhas para falar desse caso de 12.400 dias atrás porque sou inocente”, declarou o técnico.
“Não fui julgado e culpado. Fui julgado à revelia, não estava mais no Grêmio quando houve esse julgamento com os outros rapazes. É uma coisa que eu tenho uma lembrança muito vaga, até porque não houve nada. Não houve estupro como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto. Simplesmente isso. Não houve abuso sexual, [não houve] tentativa de abuso ou coisa assim”, garantiu
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Em julho de 1987, o então atacante Cuca, o ex-goleiro Eduardo, o ex-zagueiro Henrique e o ex-atacante Fernando foram presos em um hotel suíço. A acusação? Violência sexual contra pessoa vulnerável, que era uma adolescente de 13 anos. A menina foi ao hotel pedir camisetas aos jogadores e acabou tragada ao quarto dos astros, onde o crime ocorreu.
Os quatro ficaram cerca de um mês presos no país europeu. Após intervenção diplomática, todos acabaram libertados e retornaram ao Brasil. Porém, dois anos depois, foram julgados e condenados - não à revelia como Cuca afirmou, mas defendidos por advogado contratado pelo Grêmio. Para Cuca, a pena foi de 15 meses de detenção, que prescreveu antes de ser cumprida.
Cuca se explica na coletiva
Logo que assumiu o comando técnico do Corinthians, Cuca contestou as acusações: “Sou uma pessoa do bem, vivo numa família de mulheres, 90% da minha família são mulheres. Esse episódio de 1987 precisa ser explicado. Eu estava no Grêmio havia duas ou três semanas apenas, não conhecia ninguém. Eu jamais toquei numa mulher indevidamente ou inadequadamente. Sou um cara de cabeça e consciência tranquilas. Tenho a consciência tranquila”, ressaltou o técnico.
Para relembrar a entrevista, já que o tema voltou à tona com o anúncio da contratação de Cuca pelo Corinthians, Marília fez uma postagem sobre o caso.
“No mundo que ignora o que diz a vítima, eu leio, apuro e relato: ela nunca reconheceu Cuca como agressor. Eu não estava lá, mas considero o testemunho dela, apesar de o julgamento à revelia ter condenado Cuca e outros jogadores há 36 anos”, tuitou.