REPERCUSSÃO

Corinthians: Cuca se diz vítima de “massacre”, mas organizadas aprovam demissão

O técnico ficou somente dois jogos no comando do time, sob forte pressão pela condenação por estupro, em 1989, na Suíça

Cuca teve passagem rápida pelo Corinthians.Créditos: Divulgação
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Durou apenas duas partidas a trajetória de Cuca como técnico do Corinthians. Condenado por estupro, na Suíça, em 1989, quando era jogador do Grêmio, o treinador não suportou a pressão da torcida, que reagiu contrariamente à contratação.

Após a vitória do Corinthians contra o Remo, pela Copa do Brasil, nesta quarta-feira (26), Cuca anunciou que deixaria o cargo. O treinador lamentou a situação e revelou que sua esposa e filhas foram ameaças nas redes sociais.

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“O que eu estou passando... Quero ser bem breve, não quero ser vítima de nada, mas é a pior coisa que um homem pode passar. Quando está em xeque a dignidade dele, quando invadem as redes da mulher e das filhas com ameaças, xingamentos”, afirmou.

“Antes desse sonho se realizar (estreia na arena do Corinthians), foram quatro dias muito ruins para mim, de pesadelo. Foi quase um massacre o que aconteceu. Estava muito concentrado nessa decisão, não queria tirar o foco”, destacou Cuca.

Em relação à repercussão de sua contratação nas redes sociais, ele declarou: “Não esperava essa avalanche aqui, são coisas que aconteceram há muito tempo e trazidas como se tivessem acontecido ontem. Fui julgado e punido pela internet. Isso tem consequência muito grande”.

“Vou fazer 60 anos no mês que vem. Você pesa o que vale a pena e o que não vale. Nesse momento, quero fazer valer a pena a minha família, que é a coisa mais importante no mundo”, acrescentou.

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Desde que a contratação de Cuca foi confirmada pelo Corinthians, uma enxurrada de críticas foram surgindo ao longo dos dias. Das principais torcidas organizadas do clube, apenas a Gaviões da Fiel foi favorável à chegada do treinador ao Parque São Jorge.

O Coletivo Democracia Corinthians (CDC) divulgou nota de repúdio após o anúncio da contratação:

“Na mesma semana em que lançam uma camisa em alusão à Democracia Corinthiana, a diretoria do clube dá um passo para trás e marca um verdadeiro gol contra.

Não aceitamos essa contratação!

Não existe democracia, uma vez que não existe diálogo com estupradores. Existe apenas a violência e ter Cuca como técnico de um clube como o Corinthians é cometer outra violência contra a maior parcela da torcida, afinal, mais de 53% da Fiel é composta por mulheres.

E o que faz a diretoria do Corinthians?

Afasta a própria torcida e rechaça os valores que o clube defende desde sua fundação, dando as mãos ao algoz.

As nossas Brabas estão aí representando e honrando a nossa camisa. Como as alvinegras vão entrar em campo vestindo a mesma camisa que veste alguém condenado por estuprar uma menina de 13 anos?

A ressocialização, direito garantido pela legislação do nosso país, acontece durante/após o cumprimento da pena, é um processo em que busca adequar o preso às condições e leis da sociedade. No entanto, Cuca não cumpriu sua pena! Isso dá margem de que o machismo, a misoginia, a homofobia e o racismo aconteçam sem punição no Corinthians.

É de fato afirmar que existem mais Manés da Carne do que As Brabas, e pior, que o ‘Respeita as Minas’ é puro jogo de marketing.

Essa nota poderia ser polida, técnica e até menor, mas não será.

Como olhar uma menina corintiana de 13 anos e explicar que um homem que cometeu estupro, foi julgado, condenado, mas nunca cumpriu a pena, pois fugiu para o Brasil e foi recebido como herói, que se solidarizou com outros estupradores, é o técnico do Corinthians, do time do Povo?

Como usar a camisa ‘Respeita as Minas’ e avistar no banco um estuprador que se quer pediu desculpas às mulheres? Não dá.

Exigimos a saída do Cuca do Sport Club Corinthians Paulista!

A luta é de todos, mas a dor é nossa.

Mulheres do Coletivo Democracia Corinthiana.

Juntos ecoamos o grito #ForaCuca!

Coletivo Democracia Corinthiana”.

A Camisa 12 também já havia manifestado seu repúdio:

“Viemos a público manifestar nossa total repulsa a uma das maiores vergonhas que o Corinthians acaba de nos impor, que é a contratação desse treinador.

Nossa história jamais pode aceitar uma pessoa com um crime hediondo (condenado em trânsito em julgado) e que não cumpriu sua pena de 15 meses, entre seus quadros de funcionários.

O Corinthians foi fundado para ser o clube dos excluídos, dos pobres, que abraçou muita gente. O que está em jogo é a reputação de um dos maiores movimentos sociais desse País.

Não aceitamos que esse treinador use a camisa da Democracia Corinthiana, tão representativa em nossa história.

Duílio, honre a história que seu pai construiu, como presidente da Democracia Corinthiana, e desfaça essa besteira histórica que você acaba de divulgar".

A organizada Pavilhão 9 seguiu o mesmo caminho:

“Cuca não! Um clube com a história do Corinthians não pode aceitar, uma contratação dessa é rasgar toda nossa luta. Direção, por acaso vocês já se esqueceram do escândalo de Berna?

Não podemos aceitar. Porém, o que esperar de uma diretoria que não possui o mínimo e preparo para comandar um clube da altura do Corinthians, não possui limites éticos.

Aliás, o que tem a dizer a diretoria de responsabilidade social sobre esse tipo de contratação?

É responsabilidade da torcida do Corinthians assumir o protagonismo no fomento a uma cultura responsável com relação às violências que atingem a maioria de sua torcida. Não podemos abrir mão da nossa história somente por pensar em títulos”.