O atacante belga Romelu Lukako é a nova vítima de racismo no futebol europeu. Na última terça-feira (4) sua equipe, a Inter de Milão, foi a Turim para enfrentar a Juventus. O jogo seguia empatado até os 38 minutos do segundo tempo quando Juan Cuadrado abriu o placar para o time da casa. O empate veio dos pés de Lukako, de pênalti, aos 5 minutos de acréscimo. Ele foi ofendido durante toda a partida pelos torcedores locais e a principal ofensa identificada foi “macaco de merda”.
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Mas o artilheiro não deixou barato. Na comemoração do gol de empate, Lukako fez um gesto antirracista, já conhecido de suas comemorações e que foi reproduzido durante a última Copa do Mundo, no Catar, por Ismaila Sarr, do Senegal. Assim como Sarr, Lukako também leva uma mão como arma à cabeça e com a outra tampa os olhos ou faz o gesto de silêncio.
Mesmo sendo uma comemoração já conhecida, para o juiz da partida o gesto antirracista foi considerado ‘ofensivo’ e Lukako levou um cartão vermelho. O final desta partida foi marcado por uma grande confusão decorrente desses acontecimentos e outros jogadores também acabaram expulsos de campo.
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Repercussão nas redes sociais e aplausos de Vini Júnior
Após a partida, Lukako usou o Instagram para se expressar sobre o episódio e mandar um recado aos racistas que infestam o futebol europeu.
“A história se repete. Passei por isso em 2019 e 2023 novamente. Espero que a liga realmente aja de verdade desta vez, porque este belo jogo deve ser apreciado por todos. Obrigado pelas mensagens de apoio e foda-se o racismo”, escreveu o atacante no texto que acompanhou uma foto da comemoração.
O craque brasileiro Vini Júnior, do Real Madrid, aplaudiu a atitude de Lukako. O astro é constantemente vítima de ataques racistas no futebol espanhol e já está farto disso. “Tamo junto, mano (SIC)”, escreveu ao compartilhar a foto do colega.
Origem da comemoração
O criador do protesto não foi Lukako e nem Sarr, mas o jogador congolês Cédric Bakambu que em fevereiro de 2022 a usou para chamar atenção para a situação seu país, enquanto atuava pelo Olympique de Marselha, da França. A partir de julho, o jogador foi transferido para o Olympiacos, da Grécia, e manteve a comemoração.
O gesto é um protesto contra o descaso global em relação a diversos massacres e guerras que ocorrem ao longo da África, em especial chamando atenção para a realidade da República Democrática do Congo que vive uma guerra civil violenta, repleta de massacres e com centenas de milhares de desabrigados. Mas não é possível entender a atualidade da RD Congo sem conhecer a história do país.
A história da República Democrática do Congo
A partir de 1885, após a Conferência de Berlim declarar que o então Território Livre do Congo se tornara propriedade privada do Rei Leopold II, da Bélgica, começou uma das colonizações mais brutais que se tem notícia em continente africano. A exploração colonial do país, em busca de marfim e borracha, além de mudar o nome da região para Congo Belga, também abriu caminho para um genocídio. Imagens históricas de soldados belgas transportando congoleses acorrentados são comuns de serem usadas em conteúdos que denunciam os horrores da colonização europeia no continente africano.
A independência do país só ocorreria em 1960 após longa luta por liberdade protagonizada por Patrice Lumumba, declarado primeiro-ministro após a vitória e assassinado no ano seguinte com conhecimento da antiga metrópole e dos Estados Unidos. Com o poder vago, Mobutu Sese Sako instalou uma ditadura no país, bastante brutal e inspirada nos tempos coloniais.
A principal mudança promovida por Sako foi passar a chamar o país de Zaire, nome pelo qual disputou a Copa do Mundo de 1974. Na ocasião, o Zaire jogou contra o Brasil e perdeu por 3 a 0 com gols de Jairzinho, Rivellino e Valdomiro. Além do Brasil, também perdeu por 2 a 0 para a Escócia e 9 a 0 para a Iugoslávia, acabando, dessa forma, eliminado ainda na fase de grupos.
A ditadura de Mobutu Sese Sako durou até 1997, quando o país voltou a chamar-se República Democrática do Congo. Mas a derrocada do ditador só foi possível graças à união de esforços de dois países vizinhos, Ruanda e Uganda. O estopim foi o apoio que Sako deu a milícias de hutus que fugiam de Ruanda para o então Zaire, de onde reorganizavam ataques aos tutsi. Em Ruanda, ao longo dos anos 90, os hutus protagonizaram o genocídio da etnia tutsi que só acabou, em termos oficiais, após a proibição do presidente tutsi Paul Kagame. No entanto, o sangue continuou escorrendo com operações de vingança por parte do exército libertador tutsi. O conflito foi retratado no filme Hotel Ruanda, do diretor Terry George (2004).
Após a queda de Mobutu Sese Sako no então Zaire, subiu ao poder Laurent-Desiré Kabila, apoiado por Ruanda e Uganda. Ele foi assassinado em 2001 e sucedido por seu filho, Joseph Kabila, que promoveu as primeiras eleições democráticas do país em 2006. Mas apesar da “normalidade institucional”, os conflitos étnicos e sociais persistem no país. E com uma infeliz força.
Atualmente o principal protagonista de massacres é o Movimento M23, de grupos radicalizados tutsi, que no início de 2022 deixou 180 mil desabrigados após tomar a cidade de Bunagana. O governo de Ruanda, que estampa um anúncio na camiseta do Arsenal, da Inglaterra, é um dos patrocinadores do grupo.