CRISE NO SISTEMA FINANCEIRO

Credit Suisse: principal acionista, banco da Arábia Saudita negou socorro e investe na China

“É pânico, um pouco de pânico", classificou Ammar Al Khudairy, presidente do Saudi National Bank, instituição controlada pela ditadura saudita, que detém 9,9% das ações do Credit Suisse.

Credit Suisse e o presidente do Saudi National Bank, Ammar Al Khudairy.Créditos: Divulgação / CNBC
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Principal acionista do Credit Suisse, que está no centro da nova crise no sistema financeiro, o Saudi National Bank (SNB), banco controlado pela ditadura da Arábia Saudita, negou ajuda à instituição suíça nesta quarta-feira (15), quando as ações do banco derretiam a quase 30% na bolsa de Zurique.

Após anúncio de socorro do Swiss National Bank, que pretende emprestar até 53,75 bilhões de dólares ao Credit Suisse, as ações da instituição dispararam e chegaram a subir 40%, gerando lucro imediato para os sócios sauditas.

O SNB detém 9,9% das ações do Credit Suisse, sendo o principal acionista, e ao mesmo tempo em que negou ajuda à instituição, fechou a primeira operação de empréstimo em yuan - moeda chinesa - com o Export-Import Bank of China, o China EximBank, conforme anunciou o GlobalTimes nesta quinta-feira (16).

Segundo o jornal chinês, os fundos serão usados preferencialmente para atender à demanda de projetos comerciais China-Arábia Saudita. O aporte foi comemorado pelo banco e pelo governo chinês, que tem buscado firmar acordos bilaterais para fortalecer a moeda local em vez do dólar e do euro.

Enquanto fortalece as transações com a China, o banco saudita tem dado de ombros diante da crise no Credit Suisse, que teve de adiar seu relatório anual na semana passada, por conta de questionamentos da Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos EUA) sobre fluxos de caixa de 2019 e 2020, que foram revisados no relatório anual de 2021.

O banco suíço enfrenta uma grande crise de desconfiança, com resultados ruins, desde o ano passado. No final de julho, anunciou que reformularia seu banco de investimento e sairia de alguns outros negócios para se tornar uma instituição mais enxuta e menos arriscada, após desastres financeiros que incluíram um golpe de US$ 5,1 bilhões em 2021 do cliente Archegos Capital Management.

O Saudi National Bank se converteu no maior acionista do Credit Suisse por conta de um aumento de capital feito em novembro do ano passado, feito para financiar uma forte reestruturação do banco suíço.

No entanto, em entrevista nesta quinta à rede estadunidense CNBC, o presidente do Saudi National Bank, Ammar Al Khudairy, disse que não pretende aumentar o aporte no banco europeu e classificou a crise como "pânico injustificado".

“É pânico, um pouco de pânico. Acredito completamente injustificado, seja para o Credit Suisse ou para todo o mercado”, afirmou.

Khudairy também afirmou que o Credit Sussie não pedi quaisquer tipos de "assistência" aos árabes e que mesmo que fosse pedido há, segundo ele, "muitas complicações do ponto de vista regulatório e de conformidade”.

O SNB foi criado em 1953 e aumentou sua influência no sistema financeiro internacional em 2021 após fusão com o Samba Financial Group. Atualmente, o SNB possui subsidiárias e afiliadas operando em 8 países ao redor do mundo.

O Saudi National Bank é de propriedade majoritária do governo saudita, representado pelo Fundo de Investimento Público e pela Organização Geral de Seguro Social (GOSI).

Sendo o maior grupo financeiro da Arábia Saudita e uma das maiores potências da região, o SNB desempenha um papel vital no apoio à transformação econômica na Arábia Saudita, transformando o setor bancário local e catalisando a entrega da Visão 2030 da Arábia Saudita.

A Visão 2030 é uma agenda neoliberal adotada pela ditadura saudita para diversificar investimento dos petrodólares diante da mudança de matriz energética no mundo. O Brasil, sob o governo Jair Bolsonaro (PL), foi um dos principais alvos de cobiça da família real saudita, que chegou a anunciar a intenção de fazer um aporte de 10 bilhões de dólares em projetos de concessão e privatização de empresas públicas.

A ditadura saudita também está no centro do escândalo das joias durante o governo Bolsonaro no Brasil.