EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Americanas: relembre a crise financeira da empresa

Quase um ano após revelar rombo bilionário, varejista tenta se manter com recuperação judicial e negociação com credores

Fachada de uma das Lojas AmericanasCréditos: Eduardo P/Wikimedia Commons
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Após a crise financeira que surpreendeu o país no início de 2023, as Lojas Americanas traçaram plano estratégico para, afirmam, estarem com um patrimônio líquido positivo até o final de 2025.

A empresa divulgou seus balanços de 2021 corrigidos, bem como o de 2022. Se, em 2021, a contabilidade das Americanas havia registrado R$ 544 milhões em lucro, com os números revisados, o lucro virou prejuízo de R$ 6,2 bilhões. Em 2022, o déficit aumentou para R$ 12,9 milhões.

A varejista espera que a divulgação dos balanços corrigidos facilite a discussão do plano de recuperação judicial da empresa com os credores, bancos poderosos. Relembre abaixo como uma das maiores lojas de varejo do Brasil chegou até aqui.

Por que as Lojas Americanas entraram em crise

No início deste ano, mais especificamente no dia 11 de janeiro, as Lojas Americanas surpreenderam a todos ao anunciar, sem aviso prévio, um rombo de R$ 20 bilhões em sua conta, uma quantidade oito vezes maior que o seu valor de mercado.

A história da crise, no entanto, não começa em 2023, pois é resultado de ações errôneas tomadas em 2022 e até em anos anteriores. O rombo bilionário se refere a balanços errados aprovados neste período.

O que gerou a divergência entre o que mostravam os balanços e como realmente estava a situação financeira da Americanas foi a prática do “risco sacado”, que consiste na tomada de financiamento com um banco para pagar fornecedores.

A empresa paga os fornecedores antes, para depois pagar os bancos. O problema é que os balanços das Lojas Americanas não mostravam essas movimentações. Ao revelar o rombo, a Americanas se viu cobrada a pagar suas dívidas antecipadamente.

Os principais credores da Americanas são os bancos, entre eles Bradesco, Banco do Brasil, BTG, Itaú e Santander. Entre os credores mais curiosos da varejista, estão diversas empresas de chocolate como Nestlé, Garoto, Hershey, Mondelez e Ferrero.

Recuperação judicial

Cerca de uma semana após revelar a fraude em seus balanços, ver suas ações despencarem e trocar de CEO – uma vez que Sérgio Rial renunciou assim que o rombo foi revelado, apenas nove dias após sua posse –, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial, situação na qual permanece até hoje.

Na ocasião, a empresa revelou um rombo ainda maior do que o informado inicialmente, no que se tornou o quarto maior pedido de recuperação judicial da história do país, atrás somente da Odebrecht, Oi e Samarco.

As dívidas chegam a cerca de R$ 43 bilhões, divididas entre aproximadamente 16,3 mil credores. Desses, R$ 27,2 bilhões são créditos a oito bancos, R$ 64,8 milhões são créditos trabalhistas, R$ 41 milhões são créditos quirografários e R$ 109,5 milhões são valores devidos a pequenas e microempresas.

A Globo é outro credor. Em agosto, a empresa de comunicações notificou judicialmente a Americanas, pedindo o pagamento de uma multa referente à rescisão do contrato de patrocínio do Big Brother Brasil 2023, do qual a varejista desistiu de patrocinar após identificar o rombo. Foi contabilizado um prejuízo de R$ 14,2 milhões à emissora.

CPI da Americanas

Em abril, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi anunciada na Câmara para apurar o que aconteceu na fraude das Lojas Americanas.

A intenção seria responder algumas perguntas-chave: como a empresa conseguiu fraudar 48 bilhões de reais? O que a consultoria PricewaterhouseCoopers Brasil (PWC) fez para esconder os problemas contábeis? As empresas de auditoria estão envolvidas? Caso positivo que outras empresas estão na mesma situação de fraude?

A CPI das Americanas teve seu relatório final divulgado em setembro, confirmando a existência de fraude nos balanços da companhia, no entanto, não indiciou possíveis culpados pela crise por “falta de provas”.