Levantamento feito pelo jornal O Estado de São Paulo revela que um grupo ligado ao empresário Jorge Paulo Lemann ganhou espaços estratégicos no governo Lula na área da educação.
De acordo com a publicação, a ONG MegaEdu, que é financiada por Lemann, fechou um acordo com o Ministério da Educação (MEC) para dar opiniões sobre a conexão à internet em escolas públicas e também foi alocada em um conselho do Ministério das Comunicações que define parte dos cerca de R$ 6,6 bilhões destinados à conexão no ensino público.
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O jornal também revela que quem levou a MegaEdu para o MEC foi a secretária de Educação Básica, Katia Schweickardt, que até a semana passada constava como integrante do comitê de especialistas do Centro Lemann. O nome dela foi retirado após o Estadão questionar o MEC sobre a ligação das duas partes do acordo com Lemann.
A ONG MegaEdu, além de atuar no MEC e no Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), onde estão 40% dos recursos que a gestão federal estima investir até 2026, também está sendo convocada para opinar sobre o uso de R$ 3,1 bilhões de dinheiro privado que as operadoras de telefonia foram obrigadas a investir para arrematar faixas do leilão do 5G.
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Procurada pelo Estadão, a MegaEdu declarou não haver conflito de interesses. A Fundação Lemann afirma que a ONG tem reconhecimento e legitimidade para atuar junto ao governo federal.
O Ministério da Educação também defende a parceria, mas não comentou sobre a ligação com o empresário Jorge Lemann.
Lula critica Lemann
O presidente Lula já fez críticas públicas ao empresário Jorge Lemann devido à quebra ocorrida nas Lojas Americanas.
"Esse Lemann era vendido como o suprassumo do empresário bem-sucedido. Era o cara que financiava jovens para estudarem em Harvard e formarem um novo governo. Falava contra a corrupção todos os dias. E depois cometeu uma fraude que pode chegar a R$ 40 bilhões", disse Lula no início deste ano em uma entrevista à RedeTV.
A crise nas Lojas Americanas
Desde a primeira semana de 2023, as Lojas Americanas vivem um momento turbulento. No último dia 20 de janeiro, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial, no qual relatou dívidas que superam os R$ 41 bilhões. A crise instalada em uma das maiores varejistas do Brasil, que ainda possui poderosos acionistas como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Bruno, do grupo 3G Capital, foi vista como uma surpresa em seus primeiros dias e agora enfrenta uma batalha judicial anunciada.
Na noite de quarta-feira, 11 de janeiro, as Lojas Americanas informaram um rombo de R$ 20 bilhões em suas contas, um montante oito vezes maior do que o seu valor de mercado. O rombo refere-se a balanços aprovados em 2022 e anos anteriores. A causa foi a prática do 'risco sacado', que consiste na tomada de financiamento com um banco para o pagamento de fornecedores. A ideia seria antecipar os pagamentos aos fornecedores para, em seguida, pagar os bancos. No entanto, no caso das Lojas Americanas, nada disso foi relatado nos balanços anuais.
O balanço fraudado abriu espaço para cobranças antecipadas de dívidas, e foi exatamente o que aconteceu quando o rombo foi informado. A situação levou o novo CEO da empresa, Sérgio Rial, a renunciar ao cargo na mesma hora, após apenas nove dias de sua posse. Para substituí-lo, foi nomeado o então diretor de Recursos Humanos da empresa, João Guerra, que não estava envolvido na gestão financeira da empresa.
No dia seguinte, 12 de janeiro, as ações da empresa despencaram 77,3%, fechando o dia a R$ 2,72, registrando a maior queda de uma empresa da Ibovespa em um único dia desde 1994. Nesse momento, além dos bancos credores, também os acionistas da empresa começaram a exigir medidas para mitigar a crise.
A sexta-feira 13 ficou conhecida como o 'dia do terror' para os credores. Nessa data, as Lojas Americanas conseguiram uma medida judicial que as protege por 30 dias da execução das dívidas. Ao final desse período, a empresa poderá solicitar a recuperação judicial. As ações da empresa então subiram 15% em relação ao dia anterior.
Durante o final de semana seguinte, 14 e 15 de janeiro, o banco BTG Pactual, um dos credores das Lojas Americanas, entrou com um recurso para derrubar a decisão. Na argumentação, o banco alegou que a empresa fraudou seu mercado de crédito. Além disso, também informou que teve de estornar cerca de R$ 1,2 bilhão devido à decisão. Outros bancos credores também demonstraram descontentamento e esperam o início de uma batalha judicial para liberar a cobrança antecipada das dívidas. O acordo que os bancos estavam dispostos a fazer naquele momento deveria incluir a injeção de capital na empresa por parte dos acionistas.
A situação se estendeu por cerca de cinco dias, sem acordo. Com o bloqueio dos bens da empresa à vista, o que a deixaria com os caixas vazios e um estoque de apenas quatro meses para operar sem o aporte de seus principais acionistas, as Lojas Americanas pediram recuperação judicial em 20 de janeiro, declarando na ocasião mais de R$ 41 bilhões em dívidas.