O relatório final da CPI das Lojas Americanas é uma verdadeira peça de hipocrisia, da comissão, de seus parlamentares e uma zombaria à população brasileira.
Não indica culpados, tampouco diz a que veio, a não ser que 50 bilhões de fraude no sistema bancário, principalmente em bancos oficiais, passaram pelo nariz do relator, expelindo odores, em um vergonhoso espetáculo pífio, que mostra ao mundo um país em que tudo pode e a impunidade da “meritocracia” das três maiores fortunas sai limpa do maior desfalque do varejo nacional.
Após ler o relatório dos “resultados” da investigação, o deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), relator, admite erros na contabilidade, ou seja, detectados indícios de fraudes nos balanços da companhia, mas não apura os prováveis indiciados.
As Lojas Americanas pediram, no início do ano, recuperação fiscal por dívidas de R$ 43 bilhões.
“Em que pesem os indícios de materialidade apontados, não foi possível, no atual estágio da investigação, identificar, de forma precisa, a autoria dos fatos investigados, nem imputar a respectiva responsabilidade criminal, civil ou administrativa a instituições ou pessoas determinadas, ante a necessidade da realização de outras diligências e da coleta de elementos de prova mais robustos”, escreveu o deputado.
Ora, se existem indícios de materialidade apontados, é evidente que omitiram no relatório quem seriam as pessoas que perpetuaram a fraude contábil.
Quem está por trás da fraude gigantesca, sem ter seus nomes como indiciados em uma CPI? A comissão, pelo jeito, lavou as mãos. Quem são os responsáveis por esta impunidade vergonhosa, que só existe com a contribuição de corrupção, da malversação de fundos e financiamentos com a criminalidade carimbada nas operações do mercado financeiro?
João Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira detêm as maiores fortunas brasileiras, são acionistas das Lojas Americanas desde os anos 80 e controladoras da mesma. São os inocentinhos que nada sabiam do que estava acontecendo na contabilidade fraudulenta da empresa, que através de omissões de stocks, que não possuíam, arrombaram os bancos, o fisco e prestaram essa imagem de impunidade do Brasil, que envergonha a nação.
O ex-CEO das Lojas Americanas, Miguel Gutierrez, que agia como “laranja” nas operações de fraudes, denunciou, recentemente da Espanha, onde se encontra, “ser um bode expiatório a ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro”.
Ele, Miguel Gutierrez, informa ainda que a movimentação nacional de vendas, das Lojas Americanas, era diariamente monitorada por Sicupira e Eduardo Saggioro, presidente das Americanas e sócio da LTS investments, que é um Family office dos três.
Paulo Lemann e sócios, por muita casualidade, é claro, deixaram a administração das Lojas Americanas, depois de mais de 40 anos, há apenas um ano e alguns meses, sendo controladores de 60% das ações ordinárias com direito a voto. Desta maneira, ficaram prontos para hoje acusarem o “laranjal” plantado pelo ex-CEO , Miguel Gutierrez.
O que mais impressiona é o silêncio sepulcral das nossas autoridades, de nossa imprensa, de nossa comunicação dos grandes meios, que sem nenhuma vergonha relatam o fato como apenas mais uma fraude comercial, sem a devida importância. Por que não prorrogaram a CPI? Por que o Ministério Público não se pronuncia, vai ficar assim?
Os três empresários escondidinhos, segundo a AEEL, detêm através do fundo 3 G Radar, a maior parte do percentual individual, como acionista preferencial da Eletrobras, tendo 10,88 %.
O Brasil tem de começar a exercer sua soberania sobre os poderosos do mercado que tudo podem.
Ora, se são as mesmas pessoas que devem ao Estado impostos em fraude contábil e fiscal, fraude em empréstimos tomados de bancos públicos com balanços falsos e, ainda, com um perfeito planejamento de diretoria de “laranjas”, o confisco dessas ações da Eletrobras, pelo governo federal, seria um exemplo a se mostrar à nação, a que veio o novo governo em defesa dos trabalhadores do Brasil.
Punir delinquentes econômicos é uma obrigação de nosso Ministério Público.
Retomar o controle da Eletrobras não apenas é uma obrigação, é um dever da pátria.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.