LÉO LINS

Leo Lins lota teatro após condenação e com piadas ainda piores

Ele faz piadas com negros, pessoas com deficiência, obesos, soropositivos, e chega a debochar de temas como pedofilia e nazismo

Léo Lins.Créditos: Reprodução/Instagram
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Em seu primeiro espetáculo em São Paulo após ser condenado pela Justiça Federal a oito anos e três meses de prisão por incitação à discriminação, o humorista Leo Lins, de 42 anos, lotou um teatro com capacidade para 720 pessoas na capital paulista. O show, intitulado Enterrado Vivo, é marcado por ironias ao sistema judicial, ataques ao chamado “politicamente correto” e piadas com minorias — as mesmas que o levaram ao banco dos réus.

Lins, que se apresenta como vítima da censura, utiliza a própria condenação como estratégia de marketing. No palco, faz piadas com negros, pessoas com deficiência, obesos, soropositivos, e chega a debochar de temas como pedofilia e nazismo. “Peguei oito anos. A mensagem da Justiça é: ‘Se você é preconceituoso, não faça piada, mate! Vai sair mais cedo da cadeia’”, disse em tom de deboche, arrancando risadas da plateia.

A sentença se refere a um show realizado em Curitiba em 2022, cujo vídeo, intitulado Perturbador, foi removido do YouTube em 2023 após atingir cerca de 3 milhões de visualizações. Segundo a 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, o material continha conteúdo discriminatório contra negros, homossexuais, judeus, evangélicos, nordestinos, indígenas e outros grupos vulneráveis. A decisão também determinou multa e indenização por danos morais coletivos. A defesa do comediante recorre da sentença.

Espetáculo blindado

O espetáculo atual acontece sob medidas restritivas: o público é obrigado a lacrar os celulares em sacos opacos entregues na entrada. “Vocês não querem que eu acabe realmente indo preso, tá bom?”, brinca o humorista ao iniciar a apresentação. A justificativa, segundo ele, seria para evitar que novos trechos acabem nas redes sociais e ampliem seus problemas judiciais.

Apesar de dizer que adaptou o show por recomendação de seus advogados, Leo Lins inicia com o tema “escravidão” e afirma que “é uma péssima época para ser branco”. Na sequência, emenda piadas com minorias e cita antigos alvos de processos judiciais. Uma delas envolve a cantora Preta Gil, a quem comparou a uma “porca” em 2019. “Três meses depois do processo, ela apareceu com câncer. Deus tem um favorito”, afirmou.

Defesa no palco

Em suas falas, Leo Lins insiste que o que diz no palco faz parte de uma “personagem” e que suas piadas não devem ser confundidas com opiniões pessoais. “A intenção de toda piada é fazer rir. Prefiro enxergar os juízes como divulgadores do meu trabalho. Quanto mais tentam me calar, mais ouvido eu sou. Até surdo já me escuta”, afirmou.

Mesmo condenado, o humorista transforma sua controvérsia em combustível para atrair público e fortalecer sua imagem de artista “proibido”. Com sessões esgotadas e piadas que ultrapassam limites legais e éticos, Leo Lins mostra que, para alguns, a provocação pode ser uma forma lucrativa de resistência — ainda que às custas de direitos fundamentais e do respeito à dignidade alheia.

Com informações do Globo

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