“Não apenas são indeléveis nas mentes dos Paivas, mas são preservados para sempre em fotos estáticas, na escrita de Marcelo Paiva e agora na tela por meio da interpretação cinematográfica”, começa o jornalista Carlos Aguilar, do jornal norte-americano Los Angeles Times, sobre a memória histórica contra a ditadura militar no filme ‘Ainda Estou Aqui’, que ensina ao mundo como combater o autoritarismo.
O jornal publicou uma crítica elogiando o longa dirigido por Walter Salles, destacando a atuação de Fernanda Torres como magistral. A atriz, vencedora do Globo de Ouro na categoria de melhor atriz de drama, interpretou no longa a advogada Eunice Paiva, uma das mulheres protagonistas da resistência à ditadura militar no Brasil.
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"Torres exala a coragem discreta de uma mulher incapaz e sem vontade de se render ao desespero com o passar dos dias e das semanas. Como pode ela, quando precisa criar os filhos e buscar justiça para o marido, que pode ainda estar vivo? Transmitindo uma contenção magistral, Torres faz com que as poucas explosões de Eunice pareçam contidas. Tão distante quanto possível do melodrama, sua atuação é de luto internalizado", destaca a crítica.
Los Angeles Times ainda descreve Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, como uma lenda, mencionando sua indicação ao Oscar de melhor atriz por "Central do Brasil", obra de Walter Salles. O texto também se refere a Jair Bolsonaro, do PL, como protagonista de uma Presidência repressiva, da qual o filme livra o país anos após o desgoverno de extrema direita.
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"Atuações desse calibre sutil raramente são celebradas, mas a atitude despretensiosa de Torres provou ser inegável para quem a vê. O fato de um filme como 'Ainda Estou Aqui' emergir do outro lado da Presidência repressiva de Jair Bolsonaro e ser abraçado tanto no país quanto no exterior (é o filme de maior bilheteria do Brasil desde a pandemia) é uma prova da mão segura de direção de Salles que trata o assunto delicado com a seriedade que merece, ao mesmo tempo que destaca a humanidade em vez da brutalidade. Há uma elegância impressionante em suas imagens na forma como nos aproximam das pessoas, não dos horrores"
O jornal The New York Times também elogiou a atuação da atriz brasileira. “Em sua performance, que lhe rendeu um Globo de Ouro e está visando uma indicação ao Oscar, Torres atordoa. Proteger seus filhos significa a alegria no meio do medo, a segurança no meio da dor. Torres sobrepõe sua performance com todas essas emoções, e seus olhos, cheios de busca, são magnéticos”, escreveu a jornalista Alissa Wilkinson.
Já o jornal Le Monde, um dos mais tradicionais da França, detonou o filme “Ainda Estou Aqui” e a atuação de Fernanda Torres, que recebeu um Globo de Ouro. O crítico Jacques Mandelbaum não gostou nada do longa-metragem e despertou a fúria dos internautas brasileiros. Para o crítico, o filme “Ainda Estou Aqui” erra ao "passar um traço leve demais pela compreensão do mecanismo totalitário", ou seja, na visão de Mandelbaum, o filme de Walter Salles "suaviza" a ditadura brasileira.
Sobre a atuação de Fernanda Torres, que tem sido elogiada no mundo todo e virou uma obsessão da imprensa cultural dos EUA, o jornalista francês a classificou como "um tanto monocórdica", ou seja, que fica em um mesmo tom e não emociona. O jornal deu nota 1 para “Ainda Estou Aqui”, a pior de todas.
O texto do jornal Le Monde é uma clara provocação, visto que o principal concorrente do Brasil é o longa Emília Perez, produção francesa cuja história se passa no México e que tem sido alvo de duras críticas, entre elas, de transfobia e racismo, pois o filme foi inteiramente gravado na França. Sem novidades, os fãs brasileiros se revoltaram com a crítica do Le Monde e invadiram as redes sociais do jornal para deixar sua insatisfação.
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