LITERATURA NACIONAL

Livros fundamentais para conhecer o Brasil, segundo Fernanda Torres

Vencedora do Globo de Ouro, a atriz e também escritora sempre destacou as raízes e potências culturais do país

Fernanda Torres faz história para além do cinema.Créditos: Golden Globes / Divulgação
Escrito en CULTURA el

Fernanda Torres é alguém que conhece de forma muito profunda as desigualdades, resistências e potências da cultura brasileira. Não só na carreira da atuação, mas também na literatura. A filha de Fernanda Montenegro também é leitora e uma escritora interessada por romances, histórias e enredos que façam refletir o passado e a formação da identidade brasileira, não se colocando à parte, mas sempre como parte. 

Torres é autora de três livros, sendo que o primeiro foi escrito aos 40 anos. São eles: Fim, Sete AnosA glória e seu cortejo de horrores. Em uma entrevista, a escritora contou sobre a visão coleitva da cultura brasileira:

A repercussão internacional de Memórias Póstumas de Brás Cubas na internet no ano passado levou Fernanda a se juntar aos influenciadores literários do Tiktok, os booktoks, e indicar obras nacionais, mostrando sua paixão pela literatura brasileira. A atriz recomendou livros indispensáveis para quem desejava conhecer o Brasil, fazendo retratos precisos.

Entre as obras favoritas da artista, amplamente divulgadas pela própria e algumas conhecidas por leitores brasileiros, estão:

"Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa

“É o Fausto sertanejo. Um livro que coloca o Brasil no centro dos dilemas mais profundos da humanidade, ao discutir a natureza do bem e do mal. Como se não bastasse, Guimarães Rosa inventa línguas. Não há o que dizer de ‘Grande Sertão: Veredas’, é preciso lê-lo”, explicou Fernanda nas redes sociais.

"Álbum de Família", de Nelson Rodrigues

Nelson Rodrigues transforma a realidade do suburbano brasileiro em uma tragédia grega, com influências de Médéia, Édipo e Antígona. Álbum de Família, situado na casa grande, aborda a herança patriarcal das fazendas que ajudaram a formar nossa cultura. Tal como Vestido de Noiva, Toda Nudez Será Castigada, Anjo Negro, Beijo do Asfalto e sua vasta produção, Álbum de Família é uma obra que consegue ser épica, trágica e risível ao mesmo tempo.

"Tristes Trópicos", de Claude Lévi-Strauss

Nesta obra autobiográfica, Claude Lévi-Strauss narra as duas viagens que fez ao Brasil, na década de 1930. A primeira teve como missão educar os filhos da elite cafeeira, na recém-inaugurada USP. Na segunda viagem, o antropólogo estudou os povos originários do Brasil. Logo nas primeiras páginas, lo autor escreve: "Detesto as viagens e os exploradores. E, no entanto, aqui estou, prestes a narrar minhas expedições."

"Escravidão", Laurentino Gomes

A escravidão foi a base de formação do Brasil. Na trilogia monumental, o historiador Laurentino Gomes expõe os efeitos dos trezentos anos de tráfico de seres humanos entre a África e as Américas, impactando os três continentes que prosperaram com o comércio de escravizados. O Brasil, como conhecemos, não existiria sem a África. Laurentino mergulha na complexa questão, pautada pelo pragmatismo econômico, e constrói um panorama das relações sociais, profissionais, legais, linguísticas, religiosas e afetivas que o regime escravocrata legou à sociedade brasileira.

"Ao Vencedor, as Batatas", de Roberto Schwarz

Em As Ideias Fora do Lugar, o capítulo de abertura de Ao Vencedor, as Batatas, Roberto Schwarz oferece um ensaio pioneiro que discute a entrada do Brasil no mundo moderno, mediada por uma economia de latifúndio e escravidão. O crítico utiliza a literatura para evidenciar a incongruência dos ideais liberais do romantismo europeu do século 19 com a realidade de um país patriarcal como o nosso, baseando sua argumentação na evolução dos romances de Machado de Assis, desde Ressurreição e Iaiá Garcia até Memórias Póstumas de Brás Cubas.

"Macunaíma", de Mário de Andrade

Um dos livros favoritos de Fernanda. De acordo com ela, sobre o “herói sem nenhum caráter”, afirmou: “Nós somos todos Macunaíma”. As reflexões e inovações de Mário de Andrade permanecem como um marco na literatura brasileira contemporânea. A obra é um vínculo essencial entre as diferentes épocas da literatura nacional.

"Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis

“É um livro absurdo, cortante, hilariante, moderno e terrível. É o retrato de Machado de Assis de uma elite caprichosa, egoísta e volúvel, num livro que marca a grande virada literária do bruxo”, já disse Torres.

"Os Sertões", de Euclides da Cunha

“Se Euclides da Cunha tivesse escrito apenas a parte final de ‘Os Sertões’, ‘A Guerra’, esse livro extraordinário já seria um clássico, mas não. As duas primeiras partes, ‘A Terra’ e ‘O Homem’, misturam geologia e antropologia com alta literatura. Cunha é capaz de transformar a luta de uma planta para se desenvolver no solo árido da caatinga em paixão de Cristo, em drama épico. ‘Os Sertões’ é um livro fundamental para se entender o Brasil”, declarou a atriz.

Metror Atriz de Drama

Neste domingo (5), Fernanda Torres se tornou a primeira brasileira a conquistar o prêmio de Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro, em uma história sem precedentes para o cinema nacional. A atuação como Eunice Paiva no filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, resultou na vitória de Torres, superando “grandes nomes” da indústria cinematográfica como Angelina Jolie e Nicole Kidman.

Ela que contou com a torcida de veículos internacionais como The New York Times e Variety, entrou para a história como a primeira brasileira a vencer na categoria, realizando um feito que sua mãe, Fernanda Montenegro, quase alcançou em 1999, quando foi indicada por Central do Brasil, do mesmo Walter Salles, mas não havia levado o prêmio.

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