Em “Elle, Marielle Franco”, a voz de Marielle Franco ressoa no curta-metragem dirigido por Liliane Mutti e Daniela Ramalho. Ele será apresentado na próxima quinta-feira (29), em Lausanne, na Suíça, e inaugura a mostra dedicada a homenagear a vereadora brutalmente assassinada em 2018, sua luta, trajetória e legado.
É um filme-ensaio que utiliza áudios em primeira pessoa narrados pelos pais de Marielle Franco, juntamente com trechos de discursos dela, como o de sua posse como vereadora do Rio de Janeiro. No curta-metragem, a voz de Marielle intercala com a de sua mãe, Marinete, e a de seu pai, Antônio da Silva.
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O longa é parte do evento Pont.E, que promoverá uma exibição de obras em tributo à vereadora. O objetivo da exposição, organizada pela Association Le Renversé, é fomentar o intercâmbio cultural entre Brasil e Suíça através do cinema.
‘Não serei interrompida’
“Não serei interrompida, vai ter que aturar mulher negra, trans, lésbica, ocupando a diversidade dos espaços”, disse a vereadora uma certa vez. Para a cineasta Liliane Mutti, o documentário é uma expressão de resistência contra o silenciamento de Marielle. “Ver seu Antonio e dona Marinete, pais de Marielle, narrando a dor da ausência da filha e a sua luta incansável por justiça me dá um nó no peito. Quanto de potência foi arrancada da sua família e de todos nós? São perguntas que ficam sem resposta e o filme tenta trazer a ferida desse silêncio”, afirma.
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“O ‘Elle’ existe porque Marielle continua existindo em cada uma de nós que fazemos do cinema nossa re-existência e, através dele, lutamos por justiça, por cada vida interrompida. O filme carrega essa dor, especialmente a imensa dor da família de Marielle. É um filme de 2021, que continua a circular pelo mundo, enriquecendo rodas de debates em vários idiomas sobre feminicídio e tantos temas urgentes, como a violência contra a comunidade LGBTQIA+”, ressalta a cineasta.
Durante a estadia de seus pais em Paris, eles se juntaram à filha de Marielle para a inauguração do jardim "Marielle Franco", onde clamaram por justiça para Marielle e seu motorista Anderson, brutalmente assassinados no Rio de Janeiro. Na ocasião, a família foi convidada pela prefeitura de Paris para a inauguração do jardim público, situado no 10ème arrondissement de Paris, entre a Estação Gare de L’Est e o Canal Saint Martin.
O filme utiliza imagens de arquivo da vida de Marielle, desde sua infância até sua posse como vereadora do Rio de Janeiro, destacando momentos significativos, como sua formatura na universidade e discursos na Câmara Municipal ao lado de figuras como Indianara e mulheres trans da Casa Nem, que ilustram o impacto de sua vida interrompida.
De acordo com Liliane, participar do "PontE", um evento que promove o cinema latino-americano na Suíça, é uma oportunidade poderosa de transcender fronteiras e levar a demanda por justiça em nome de Marielle para além do país.
Produção do longa-metragem
O Jardim Marielle Franco, cenário do filme, foi inaugurado por uma iniciativa da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, após demandas de associações brasilianistas como a RED.br (Rede Europeia pela Democracia no Brasil), Mulheres da Resistência e Autres Brésils. Agora na Suiça, será 25ª exibição no exterior, contando com a primeira, em 2023, no Festival Internacional de Língua Portuguesa. Veja nesta matéria da Fórum.
Produzido de forma colaborativa e voluntária pelos membros da Associação Ciné Nova Bossa e do Coletivo Ubuntu Audiovisual, com apoio das produtoras Toca (BR) e Filmz (FR), e distribuído pelo Centre Simone de Beauvoir, o filme já foi exibido em diversos festivais e circuitos internacionais, incluindo Brésil en Mouvement (Paris), Festival Rainbow (Ceará), Digo (Goiás), MujerDoc (Espanha), Imaginária (Itália), Cineffable (Festival Internacional dos Filmes Lésbicos e Feministas de Paris), além do prestigiado Festival de Caminho de Cinema, em Coimbra, Portugal.