A contaminação biológica de outros planetas, que ocorre quando astronautas transportam microrganismos hostis para fora do planeta Terra, é uma grande preocupação das missões interplanetárias — e com razão.
Descobertas descritas por Keith Cowing e publicadas na revista Astrobiology indicam que bactérias que infectam humanos, potenciais causadoras de doenças, são capazes de sobreviver — e de se desenvolver — no ambiente natural do planeta Marte, que a NASA quer explorar com uma equipe de astronautas até 2030.
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O experimento consistiu em criar um ambiente similar àquele encontrado em Marte, com condições de temperatura, pressão e um solo equiparável à da superfície marciana, para testar três diferentes tipos de microrganismos: Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e Serratia marcescens.
Apesar de serem inofensivos quando em organismos humanos saudáveis, essas bactérias podem tornar-se patogênicas sob estresse — quando associadas, por exemplo, a infecções hospitalares ou pacientes com o sistema imunológico comprometido.
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A Klebsiella pneumoniae, um dos organismos testados no experimento, está ligada às infecções respiratórias, como a pneumonia, infecções do trato urinário ou a quadros de sepse (estado infeccioso em que uma inflamação se espalha pelo organismo).
Apesar de as pesquisas sobre Marte geralmente concentrarem seus esforços na testagem de bactérias extremófilas — aquelas capazes de sobreviver em condições extremas, como alto teor salínico, alto nível radiação e grandes variações de temperatura —, pesquisas em curso desde 2020 já se preocupam com aquelas bactérias que vivem dentro dos organismos humanos e podem crescer em ambientes apenas ‘medianamente difíceis’.
E foi isso que as condições marcianas indicaram: de acordo com um pesquisador do Centro Espacial alemão, Tommaso Zaccaria, as três espécies de bactérias testadas sobreviveram ao experimento.
Uma delas, a P. aeruginosa, conseguiu sobreviver com níveis de desenvolvimento alarmantes — durante 21 dias, a bactéria cresceu consistentemente, um resultado "notável" (e preocupante) para os pesquisadores.
Os cientistas sugerem que esses microrganismos podem ter encontrado "pequenos oásis com água, nutrientes e proteção suficiente contra radiação UV" para sobreviver, e agora querem entender melhor como o sistema imunológico dos seres humanos tende a responder a bactérias que já passaram por esses "testes físicos" intensos.
O risco de reinfecção humana por bactérias desenvolvidas e adaptadas em ambientes hostis, como o de Marte, poderia ser maior e mais fatal.
De acordo com pesquisadores ouvidos pela Science, os resultados apontam para a necessidade de diferentes tipos de antibióticos para lidar com novas doenças em potencial causadas por bactérias que deverão sofrer mutações e sobreviver para reinfectar humanos.