ESPAÇO

Risco biológico: experimento indica que bactérias infecciosas podem sobreviver em Marte

Os microrganismos, com potencial patogênico em seres humanos, teriam facilidade para se desenvolver no ambiente do planeta e apresentaram “risco de reinfecção”

Exploração de Marte.Créditos: Pixabay
Escrito en TECNOLOGIA el

 A contaminação biológica de outros planetas, que ocorre quando astronautas transportam microrganismos hostis para fora do planeta Terra, é uma grande preocupação das missões interplanetárias — e com razão. 

Descobertas descritas por Keith Cowing e publicadas na revista Astrobiology indicam que bactérias que infectam humanos, potenciais causadoras de doenças, são capazes de sobreviver — e de se desenvolver — no ambiente natural do planeta Marte, que a NASA quer explorar com uma equipe de astronautas até 2030. 

O experimento consistiu em criar um ambiente similar àquele encontrado em Marte, com condições de temperatura, pressão e um solo equiparável à da superfície marciana, para testar três diferentes tipos de microrganismos: Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e Serratia marcescens

Apesar de serem inofensivos quando em organismos humanos saudáveis, essas bactérias podem tornar-se patogênicas sob estresse — quando associadas, por exemplo, a infecções hospitalares ou pacientes com o sistema imunológico comprometido. 

A Klebsiella pneumoniae, um dos organismos testados no experimento, está ligada às infecções respiratórias, como a pneumonia, infecções do trato urinário ou a quadros de sepse (estado infeccioso em que uma inflamação se espalha pelo organismo). 

Apesar de as pesquisas sobre Marte geralmente concentrarem seus esforços na testagem de bactérias extremófilas — aquelas capazes de sobreviver em condições extremas, como alto teor salínico, alto nível radiação e grandes variações de temperatura —, pesquisas em curso desde 2020 já se preocupam com aquelas bactérias que vivem dentro dos organismos humanos e podem crescer em ambientes apenas ‘medianamente difíceis’. 

E foi isso que as condições marcianas indicaram: de acordo com um pesquisador do Centro Espacial alemão, Tommaso Zaccaria, as três espécies de bactérias testadas sobreviveram ao experimento

Uma delas, a P. aeruginosa, conseguiu sobreviver com níveis de desenvolvimento alarmantes — durante 21 dias, a bactéria cresceu consistentemente, um resultado "notável" (e preocupante) para os pesquisadores.

Os cientistas sugerem que esses microrganismos podem ter encontrado "pequenos oásis com água, nutrientes e proteção suficiente contra radiação UV" para sobreviver, e agora querem entender melhor como o sistema imunológico dos seres humanos tende a responder a bactérias que já passaram por esses "testes físicos" intensos.

O risco de reinfecção humana por bactérias desenvolvidas e adaptadas em ambientes hostis, como o de Marte, poderia ser maior e mais fatal.

De acordo com pesquisadores ouvidos pela Science, os resultados apontam para a necessidade de diferentes tipos de antibióticos para lidar com novas doenças em potencial causadas por bactérias que deverão sofrer mutações e sobreviver para reinfectar humanos.