O sucateamento do sistema ao longo de sucessivas gestões fez com que o sistema de contenção das cheias dos rios Guaíba e Gravataí, inaugurado na década de 1970, ficasse vulnerável e não funcionasse como deveria. Mais de 5 décadas após sua inauguração, o sistema antienchente, que havia sido projetado para suportar o nível da água em até 6 metros, mostrou graves falhas de manutenção. Isso ocorreu apesar de Porto Alegre (RS) ter se preparado para se proteger das inundações após a enchente histórica que a destruiu em 1941 e de outra em 1967.
No sistema, encontram-se lacunas de até 10 cm entre as portas e o muro, sem qualquer vedação, motores de comportas que nunca foram substituídos, além de bombas que não operaram como deveriam e outras que foram roubadas. A única vez que o sistema foi reformado foi em 2012, sob o governo de Tarso Genro (PT), quando ganhou equipamentos mais mecanizados.
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Sob governos posteriores, como o de José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB), o sistema antienchente não recebeu mais manutenções, embora com avisos alarmantes de chuvas e temporais para a região Sul várias vezes. De acordo com informações fornecidas pela Prefeitura de Porto Alegre, não houve investimentos no sistema antienchente em 2023. A partir de 2022, observou-se uma queda nos recursos destinados à melhoria das estruturas. Problema agravado pelo atual prefeito, Sebastião Melo (MDB) que teria sucateado o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE).
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), inclusive, emitiu um alerta em 30 de abril sobre a possibilidade de um desastre no Rio Grande do Sul, quase uma semana antes da primeira fatalidade causada pelas fortes chuvas no estado. A negligência foi tamanha que, após o fechamento das comportas, a prefeitura teve que colocar sacos de areia atrás e na frente dos portões de aço para ajudar na vedação.
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Como funciona o sistema antienchente
Existem 44 km de diques internos no sistema de proteção de Porto Alegre. Além disso, o sistema inclui 68 km de diques de terra, que funcionam como barreiras. Destes, 24 km são elevações que separam o rio de importantes vias da cidade, como a rodovia BR-290 (conhecida como FreeWay), a Avenida Castelo Branco e a Avenida Beira Rio. O sistema também conta com 23 casas de bombas, que têm a função de bombear a água que poderia invadir a cidade pelos bueiros de volta para o rio. A estrutura de proteção é composta por um muro de concreto armado com 2,65 km de extensão, localizado na Avenida Mauá, e 14 comportas de aço, com metade delas distribuídas ao longo do muro.
A falta de vedação resultou em vazamentos nas comportas, com a água escapando pelas frestas laterais e por baixo das estruturas de aço. Uma das comportas chegou a colapsar. Além disso, a maioria das estações de bombeamento não conseguiu resistir à força da água. As bombas, submersas, tiveram que ser desligadas devido ao risco de choque elétrico. A situação se agravou com o extravasamento dos diques, com a água ultrapassando os barramentos de terra, como ocorreu no dique do bairro Sarandi, onde há risco de rompimento da estrutura.
Lula sinaliza negligência com o caso
"Esse fenômeno que aconteceu me parece que não foi só chuva. Me parece que teve um fenômeno também das pessoas que não cuidaram das comportas que deveriam ter cuidado há muito tempo", disse o presidente Lula em uma reunião virtual nesta segunda-feira (13) com o governador Eduardo Leite (PSDB) e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin.
"Mas tudo isso é um problema a ser resolvido daqui para frente. E nós vamos tentar apresentar a nossa contribuição ao povo do Rio Grande do Sul, inclusive apresentando uma discussão nacional sobre a questão de resolver definitivamente as enchentes na cidade de Porto Alegre e na região metropolitana", finalizou ele, que já vem priorizando o atendimento aos gaúchos e agendou uma terceira visita ao estado para esta quarta-feira (15), quando deve anunciar medidas para auxiliar as pessoas que perderam tudo com a tragédia. Leia mais nesta matéria da Fórum.