O assassinato de Vinícius Gritzbach nesta sexta-feira (8) em plena luz do dia no maior terminal aéreo do país, o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, deixou o Brasil em estado de choque. Ele, que colaborava com as investigações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi alvo de um ataque a tiros, que autoridades consideram uma possível “queima de arquivo”.
Neste sábado (9) a Polícia Federal (PF) abriu um inquérito em São Paulo para investigar o assassinato de Gritzbach. A decisão foi tomada em comum acordo entre o governo federal e o Ministério da Justiça, considerando a gravidade e a complexidade do crime, que envolve suspeitas de facção criminosa e possível conivência de agentes públicos.
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Em nota, a PF informou que vai trabalhar de forma integrada com a Polícia Civil durante as investigações.
Autores seguem foragidos
O empresário foi executado com 10 tiros enquanto deixava o Terminal 2 por dois homens que desceram de um carro preto. Até o momento, os autores do crime seguem foragidos.
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Segundo fontes do Ministério da Justiça e do governo, houve contato informal com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para iniciar o compartilhamento de informações, dado o histórico de cooperação entre as instituições no combate ao crime organizado.
Além disso, uma força-tarefa de promotores de São Paulo deve solicitar ao procurador-geral de Justiça do estado uma designação para acompanhar a investigação conduzida pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e buscará autorização judicial para o compartilhamento de provas com a direção do DHPP.
Ataque violento
Gritzbach foi executado a tiros ao deixar o saguão do Terminal 2 do aeroporto. Acompanhado de sua namorada e retornando de uma viagem a Goiás, ele foi alvo de um ataque violento foi feito com armas de alto calibre, incluindo fuzis e metralhadoras por volta das 16h. Outras três pessoas ficaram gravemente feridas, incluindo dois motoristas de aplicativo e uma pedestre.
O Corpo de Bombeiros prestou os primeiros socorros ao empresário, mas ele não resistiu aos ferimentos. Segundo as autoridades, o crime foi cometido por dois homens armados com um fuzil calibre 7.65, que fugiram em um carro preto, modelo Gol.
O celular de Gritzbach foi recolhido pela polícia e passará por perícia, com a análise de trocas de mensagens momentos antes do ataque sendo considerada uma peça-chave para o avanço nas investigações.
Armas apreendidas
Neste sábado, a polícia apreendeu duas armas — um fuzil e uma pistola — encontradas a cerca de 7 km do aeroporto, próximo ao local onde o carro usado pelos assassinos foi abandonado. A perícia ainda não confirmou se essas armas foram utilizadas no crime.
Escolta sob suspeita
A execução levanta questões sobre a escolta do empresário. De acordo com o relato dos seguranças, todos policiais militares de São Paulo, o carro que transportava a equipe para realizar a escolta de Antônio Vinícius Gritzbach até o Aeroporto de Guarulhos quebrou no trajeto.
Três dos quatro agentes teriam permanecido em um posto de gasolina com o veículo, enquanto apenas um deles foi até o aeroporto para buscá-lo. A decisão de deixar o empresário, delator do PCC e alvo de ameaças de morte, com uma escolta reduzida levantou suspeitas entre os investigadores, que estão apurando se houve falhas ou omissões na segurança.
Namorada presta depoimento
A namorada de Gritzbach, que não teve a identidade revelada, prestou depoimento na sede do DHPP logo após o atentado. Ela estava com o empresário no aeroporto no momento da execução, deixou o local antes da chegada da polícia. Durante o depoimento, seu celular foi apreendido para análise pela equipe de investigação.
Os policiais militares que integravam a equipe de segurança de Gritzbach também foram ouvidos pela Polícia Civil e pela Corregedoria da PM. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, eles foram afastados das atividades operacionais durante as investigações.
Em nota, a pasta declarou que "as corregedorias das polícias Civil e Militar apuram a atuação de seus agentes no caso mencionado". Os celulares dos policiais foram apreendidos pela 3ª Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur) e, após o depoimento, foram liberados.
Alvo do PCC
O empresário se tornou alvo do PCC após ser acusado pela facção de desviar R$ 100 milhões e de estar envolvido no assassinato do traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, o "Cara Preta", e seu motorista, Antônio Corona Neto, em 2021.
Gritzbach, que havia fechado um acordo de delação premiada com o MP-SP em março, era uma peça-chave nas investigações contra o PPCC.
Em seus depoimentos, revelou esquemas de lavagem de dinheiro e denunciou um delegado do DHPP que supostamente exigia propina para não o implicar no assassinato de “Cara Preta”, membro do PCC.
Gritzbach também forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis vinculados ao Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
Gritzbach negava envolvimento nos crimes e se declarava alvo de acusações infundadas, colocando-se como uma peça-chave nas investigações sobre o esquema financeiro da facção.
Delator do PCC premiada
Gritzbach, que havia firmado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo em março de 2024, era considerado peça-chave nas investigações sobre o PCC. No acordo, ele comprometeu-se a detalhar a estrutura e as operações financeiras da facção criminosa, informações que seriam cruciais para desarticular suas atividades.
Pouco antes de sua morte, Gritzbach havia solicitado maior segurança, afirmando em depoimento ao Ministério Público que se sentia como um "morto-vivo" devido às ameaças que vinha recebendo. Apesar dos riscos, ele teria recusado a proteção oferecida pelas autoridades.
Governador promete rigor nas investigações
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, usou as redes sociais para prometer uma investigação minuciosa sobre o caso e relacionou o crime ao envolvimento do crime organizado.
"Todas as circunstâncias serão rigorosamente investigadas e todos os responsáveis serão severamente punidos. Reforço meu compromisso de seguir combatendo o crime organizado em São Paulo com firmeza e coragem", afirmou o governador.
Desafios da Segurança Pública
A execução de Gritzbach levanta sérias questões sobre a proteção de delatores e expõe desafios para o Estado em garantir a segurança de indivíduos que colaboram com investigações contra organizações criminosas de grande porte.
O caso representa um obstáculo significativo para as autoridades brasileiras na luta contra o crime organizado e reforça o debate sobre a eficácia das medidas de proteção a testemunhas no país.
A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann, foi às redes sociais neste sábado (9) para defender a urgência de uma ação coordenada contra facções e o crime organizado assim como defende o presidente Lula na PEC da Segurança Pública.
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O presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, também comentou sobre o crime de Guarulhos pelas redes sociais.
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