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Ministério da Justiça também desmente Tarcísio sobre suposta orientação do PCC para voto em Boulos

Secretário Nacional de Segurança Pública afirma que inteligência do governo federal não identificou nada neste sentido; TRE já havia desmentido governador de SP

O governador Tarcísio Gomes de Freitas.Créditos: Pedro França/Agência Senado
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O governo Lula se manifestou na noite deste domingo (27) sobre a grave declaração do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, tentando associar Guilherme Boulos, candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Logo após votar e ao lado de Ricardo Nunes (MDB), seu candidato que se reelegeu para mais 4 anos à frente da prefeitura da capital paulista, Tarcísio afirmou à imprensa, sem provas, que integrantes do PCC orientaram familiares a votarem em Boulos. Trata-se de uma clara tentativa do governador, em pleno exercício do seu cargo, de interferir no processo eleitoral. Tarcísio comentou sobre um comunicado emitido pela SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) de São Paulo, que teria interceptado mensagens de membros do PCC orientando votos em algumas cidades do estado.

"A gente vem alertando isso há muito tempo. Nós fizemos um trabalho grande de inteligência, temos trocado informações com o Tribunal Regional Eleitoral para que providências sejam tomadas", disse. Perguntado sobre qual era o candidato no qual o PCC estaria orientando voto, ele respondeu: "Boulos".

A manifestação do governo Lula sobre o caso veio através do secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Mário Luiz Sarrubbo. Ele diz que os serviços de inteligência do governo federal não identificaram nenhum tipo de orientação de voto por parte de integrantes do PCC. 

"A inteligência do governo federal não indicou nenhuma orientação de facções criminosas para votação em candidatos nas capitais nesse segundo turno", declarou Sarrubbo. 

O secretário ressaltou, ainda, que sua pasta não recebeu nenhuma comunicação do governo de São Paulo neste sentido. "Nada foi compartilhado pelo governo estadual também", pontuou. 

Justiça eleitoral desmente Tarcísio 

Antes da manifestação do secretário Nacional de Segurança Pública, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), citado por Tarcísio em sua grave declaração contra Boulos, já havia desmentido o governador

"Nós fizemos um trabalho grande de inteligência, temos trocado informações com o Tribunal Regional Eleitoral para que providências sejam tomadas", havia dito Tarcísio. 

O TRE-SP, entretanto, informou em nota oficial que, diferentemente do que disse o governador, o órgão não foi acionado para tomar providências sobre o suposto caso. 

"Não chegou ao conhecimento do TRE-SP nenhum relatório nem nenhuma informação oficial sobre o assunto", diz a nota divulgada pelo tribunal. 

Boulos aciona Justiça contra Tarcísio: "Responderá por sua atitude criminosa" 

Guilherme Boulos, candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, divulgou uma nota oficial na tarde deste domingo (27) em que anuncia que acionará a Justiça contra o governador do estado, Tarcísio Gomes de Freitas, pela declaração que fez ao lado de seu adversário no segundo turno da eleição, Ricardo Nunes (MDB), tentando associá-lo à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). 

Segundo Boulos, Tarcísio tenta criar uma fake news em um "claro gesto de campanha". O candidato do PSOL classificou a atitude do governador como "vergonhosa e irresponsável".

"É criminosa a atitude do governador Tarcisio de Freitas de criar uma grave fake news em pleno domingo de eleições. Tarcísio é cabo eleitoral de Nunes, faz tal declaração ao lado do prefeito em claro gesto de campanha. Usa a máquina pública de maneira vergonhosa e irresponsável. Isso fere todos os preceitos democráticos", escreveu Boulos. "O governador Tarcísio responderá na Justiça por sua atitude criminosa", finalizou o candidato do PSOL. 

PT quer prisão de Tarcísio 

Em nota oficial, os diretórios municipal e estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), que compõe a chapa de Guilherme Boulos, defenderam a prisão de Tarcísio pela declaração sobre Boulos e PCC. Segundo a legenda, Tarcísio teria cometido abuso de poder. 

"O governador Tarcísio, em uma tentativa desesperada de encobrir os vínculos evidentes de Ricardo Nunes com o PCC, cometeu abuso de poder ao afirmar que a organização criminosa apoia o candidato da oposição. Os fatos mostram o contrário: é Ricardo Nunes quem tem relações com o PCC, tanto nas nomeações que fez quanto nas contratações da prefeitura que são objeto de investigação do Ministério Público. O desespero do governador deixa ainda mais claro o clima de virada que vemos nas ruas. Hoje é dia de votar 50; amanhã o governador responderá pelos seus atos. Ele deveria ser preso por usar a máquina pública para cometer mais esse crime eleitoral", diz a nota assinada por Kiko Celeguim (presidente do Diretório Estadual do PT de São Paulo) e Laércio Ribeiro (presidente do Diretório Municipal do partido). 

"Ultrapassou todos os limites" 

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Boulos classificou a declaração de Tarcísio como "inacreditável" e "extremamente grave", ressaltando que o governador não apresentou qualquer tipo de prova e que ventilou o assunto em uma tentativa de interferir nos resultados da votação que ocorre neste domingo. 

"É inacreditável, uma declaração extremamente grave, sem nenhum tipo de prova. Olha o nível! Eles devem estar fazendo pesquisas que devem estar mostrando a onda de mudança, a onda de virada, e partiram pro desespero absoluto. É inacreditável o que está acontecendo para tentar influenciar as eleições, tentar botar medo nas pessoas", declarou o candidato do PSOL. 

Guilherme Boulos afirmou, ainda, que a tentativa de Tarcísio de associá-lo ao PCC é tão grave contra o laudo falso divulgado por Pablo Marçal (PRTB) às vésperas do primeiro turno da eleição. O documento tentava associar Boulos ao uso de cocaína. 

No mesmo pronunciamento sobre a fala de Tarcísio, Boulos anunciou que tomará medidas judiciais contra o governador de São Paulo. 

"Vamos tomar todas as medidas cabíveis contra o governador e contra quem está divulgando essas mentiras. Ele tem informações? Então, mostre. É igual ao caso do laudo. Ultrapassaram qualquer limite. É desespero", pontuou Boulos. 

"No dia da eleição o governador faz uma declaração irresponsável, mentirosa. Olha a gravidade. Estão usando a máquina pública, na voz do próprio governador, inventando uma mentira à uma da tarde no dia da eleição", prosseguiu.