Na sessão plenário desta terça (29) a Câmara de Vereadores de Sinop (MT) foi palco de mais um ataque golpista, como diversos que têm ocorrido no país. Neste caso, o alvo foi a vereadora Graciele dos Santos. Assim que ela subiu ao púlpito, um grupo grande bolsonaristas vestidos de ver e amarelo começou a gritar, xingar e até ameaçaram arremessar objetos. O motivo seria uma fake news de que a parlamentar teria protocolado um projeto visando retirar os apoiadores do ainda presidente Jair Bolsonaro (PL) de acampamento montado à beira de uma rodovia, onde realizam protestos antidemocráticos contra o resultado da eleição que deu vitória ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Não há qualquer projeto neste sentido protocolado.
Diante da repercussão do caso, Lula fez uma ligação para Graciele em que classifica os agressores de fascistas. O presidente eleito prestou solidariedade a ela e disse tem orgulho da sua atuação. Ainda se colocou à disposição, dizendo que a vereadora pode entrar em contato por aquele telefone. Lula também fez postagens sobre o caso em suas redes.
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Ameaça constante
A parlamentar, que é também professora, conta que este não foi o primeiro ataque que sofreu. O único mandato de esquerda do município é representado pela também única mulher entre os 15 vereadores da casa. "Coração do agronegócio", como descreve Graciele, Sinop é uma das cidades que protagoniza os atos golpistas de bloqueio de estradas e até incêndio de caminhões nas últimas semanas. De acordo com ela, ameaças e agressões ocorrem em "várias situações, pelas pautas que defendemos, de preservação da Amazônia, combate ao racismo, não privatização da educação e da saúde públicas. Essas são pautas a que eles têm horror", explicando que em consequência de defender essas bandeiras, recebe com constância "esse tipo de ataque", incluindo ameaça de morte.
A primeira mensagem sobre o ato golpista realizado na Câmara nesta terça foi recebida no domingo (27) e estampava uma foto da professora ao lado de seu filho. Durante a sessão, a ação do grupo visava inviabilizar a sua fala, tendo sido utilizados "xingamentos de toda natureza", conta a professora, que classifica o momento como "um cenário dos piores dessas manifestações antidemocráticas".
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Pedidos protocolados
Para garantir a segurança pessoal da vereadora e de todas as pessoas presentes, o Diretório Municipal do PT protocolou pedidos de policiamento e equipamento de detecção de metal à Secretaria de Segurança Pública e ao Comando Geral da Polícia Militar. Chegou a solicitar, inclusive, que todas as sessões que ainda estão previstas para este ano tenham policiamento, entretanto, os pedidos não foram respondidos. A assessoria de comunicação da secretaria passou os contatos das assessorias das polícias militar e civil. A assessoria da PM se limitou a responder a esta reportagem que havia uma equipe da PM no local, a qual "garantiu que não houvesse tumulto". As imagens que circularam nas redes sociais, entretanto, evidenciam tumulto suficiente para impedir a fala da parlamentar, que foi retirada do plenário por funcionários da segurança da Câmara.
"Achei muito negligente por parte deles não fazer detecção de metal ao menos nesta sessão. Tivemos sorte de não ter acontecido alguma coisa pior", avaliou Graciele. Perguntada sobre a revista com detectores de metal, a assessoria da Polícia Militar respondeu que só poderia fazê-lo se fosse uma solicitação da presidência da Câmara. A petista chegou a enviar tal pedido ao vereador Elbio Wolkweis, mas também não obteve resposta.
A vereadora conta que têm ocorrido muitos atos de caráter violento, "por vezes, pessoas armadas, violência física, meu medo é que acontecesse [algo assim]". Ela afirma que está com bastante medo. A deputada federal Rosa Neide (PT-MT) chegou a conversar com a Polícia Federal (PF) para solicitar um policiamento permanente de proteção à integridade física da parlamentar, mas a reposta teria sido de que não havia efetivo nem histórico da polícia de realizar tal tipo de proteção. A própria Graciele pretende fazer nova conversa com a PF.
Confira o vídeo que registra a agressão: