INCITAÇÃO AO GOLPE

Villas Bôas retoma tom golpista de 2018 em novo tuite e se alia a carta apócrifa por golpe de militares

Em entrevista em 2021, Lula afirmou que, se fosse presidente, Villas Bôas seria preso. General, está na reserva, afirma que decisão sobre o tuite em 2018 foi do Comando do Exército.

Jair Bolsonaro e o general Eduardo Villas-Bôas em evento no Planalto.Créditos: Foto: Isac Nóbrega/PR
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Em novo tuite divulgado nesta terça-feira (29), o general da reserva Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, retomou o tom golpista de 2018 - quando fez uma publicação na rede às vésperas do julgamento de um habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que poderia libertar Lula (PT) da prisão - e se aliou à carta apócrifa de supostos militares da ativa pedindo golpe que circula em grupos de WhatsApp.

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No tuite, em que se diz surpreendido pela divulgação por apoiadores de Jair Bolsonaro de "generais melancias" - verde por fora e vermelho por dentro, em relação a suposto apoio a Lula -, Villas Bôas diz que "nossa força, em algum momento, pode ser instada a agir", em clara incitação a grupos golpistas que se concentram em frente a quarteis contestando o resultado das eleições presidenciais.

"Nesse momento extremo que a nação atravessa é imprescindível que a solidez das estruturas do Exército sejam preservadas. A história ensina que sempre que essas condições foram negligenciadas, produziu-se catástrofe para ela própria e para a Nação. Nossa força, em algum momento, pode ser instada a agir. Vamos, portanto, assegurar a tranquilidade necessária para a tomada de decisões por parte de nossos chefes", diz o texto.

Em grupos bolsonaristas, o recado de Villas Bôas foi entendido como mensagem cifrada para se manter as mobilizações em frente aos quarteis.

O tuite vem sendo divulgado nos grupos juntamente com a carta apócrifa que teria partido de militares da ativa. Em consonância com o tom golpista do tuite de Villas Bôas, o texto diz que "os integrantes da Força Terrestre, coesos, motivados e conhecedores de sua história, sempre estarão prontos para cumprir suas missões constitucionais, com base no mais sublime dos juramentos de '(…) dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja honra, integridade e instituições, defenderei com o sacrifício da própria vida'”.

A carta fala ainda em "alinhamento dos participantes com a legalidade, liberdade e transparência, atualmente tão requeridas pelo povo brasileiro" e insinua que as Forças Armadas seriam o "sistema de freios e contrapesos" para a harmonia entre os três poderes determinados pela Constituição: Executivo, Legislativo e Judiciário.

"Consideramos importante, portanto, que os Poderes e Instituições da União assumam os seus papéis constitucionais previstos em lei e em prol da pacificação política, econômica e social, especialmente para a manutenção da Garantia da Lei e da Ordem e da preservação dos poderes constitucionais, respeitando o pacto federativo previsto na regra basilar de fundação da República Federativa do Brasil".

O tema vem sendo tratado por oficiais-generais desde segunda-feira (28) e foi abordado na reunião do Alto Comando do Exército nesta terça (29). Os comandantes falam ainda em possível abertura de processos administrativos por transgressão disciplinar contra militares da ativa que assinarem o texto.

Em entrevista de mais de 13 horas ao diretor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), Celso Castro, da Fundação Getúlio Vargas, transcrita em livro, Villas Bôas afirmou que o tuíte contra libertação de Lula em 2018 foi decisão do Comando do Exército. 

"Sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo o expediente, até por volta das 20 horas", afirmou ele, sempre no plural.

Em entrevista coletiva dias depois, Lula disse que se fosse presidente da República à época, general Villas Bôas seria exonerado.

“Eu fiquei preocupado com a carta do Villas Bôas. Não é correto que um comandante das Forças Armadas faça o que ele fez. E eu se fosse presidente da República e ele tivesse aquele comportamento, seria exonerado a bem do serviço público na hora. Ele não está lá para dar palpite na política. Ele não está lá para decidir que vai ser presidente ou não. Quem tem que decidir é a sociedade civil, através do voto”, ressaltou o ex-presidente.

“Eu fiquei oito anos na presidência e nunca tive um problema com os militares. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica sabem que não teve um presidente, nem os militares, que investiu como eu nas Forças Armadas”, destacou.