O Exército Brasileiro está obrigando o jovem Pablo de Oliveira Lima, de 19 anos, a fechar sua empresa para que possa cumprir o serviço militar, mesmo com documentos que comprovam que ele é arrimo de família e único provedor financeiro de sua casa. O caso está sendo tratado pela 2ª Companhia de Comunicações Mecanizada (2ª Cia. Com. Mec.), em Campinas/SP, e já chegou a instâncias superiores em Brasília após a repercussão na imprensa. A decisão levanta questionamentos sobre os critérios utilizados pelo Exército na seleção dos convocados e expõe possíveis falhas no sistema de dispensa.
Pablo, que está matriculado no curso de Biomedicina da UniFAJ, é dono de uma empresa de transportes que fatura legalmente no seu nome e é a única fonte de sustento da família. Além disso, ele também possui um financiamento de veículo no valor de R$ 1.450 por mês, utilizado para os trabalhos da empresa. Ele não apenas detém o CNPJ, mas também é o responsável pela gestão administrativa da empresa, cuidando de contratos, emissão de notas fiscais e organização financeira.
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A convocação forçada ao serviço militar pode comprometer a estabilidade financeira da família e levar a consequências graves, como o endividamento e a impossibilidade de quitar compromissos essenciais. O impacto dessa decisão ultrapassa as fronteiras individuais e pode representar um problema recorrente enfrentado por diversos jovens empreendedores que dependem de suas atividades para sustentar suas famílias. Além disso, há um efeito colateral em nível econômico, uma vez que forçar o fechamento de empresas afeta diretamente a geração de empregos e movimentação financeira na região.
A mãe do jovem, Marcella Gonçalves de Oliveira Lima, relatou que a família precisou abrir um CNPJ no nome de Pablo após enfrentarem dificuldades financeiras e fecharem as próprias empresas. "Se fechar a empresa, como é que eu vamos pagar as contas? Temos nota fiscal que prova que a gente fatura tudo pela empresa do Pablo. O Exército simplesmente ignorou isso e mandou ele fechar a empresa até quarta-feira", afirmou. A decisão do Exército não levou em conta o impacto direto sobre a família, que depende do funcionamento da empresa para cobrir despesas básicas como moradia, alimentação e contas domésticas.
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A imposição levanta dúvidas sobre o equilíbrio entre dever cívico e direitos constitucionais, uma vez que a situação compromete diretamente a subsistência da família. Além disso, evidencia um possível problema estrutural no processo de alistamento, onde casos específicos não são analisados de forma detalhada, resultando em decisões arbitrárias que impactam negativamente a vida dos convocados e seus familiares.
A situação ficou ainda mais crítica quando a Polícia Civil, dentro do batalhão, identificou que Pablo possuía um CNPJ ativo. "Meu filho tentou explicar, levou todos os documentos, provou que a gente depende dessa empresa, mas a resposta que ele teve foi que todo mundo tem dívida e que ele teria que servir de qualquer jeito", contou Marcella. Segundo a mãe, essa inflexibilidade demonstra uma falta de critério claro e ignora a realidade de jovens que possuem responsabilidades financeiras, algo que deveria ser levado em consideração pelo Exército ao decidir sobre convocações.
O endurecimento da posição militar contrasta com a flexibilidade concedida em outras situações semelhantes, levantando dúvidas sobre a imparcialidade dos critérios adotados. Em outros casos, cidadãos que possuem influências ou recursos financeiros significativos conseguem ser dispensados do serviço militar sem dificuldades, o que expõe uma desigualdade preocupante no sistema de recrutamento.
O advogado do jovem, Cláudio Lino, notificou formalmente o quartel sobre a condição de Pablo, embasando o pedido no Decreto nº 57.654/1966 e na Lei do Serviço Militar (Lei nº 4.375/1964), que garantem dispensa a arrimos de família. Contudo, a resposta do Exército foi a exigência de fechamento da empresa ou transferência do CNPJ.
"O problema é que nem eu nem o pai dele podemos assumir a empresa, porque já temos uma MEI com problemas fiscais. Isso significa que, se Pablo servir, não teremos mais renda", explicou Marcella. A exigência imposta pelo Exército, além de arbitrária, pode inviabilizar a estabilidade financeira de toda a família e não leva em conta a necessidade de renda para manutenção de um lar. O caso de Pablo exemplifica a falta de previsibilidade do Exército na aplicação das regras e evidencia lacunas no processo decisório.
Outro ponto que gerou polêmica foi a tentativa de censura de publicações relacionadas ao caso. Segundo o relato da mãe de Pablo, o comandante da 2ª Companhia de Comunicações Mecanizada, capitão Thiago França Viscovini, teria solicitado que uma matéria anteriormente publicada pela Revista Sociedade Militar, abordando a situação de Pablo, fosse removida das redes. A justificativa dada seria o fato de que o caso já teria sido encaminhado ao Comando do Exército em Brasília.
O caso de Pablo expõe o questionamento sobre os critérios utilizados pelo Exército para determinar quem será convocado e quem será dispensado do serviço militar. Agora, com a revisão do caso em Brasília, resta saber se a instituição reconhecerá a situação de Pablo ou se ele será forçado a encerrar sua empresa e colocar sua família em risco financeiro.
O advogado ressalta que medidas judiciais podem ser tomadas caso o Exército insista na incorporação do jovem. "Legalmente, o jovem pode buscar recursos judiciais, como um mandado de segurança, para suspender a convocação até que seu caso seja adequadamente revisado, garantindo que seus direitos constitucionais ao trabalho e à livre iniciativa sejam preservados", explicou Lino.
A decisão do Exército terá um impacto significativo não apenas para Pablo e sua família, mas também para outras pessoas que possam enfrentar situações semelhantes no futuro. O caso pode abrir um precedente sobre a forma como as dispensas são concedidas e evidenciar a necessidade de um critério mais claro e justo na seleção de convocados para o serviço militar obrigatório.
Além disso, especialistas em direito militar alertam que a falta de clareza e coerência nas decisões de alistamento pode resultar em insegurança jurídica para os convocados e descontentamento generalizado na sociedade. O acompanhamento atento desse desdobramento poderá trazer à tona falhas estruturais no sistema de recrutamento e reforçar a importância de um debate público mais amplo sobre a justiça no alistamento obrigatório.
Atualização: Marcella Gonçalves de Oliveira Lima, mãe do Pablo, entrou em contato com a coluna hoje (27) informando que a situação do seu filho foi resolvida e que ele conseguiu a dispensa do serviço militar obrigatório na tarde desta quarta-feira (26).