MILITARES

PGR revela que Exército sabia que acampados em Brasília queriam destruir tudo e nada fizeram

Relatório da 7ª Companhia de Inteligência indicava a intenção golpista, mas Forças Armadas não impediram os ataques e tampouco a permanência dos acampamentos

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Documentos analisados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) revelam que o Exército Brasileiro monitorava as movimentações dos acampados em Brasília antes dos atos de 8 de janeiro de 2023 e sabia da intencionalidade golpista dos manifestantes. Entre as evidências reunidas pelo Ministério Público está um relatório produzido pela 7ª Companhia de Inteligência do Exército, intitulado "Eventos Relevantes Pós 2º Turno das Eleições de 2022", compartilhado internamente no dia 5 de janeiro daquele ano.

O documento, distribuído em grupos de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF), alertava sobre a convocação para a "Tomada de Poder", um dos códigos utilizados pelos golpistas para mobilizar manifestantes. O relatório identificava o crescimento das movimentações radicais, destacava o risco de ações violentas e mencionava nomes de pessoas envolvidas na organização dos atos, como "ABDALA JUNIOR" e "ANA PRISCILA AZEVEDO".

Apesar do monitoramento e da disseminação dessas informações dentro dos órgãos de segurança, nenhuma ação efetiva foi tomada para impedir a invasão e depredação das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário. A PGR argumenta que a ausência de medidas preventivas reforça a tese de omissão deliberada ou conivência de setores das Forças Armadas e da segurança pública.

Além disso, mesmo cientes dos riscos, os militares não só se negaram a agir, mas também impediram o desmonte do acampamento em diversas ocasiões antes do 8 de janeiro. Segundo o depoimento de Eduardo Naime à CPMI do 8 de janeiro, o Exército "frustrou todos os planejamentos e tentativas" da Polícia Militar para desmobilizar a aglomeração.

Negativa de informações e tentativa de encobrimento

O Exército tem se recusado a fornecer detalhes sobre o monitoramento dos acampamentos golpistas. Conforme revelado pela Revista Fórum, a instituição negou um pedido de acesso à informação, alegando que a solicitação envolveria um "grande volume de dados" e poderia comprometer a segurança nacional. A recusa levanta suspeitas de que os documentos contêm informações que poderiam comprovar a inércia ou até mesmo o apoio de alguns setores militares aos atos antidemocráticos.

A insistência na falta de transparência contraria a legislação de Acesso à Informação (LAI) e reforça a tese de que setores das Forças Armadas participaram, direta ou indiretamente, da escalada dos atos de 8 de janeiro.

A PGR segue utilizando os documentos reunidos na investigação para responsabilizar não apenas os executores da tentativa de golpe, mas também aqueles que tinham informações suficientes para evitar o ataque e não agiram. A negativa do Exército em divulgar dados sobre os acampamentos golpistas reforça a percepção de que setores militares atuaram para proteger os envolvidos e impedir que sua omissão fosse exposta.

Responsabilização e desdobramentos

A recusa em divulgar informações também levanta questões sobre o grau de envolvimento de oficiais superiores nos eventos que culminaram nos ataques. Segundo especialistas, há indícios de que setores dentro das Forças Armadas possam ter facilitado a continuidade dos atos golpistas ao não agirem conforme o esperado.

A investigação conduzida pela PGR busca ampliar as responsabilizações, incluindo a necessidade de depor oficiais que tinham acesso a esses relatórios. O Congresso Nacional também avalia a possibilidade de abrir novas frentes de apuração para esclarecer quais agentes internos contribuíram direta ou indiretamente para a omissão.

Os próximos meses serão cruciais para definir o alcance da responsabilização dos envolvidos e entender se a tentativa de golpe teve apoio mais profundo dentro das instituições militares. A falta de transparência do Exército apenas reforça as suspeitas e alimenta a pressão por respostas concretas.

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