MILITARES

Denúncia da PGR detalha colaboração dos militares em conspiração golpista

Documento detalha encontros, pressão sobre generais e o uso de desinformação militar na tentativa de impedir a posse de Lula

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Escrito en BRASIL el

A recente denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) revela um esquema detalhado de cooptação de setores das Forças Armadas para apoiar uma tentativa de golpe de Estado liderada pelo então presidente Jair Bolsonaro. O documento descreve reuniões secretas, pressões sobre oficiais superiores, mobilização de unidades de elite e uma ampla campanha de desinformação. Enquanto alguns militares aderiram ao plano, a resistência de parte da cúpula foi crucial para evitar a ruptura institucional. A PGR aponta que a conspiração foi organizada em várias etapas, com diferentes setores do governo e das forças de segurança desempenhando papéis estratégicos.

Reuniões estratégicas com Bolsonaro e pressão sobre generais

A primeira grande investida para obter apoio militar ao golpe ocorreu em 7 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro reuniu-se no Palácio da Alvorada com General Freire Gomes (Comandante do Exército), Almirante Almir Garnier Santos (Comandante da Marinha) e General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (então Ministro da Defesa). Na ocasião, o ex-presidente apresentou uma minuta de decreto golpista que previa novas eleições e a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A negativa dos comandantes levou a novos encontros. Em 9 de dezembro de 2022, Bolsonaro reuniu-se com seu ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente, General Braga Netto, além de Mauro Cid e outros assessores, buscando alternativas para garantir apoio dentro do Exército. Testemunhas confirmam que nesses encontros foram discutidas formas de contestar os resultados das eleições e criar um ambiente propício à adesão militar.

Paralelamente, generais que se recusavam a apoiar o golpe passaram a ser alvo de pressão e ataques sistemáticos. A PGR relata que "a resistência dos Comandantes custou-lhes o recrudescimento das campanhas de ódio por parte da organização criminosa". Essas campanhas incluíram ataques virtuais, ameaças veladas e tentativas de deslegitimação pública.

Mobilização de militares das Forças Especiais

Outro aspecto revelado na denúncia foi a tentativa de mobilização de militares das Forças Especiais do Exército, conhecidos como "Kids Pretos", grupo de elite treinado para operações clandestinas. A PGR relata que um general de excepcional prestígio chegou a afirmar a Bolsonaro que, caso ele assinasse um ato formal de rebeldia, estaria disposto a posicionar o Exército para consumar o golpe.

As investigações indicam que militares de diferentes patentes receberam ordens para monitorar oficiais contrários ao golpe e buscar formas de neutralizá-los caso a situação escalasse para um enfrentamento institucional. Relatórios internos das Forças Armadas mostram que havia movimentações incomuns em unidades estratégicas, indicando que parte da tropa estava sendo preparada para um possível levante.

Plano “Punhal Verde” e Atos de Violência Planejados

Um dos documentos mais impactantes revelados pela investigação foi a existência do plano chamado “Punhal Verde”, um detalhado roteiro de insurreição violenta. Segundo a PGR, o plano previa "neutralizar autoridades públicas centrais do sistema democrático", incluindo sequestros, prisões e mortes. A operação previa também o fechamento de vias estratégicas e a imposição de um toque de recolher militar para evitar reações imediatas da população.

Depoimentos de envolvidos apontam que unidades das forças especiais foram instruídas a agir em caso de confronto com forças de segurança legalistas, e que havia um plano para reter juízes e parlamentares considerados obstáculos à transição forçada do poder. Segundo um oficial de inteligência, "o plano previa a tomada de Brasília e a neutralização de pontos-chave de resistência em até 48 horas".

Uso de desinformação militar e guerra informacional

Outro pilar do plano golpista foi a utilização de táticas de Comunicação Estratégica do Exército para espalhar desinformação e enfraquecer a confiança na democracia. A PGR descreve que "as Forças Armadas deveriam realizar esforços deliberados para criar, fortalecer ou preservar condições favoráveis ao plano golpista".

Os conspiradores utilizaram redes sociais e mídias tradicionais para espalhar teorias de fraude eleitoral, criar uma sensação de instabilidade e justificar a necessidade de uma “intervenção cívico-militar”. Documentos apreendidos indicam que campanhas coordenadas foram planejadas para convencer a população de que o governo eleito era ilegítimo e para estimular mobilizações populares em apoio à causa golpista.

Grupos de inteligência ligados ao Exército produziram análises sobre como manipular a opinião pública e criar uma base de apoio suficiente para sustentar a insurreição. A investigação apontou que houve a circulação de materiais falsificados, incluindo documentos e relatórios fraudulentos, que foram utilizados para alimentar a desconfiança na lisura do processo eleitoral.

O fracasso do golpe e a resistência militar

A despeito da intensa mobilização, a tentativa de golpe fracassou devido à recusa de parte da cúpula militar em aderir ao plano. A resiliência de generais como Freire Gomes e de setores do Exército legalista foi fundamental para impedir a ruptura institucional. O Alto Comando do Exército permaneceu dividido, mas a falta de consenso impediu que as ações fossem adiante.

A PGR conclui que, embora o golpe não tenha se concretizado, as ações realizadas foram suficientemente graves para configurar crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa e incitação ao crime. A expectativa é que novos desdobramentos e investigações aprofundem o papel de cada militar envolvido na conspiração, podendo levar a processos disciplinares e penais contra oficiais que participaram ativamente das articulações golpistas.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar