Que Pablo Marçal (PRTB), o coach goiano candidato à Prefeitura de São Paulo e condenado por integrar uma quadrilha de fraude a bancos, gosta de insultar seus adversários com acusações completamente sem sentido e ausentes de provas, isso todo mundo já percebeu. No entanto, tal prática usada pelo forasteiro que quer governar a maior cidade do Brasil também é empregada contra cidadãos comuns, tendo em vista o ocorrido na quarta-feira (11), na Bienal do Livro.
A notícia de que Marçal simplesmente começou a chamar um livreiro que participa do evento editorial de “cheirador”, só porque ele o vaiou em seu “comício” fora de hora e de lugar, circulou o país nas últimas horas. A Fórum foi então ouvir Rodrigo Barros, o Rodo, alvo do ataque, para entender exatamente o que aconteceu no episódio lamentável.
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“Antes de começar a ação dele, o pessoal dele já estava chamando esses garotos e organizando, de forma orquestrada, os estudantes de uma escola específica, orientando essa turma a fazer o ‘M’ quando ele aparecesse... Quando ele saiu da área onde fica a direção da Bienal e foi para o público, ele passou em frente do meu estande, e aí eu e outras pessoas o vaiamos... Ele então me olhou e falou algo que não entendi, e depois ele fez para mim aquele sinal que ele faz para o [Guilherme] Boulos, e passou a me chamar de ‘cheirador’... Eu estava muito próximo dele, bem na frente do meu estande, e perdi a compostura... Como aquele sujeito estava ofendendo a minha moral? Ele nem me conhece e me chama de ‘cheirador’, o que é isso?”, começou explicando Rodo.
O livreiro, que dirige a Cartola Editora há seis anos e está participando da Bienal como expositor pela segunda edição consecutiva, relatou que resolver ir em direção a Marçal após os insultos, mas que os guarda-costas do coach impediram que ele chegasse fisicamente ao candidato. Rodo conta que o staff de Marçal usou crianças para atacá-lo, prevendo alguma reação da sua parte.
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“Eu parti pra cima dele, mas os seguranças não deixaram eu chegar. Ele continuou fazendo sinal de que eu era ‘cheirador’ e tal... Aí alguém da equipe dele pegou uns três menininhos, alunos, de uns 13 anos, e mandou vir para perto de mim e ficar me xingando, claro que para ver se eu teria alguma reação contra as crianças, porque seu eu fizesse isso, obviamente, eu ia ter problemas”, relembra.
Rodo diz que é inacreditável que um espaço consagrado como a Bienal do Livro sirva de palco para um cidadão fascista, com histórico de crimes e que prega censura abertamente, inclusive dentro do evento.
“Era um monte de adolescentes o ovacionando, gritando o nome dele, uma coisa planejada... Ele em cima dos ombros de um dos seguranças e fazendo comício no meio da Bienal, dizendo que ia tirar livros das bibliotecas das escolas se for prefeito... Me entristece muito ver um espaço de um evento literário como a Bienal servir de palanque para esse tipo de pessoa, tratando ele como celebridade, um sujeito abjeto, um fascista, que é o que ele é, usando crianças para alavancar o fascismo... Vir num evento que celebra o livro para anunciar censura, um cara que não deveria nem estar na política se estivesse pagando pelos crimes que cometeu, alguém que não tem nada de bom”, desabafa o editor.
Por fim, a vítima de uma acusação grave por parte de Marçal, num local público, afirma que é necessário entender melhor como figuras desse tipo ganham notoriedade, assim como aprender a lidar com isso para que não fiquemos à mercê de gente assim.
“É difícil, porque a gente ainda não sabe como lidar com isso... São fascistas que vêm do meio digital, e ninguém sabe exatamente o que fazer... É muito triste imaginar que a gente pode entregar a maior cidade da América Latina nas mãos de um cara que defende censurar livros, um coach charlatão que já levou gente até à morte”, concluiu Rodo.
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