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Projeto na África não é de Marçal e tem maioria sem luz, água e morando em casas de lata

Embora seja financiador, coach não cumpriu nem metade da promessa de construção de casas

Maioria das familias vivem em barracos de lata que chegam à temperatura de 50ºC.Créditos: Simão Hossi/FolhaPress
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O projeto social da ONG Atos, em Camizungo, na África, seria a principal responsável pela transformação na vida da comunidade, levando escola, posto de saúde, campo de futebol e outras melhorias através de mais de mil doadores. Embora o candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) tenha propagandeado seu investimento no local em diversos vídeos, nem tudo é o que parece. 

Apesar das promessas de realojar quase 350 famílias, a maioria ainda vive em condições precárias, com falta de água e energia em algumas das casas já construídas, contrastando com a imagem idealizada nas redes pelo coach. A informação foi revelada pelo portal The Intercept no dia 5 de setembro.  Um dos estereótipos utilizados pelo candidato nos vídeos inclusive tem sido o de que "antes ninguém trabalhava", reforçando o mito da "meritocracia".

A narrativa de uma comunidade totalmente ociosa antes da chegada do projeto é contestada por Pedro Fortaleza, coordenador da associação de moradores. Ele afirma que em 2018, os moradores já trabalhavam em um centro de agricultura sustentável, iniciativa anterior à chegada do influenciador. Essa informação contradiz a afirmação do advogado, Tassio Renam, que generaliza a comunidade, dizendo que "o pessoal tinha a mentalidade de não fazer nada e não produzir nada". 

Marçal teria arrecadado mais de R$ 4,5 milhões em doações em filmes e vídeos nos últimos cinco anos, mas ainda segundo a reportagem do The Intercept, uma visita ao local revela uma discrepância: das 300 casas prometidas, apenas 30 foram construídas. Segundo um funcionário, apenas as primeiras unidades receberam móveis, graças a doações de terceiros. 

A falsa promessa de moradias atraiu um grande número de famílias para Camizungo, agravando a situação da comunidade, que já enfrenta escassez de recursos e serviços. Em entrevista ao UOL, Marçal afirmou que todos os recursos arrecadados em seus aniversários e eventos na África eram destinados a Camizungo. No entanto, apesar de garantir fundos suficientes para construir pelo menos 90 casas, as obras não avançaram. Questionado sobre essa discrepância, Marçal não respondeu.

Além disso, o empresário solicitou doações para Camizungo utilizando CNPJs de organizações com pouca conexão aparente com o projeto em Angola, segundo o site. A ONG, registrada em junho de 2023 com Milene Lima Sousa como diretora e Beatriz Souza de Oliveira como presidente, aparece vinculada ao projeto Camizungo em um filme publicado por Marçal. 

No entanto, nenhuma das administradoras é identificada como representante da organização em seus materiais institucionais. Beatriz, inclusive, é prestadora de serviços da prefeitura de Prata, segundo o Portal da Transparência.

Pelo menos R$ 1,5 milhão arrecadados durante o leilão de aniversário de 2023 foram direcionados a outra organização, o Centro Vida Nordeste. Liderada por Rosana Tavares da Silva Menezes e José Leandro Ferreira de Almeida, a ONG declara em seu site atuar na área ambiental no semiárido brasileiro. No entanto, não há registros de atividades do Centro Vida Nordeste em Angola.

*Com informações de The Intercept