ELEIÇÕES 2024

"Guerra espiritual": Nunes esnoba Bolsonaro e aposta em Malafaia para barrar Marçal

Após pesquisa Quaest, campanha de Nunes resolveu escantear definitivamente Bolsonaro no primeiro turno das eleições em São Paulo e aposta todas as fichas em Malafaia para frear subida de Marçal

Ricardo Nunes, Bolsonaro com Malafaia e Pablo Marçal no ato do 7 de Setembro.Créditos: Reprodução de vídeo / Instagram
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Os candidatos da ultradireita bolsonarista transformaram as eleições em São Paulo em uma distopia, que mais parece um prenúncio de O Conto de Aia, romance de Margaret Atwood transformado em série de TV que mostra uma ditadura religiosa cristã alçada ao poder nos EUA após um atentado terrorista contra o presidente.

Em um misto de teologia cristã e coach, Pablo Marçal (PRTB), que entrou na disputa e rachou a ultradireita bolsonarista, decretou uma "guerra espiritual" após travar uma batalha contra Silas Malafaia, guru de Jair Bolsonaro (PL), que oficialmente apoia Ricardo Nunes (MDB).

Após pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta-feira (11), que mostra os dois ultradireitistas numericamente à frente na disputa, a campanha de Nunes resolveu escantear definitivamente Bolsonaro no primeiro turno das eleições e aposta todas as fichas em Malafaia.

O estudo mostra que os dois polarizam no eleitorado evangélico, onde Marçal subiu 10 pontos desde o dia 28 de agosto e chegou a 37% das intenções de votos. Nunes ocupa a segunda colocação, saltando de 18% para 26% - dois pontos menos que o adversário - nesse nicho.

A análise dos aliados de Nunes, segundo Bela Megale n'O Globo, é que Malafaia seria a única opção para enfrentar o coach e rachar o eleitorado evangélico, atrelado desde 2018 ao bolsonarismo e às pautas conservadores.

Malafaia, que vinha se mantendo distante da disputa na capital paulista, voltou seu canhão de impropérios contra Marçal desde o sábado, 7 de Setembro, quando impediu que o ex-coach, que chegou ao final do ato na paulista, subisse no trio elétrico para fazer vídeos de "lacração" ao lado de Bolsonaro.

Na noite de terça-feira (10), Malafaia apelou chamando o ex-coach de "frouxo" e "psicopata" e incitou apoiadores a atacá-lo nas redes.

Dirigindo-se ao eleitorado evangélico, Malafaia tem ancorado seu discurso na "megalomania" de Marçal ao mostrar uma publicação em que o ex-coach diz ser "Davi", o segundo rei de Israel na narrativa bíblica.

"Me chama de Eliabe [irmão mais velho de Davi] e ele se chama de Davi. Olha a megalomania. Ele é herói, ele é o cara. E ele mente. Diz lá que eu ataco ele, porque ele não quis se submeter a mim. Tu é um mentiroso, coloco a mão na Bíblia", emenda Malafaia.

Campo de batalha

Em resposta, Marçal tem evitado ataques diretos a Malafaia, recorrendo a ironias finas e a pedidos de "paz". Em resposta ao segundo vídeo com ataques, ele chegou a publicar com um Malafaia sorridente ao seu lado.

No entanto, o ex-coach vai escalando o embate nos bastidores do eleitorado evangélico.

No sábado, após ser barrado por Malafaia no 7 de Setembro, ele viajou a Goiânia, sua terra natal, para pregar em tom messiânico no ato de celebração dos 25 anos da Igreja Videira no Estádio Serra Dourada.

No evento, Marçal convocou aliados "de todo o Brasil" para uma "guerra espiritual" e se colocou como um enviado de Deus para repetir, com Jair Bolsonaro (PL), a história bíblica de Davi que sucedeu Saul, o primeiro rei de Israel.

Na narrativa bíblica, Davi significa “amado e respeitado por Deus”, enquanto Saul significa “pedido a Deus”. O segundo teve seu reinado cancelado por ter "desobedecido" a Deus, que teria levado o primeiro, pastor de ovelhas e obediente, ao trono.

Após a pregação, Marçal abriu uma caixa de perguntas em seu novo perfil no Instagram. ndagado por que "torce" para Bolsonaro voltar, "se no momento ele não torce por você", o ex-coach usou a narrativa bíblica para se colocar como ungido por Deus para suceder o ex-presidente.

"Quem conhece a Bíblia sabe que minha relação com o Bolsonaro é a mesma de Saul e Davi. O Davi precisa ter paciência para o reinado de Saul chegar ao fim. Enquanto ele tiver chance eu vou apoiá-lo porque sei que foi Deus que o levantou. Não é sobre Pablo e Bolsonaro e sim a libertação e a prosperidade de um povo", escreveu.

Diante de um seguidor que disse que "o protesto [de 7 de Setembro] era a favor da liberdade de expressão e você foi barrado pelo Bolsonaro", o ex-coach evitou polemizar e afirmou que "quem barrou foi o Malafaia".

"Guerra espiritual"

Proclamado como um "videiriano", em relação ao nome da Igreja goiana que organizou o ato em que pregou no sábado à noite, Marçal se colocou como um interlocutor direto de Deus, dizendo ter recebido a profecia que o Brasil será "a nação mais próspera da Terra".

No entanto, segundo ele, para isso acontecer precisará ser implantada uma guerra espiritual para expulsar até o último "comunista" do país.

“Quero falar para os irmãos, entrem na guerra espiritual pelo país. Eleição não é um negócio [do qual] que o cristão tem que sair, porque aqui a gente ouvia o pastor Aluizio ensinando isso”, disse, afagando o líder da Videira, Aluizio Silva.

Se colocando como "um general" do reino de Deus nesse tempo, o ex-coach citou versículos bíblicos e disse que é “suficientemente louco para fazer a vontade de Deus em meio à sua geração”.

“Foca nisso aqui que está acontecendo agora. O Senhor liberou uma palavra para o Brasil e quero compartilhar com vocês. Até 2025, nós seremos a nação mais próspera da Terra. E esse movimento da graça, do reino, vai expandir, vai entrar na política, na educação, na Justiça, na empresarização, vai contaminar a sociedade inteira do Brasil”, afirmou em 10 minutos de pregação.

Nas redes, o ex-coach compartilhou uma reportagem sobre o ato em Goiânia e incitou os seguidores: "bora pra guerra?".