RACISMO RELIGIOSO

Polícia invade terreiro no DF, xinga Bábàlorisá e chama a casa de “inferno”

Em uma das filmagens, agentes da PMDF proferem palavrões contra as pessoas presentes no local. Um dos policiais é ouvido chamando os membros do terreiro de "macumbão"

Polícia invade terreiro no DF, xinga Bábàlorisá e chama a casa de “inferno”.Créditos: Reprodução / X @fabiofelixdf
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Na noite desta terça-feira (23), a Casa Ilê Asé Omin Yemonjá Ogunté, localizada em Planaltina, foi invadida pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). A ação policial ocorreu durante a busca por um homem suspeito de tráfico de drogas em via pública.

De acordo com vídeos e relatos divulgados, o suspeito, já algemado, entrou no terreiro enquanto era perseguido pelos policiais. As imagens mostram um agente da PMDF segurando o homem, que apresentava ferimentos na cabeça. Em outro momento, outros policiais são vistos pulando o muro do terreiro em busca do rapaz.

Em uma das filmagens, agentes da PMDF proferem palavrões contra as pessoas presentes no local. Um dos policiais é ouvido chamando os membros do terreiro de "macumbão". "Sem nenhuma preparação, arrombaram o portão, invadiram o terreiro, que estava em função, adentraram os quartos de santo e chamaram o nosso espaço sagrado de inferno", afirma uma publicação da Casa nas redes sociais.

Pai Uanderson, líder religioso da Casa Ilê Asé, fez um desabafo em suas redes sociais que estava no pátio coordenando um trabalho espiritual quando a abordagem começou. "Por volta das 18h30, estava abrindo meus trabalhos espirituais, quando de repente, meu irmão invade minha casa algemado com a polícia segurando nele", contou.

O líder religioso descreveu a agressão sofrida pelo homem algemado: "O policial o jogou no chão. Ele jorrava sangue pela boca, nariz, ouvidos, com um corte imenso na cabeça. Ele caiu algemado de barriga para cima e o policial subiu em cima dele. Pedi ‘-por favor, para com isso! Você vai matar ele’. De tanto eu pedir e implorar, o policial o soltou e saiu. Depois, invadiram minha casa, pularam os muros, profanaram minha casa, invadiram meu templo, invadiram meu corpo espiritual."

Aos prantos, o chefe espiritual da Casa continuou: “eles me xingaram de desgraça, me xingaram de inferno, falaram que aqui era um inferno, que eu era uma desgraça, (...) apontaram armas pra gente, meu Deus, que humilhação!’

Uanderson explicou que o foragido é seu irmão biológico, mas que ele não faz parte da religião. "O detido é meu irmão, mas nem mora aqui. Não sou a favor disso. Se errou, tem que pagar. Não apoiamos isso. Mas, agora, bater e espancar uma pessoa que já estava algemada no chão. Tinha mais de 15 policiais invadindo e profanando minha fé", afirmou em um vídeo publicado no seu instagram.

Pai Uanderson e seu filho também receberam ordem de prisão e foram levados à delegacia, onde os policiais acusaram os membros da casa de agressão.

Deputado pede respeito e cumprimento da lei

O deputado distrital Fábio Félix (PSOL-DF) também se manifestou pelas redes sociais, onde publicou o seguinte texto:

“Mais um caso de intolerância religiosa praticada por agentes do estado. Policiais invadiram um terreiro em Planaltina, desrespeitaram as cerimônias que estavam sendo realizadas e as pessoas que estavam no local.
A busca por um suspeito na noite desta última terça, que teria entrado no Ilé Asè para fugir das agressões policiais, não pode ser desculpa para o racismo religioso e para o desrespeito a um lugar sagrado.
Nosso total apoio ao babalorixá Uanderson de Oxossi e demais integrantes da comunidade.”

À Fórum, Fabio disse, através de sua assessoria de imprensa, que “estamos acompanhando mais um caso de intolerância religiosa praticada por agentes do estado. É inaceitável esse tipo de violência contra terreiros e praticantes das religiões de Matriz Africana. No DF, uma lei de minha autoria pune a prática de racismo religioso principalmente quando cometida por agentes públicos. A Comissão de Direitos Humanos está acompanhando de perto este caso e vamos cobrar uma investigação rigorosa”

O deputado distrital ainda convida todas as pessoas contrariadas com esse abuso da PMDF para um ato denominado “Xirè na rua contra o racismo religioso”, no próximo sábado, dia 27/07, no Ilé Asè Omin Yemonjá Ogunté, no setor residencial leste Vila Buritis, em Planaltina. Para que mais casos como esse não ocorram em nosso Brasil.