RACISMO

Testemunha revela que mulher que imitou macaco é argentina e ia participar de fórum de educação no Rio

Comissão de Combate ao Racismo da Câmara de Vereadores solicita punição do casal

Argentina que imitou macaco no Rio.Créditos: Reprodução
Escrito en BRASIL el

Nesta segunda-feira (22), a jornalista Jackeline Oliveira apresentou à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) um vídeo que registrou um flagrante de racismo. No vídeo, uma mulher argentina e um homem brasileiro são vistos imitando macacos durante uma roda de samba na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, na noite de sexta-feira (19).

A mulher que imitou macacos foi identificada como argentina de Buenos Aires, participante do Fórum Latino-americano de Educação Musical. O homem que a acompanhava e também participou das imitações é brasileiro e residente do Rio de Janeiro. O caso, que está sendo investigado como racismo, foi confirmado pelo próprio Fórum Latino-americano de Educação Musical, que comunicou em suas redes sociais a participação de um dos envolvidos no evento.

Na noite de sexta, Jackeline estava na roda de samba e, ao sair para comprar uma água, avistou o homem e a mulher, ambos brancos. Inicialmente, ela pensou que se tratava de uma dança, mas rapidamente percebeu que não. Após algum tempo observando, decidiu gravar a cena. Ciente da gravidade do ocorrido, no dia seguinte, através de suas redes sociais, Jackeline denunciou o caso.

"Quando o caso ganhou toda essa repercussão nas redes sociais, eu não imaginava que teria tanto impacto. Mas a população se mobilizou, porque isso não pode ser mais um caso de racismo. Tem que haver algum tipo de punição", disse a jornalista à Globo.

Ao ver o vídeo, a vereadora Mônica Cunha expressou revolta. "Foi revoltante, porque isso dá gatilho em nós que conhecemos o racismo. É muito triste ver duas pessoas que, em vez de aproveitar o evento, fazem uma coisa dessas." Após sair da delegacia, a advogada Raíza Palmeira anunciou que, além da investigação policial, o caso será encaminhado ao Núcleo de Combate ao Racismo e à Discriminação Étnico-Racial (Nucora) da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

Nota do Fórum, na íntegra:

Está sendo veiculado em mídias e redes sociais, vídeos de duas pessoas brancas fazendo movimentos sugestivos de “macacos” durante a realização de uma roda de samba na Praça Tiradentes - Rio de Janeiro, na sexta-feira, dia 19/07/2024.

Uma dessas pessoas participou do XXVIII Seminário Latino-americano de Educação Musical, que nesta oportunidade aconteceu na cidade, já que a cada ano um país latino-americano diferente é anfitrião.

Salientamos que tais pessoas NÃO são associados ao Fladem Brasil. Este vídeo foi gravado já quando todo o Seminário havia terminado e não teve a ver com nenhuma das atividades acadêmicas, pedagógicas ou culturais que foram desenvolvidas durante nosso evento. É importante dizer que atos individuais realizados dentro e fora dos espaços do FLADEM são respondidos de forma particular dentro das esferas competentes. Com isto, queremos explicitar que repudiamos categoricamente este tipo de ação. A seção brasileira do FLADEM, o Fladem Brasil, foi apenas o anfitrião do Seminário e as atividades desenvolvidas ali foram e são de responsabilidade da seção internacional do Fórum.

O FLADEM solicitou à seção brasileira do Fórum que inicie um processo para que a situação seja investigada e que tudo se proceda conforme as leis brasileiras.

O FLADEM é um fórum que respeita e defende todas as culturas e etnias, que fomenta a participação de todos com igualdade, promove a Educação Musical a serviço da integração sócio-cultural e da solidariedade, canalizando positivamente as diferenças de todo tipo. Com isso, sabemos que racismo é CRIME, e como tal, repudiamos veementemente qualquer ato de discriminação!

Estamos envergonhados com tal ato, mesmo sabendo que esse tipo de atitude não faz parte de nenhuma maneira de nossas práticas.

Sem mais para o momento,

Junta Diretiva Internacional do FLADEM.

Entenda o caso 

Uma cena ridícula e carregada de racismo foi registrada pela jornalista Jackeline Oliveira, que atua no gabinete da vereadora Monica Cunha (PSOL), na noite da última sexta-feira (19), em uma roda de samba na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.

No samba conhecido como “Pede Tereza”, com grande predominância de pessoas negras presentes, um casal branco começou a dançar imitando macacos, fazendo inclusive sons de animais.

Em um determinado momento, a mulher finge pegar piolhos na cabeça do sujeito que estava com ela. Várias pessoas olham a cena, mas ninguém se manifestou.

Jackeline relatou ao compartilhar a cena que sua reação foi obter provas e pedir a retirada do casal do local pelos seguranças.

“Toda vez que eu vejo um caso de racismo na rua, eu fico me perguntando: ‘Por que as pessoas não impediram? Por que ninguém fez nada?’ Aí, é por isso! Porque o racismo constrange a gente ao ponto de ter mais de 50, 60, 100 pessoas em volta daquelas pessoas, pessoas pretas, e ninguém fazer nada, homens e mulheres, ninguém fazer nada”, escreveu ela.

Organização repudia o ato

A organização do samba “Pede Tereza” repudiou o caso nas redes sociais:

“Desculpem a demora. Como vocês podem ver, já acordamos tocando. Mas ontem, no Pede Teresa, teve um caso de racismo. Racismo é crime, e não vamos tolerar. E, por um acaso, a Jackeline Oliveira, que é do gabinete da vereadora Mônica Cunha, que é presidente da Comissão de Combate ao Racismo na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, estava lá e fez um vídeo que vocês vão ver: um homem branco e uma mulher branca imitando macacos, dançando que nem macacos no samba. Segunda-feira vamos entrar com uma denúncia de racismo.”

O casal ainda não foi identificado pelas autoridades.

Veja o vídeo abaixo: