Por conta de um pacto de sangue que acaba não ocorrendo, o livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, não será mais utilizado em escolas de Conselheiro Lafaiete (MG). A Secretaria Municipal de Educação do município informou que tomou a decisão após reclamações de pais, que consideraram a obra agressiva.
A publicação, de 1986, é uma das mais importantes da carreira de Ziraldo, morto em abril deste ano. O livro fala sobre a amizade entre dois garotos, o menino marrom, que é negro, e o menino amarelo, que é branco. Os dois resolvem fazer o pacto de sangue, chegam a pegar uma faca, mas recuam, tentam com um alfinete para, no final, fazerem a cena apenas com tinta vermelha.
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Em outra cena criticada pelos pais, o menino marrom afirma querer que uma senhora seja atropelada após ela não aceitar sua ajuda para atravessar a rua.
A confusão toda começou, segundo professores da rede contaram para o Globo, após um dos pais gravar um vídeo fazendo críticas ao livro. A coisa se espalhou rapidamente em redes de WhatsApp. No final das contas, um pastor da região filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, publicou em suas redes que o livro “não diz nada sobre o racismo, induz as crianças a fazer pacto de sangue cortando o punho”.
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Recurso valioso
A Secretaria de Educação de Conselheiro Lafaiete lamentou em nota no Facebook as interpretações dúbias sobre o livro, e diz a obra “é um recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade”, mas, diante das “diversas manifestações e divergência de opiniões”, pediu a suspensão temporária dos trabalhos sobre o livro, para “melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas”.
"Uma das principais obras infantis a abordar os temas sociais, [o livro] aborda de forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade. Utilizando uma linguagem simples e ilustrações atraentes, Ziraldo consegue envolver as crianças e facilitar a compreensão de conceitos complexos como racismo e empatia", diz a nota.
“O menino marrom” foi distribuído para crianças do 3º e 4º ano (com idades entre 8 e 10 anos), antes de ser recolhido pela prefeitura nesta quarta-feira.
Ziraldo
Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga (MG), em 24 de outubro de 1932 e morreu em abril deste ano, aos 91 anos. Escritor, desenhista, chargista, caricaturista e jornalista, foi um dos fundadores, nos anos 1960, do jornal “O Pasquim”. Em 1980, lançou “O Menino Maluquinho”, um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro voltado para as crianças.