Dois juízes das Varas Criminais da Comarca de Fortaleza se declararam suspeitos para processar e julgar a ação penal contra o ex-gerente da loja de roupas Zara, Bruno Filipe Simões Antonio, em um dos casos de racismo de maior repercussão nos últimos anos, deixando o desfecho processual pendente. A decisão significa que eles se abstiveram do processo de julgamento.
Em abril deste ano, dois juízes, da 14ª e 15ª Vara Criminal de Fortaleza, respectivamente, já haviam se declarado suspeitos para processar e julgar o caso em que Bruno é réu por racismo contra a delegada Ana Paula Barroso. O crime ocorreu em setembro de 2021 na loja Zara da cidade. A juíza da 14ª Vara Criminal mencionou naquele mesmo mês que todos os colaboradores e servidores da unidade também estavam suspeitos e solicitou a redistribuição da ação.
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Os magistrados alegaram "motivo de foro íntimo". Na decisão mais recente, os autos foram encaminhados ao juízo da 16ª Vara Criminal da comarca, onde o processo será julgado. Nos memoriais finais apresentados no processo, a defesa argumentou que "o acusado não recusou nem impediu o acesso da suposta vítima à loja Zara, e que o contato entre ele e a suposta vítima não foi motivado por discriminação racial ou preconceito".
Em setembro do ano passado, o Ministério Público do Ceará (MPCE) concluiu suas alegações finais, solicitando a condenação de Bruno Filipe. A promotora da 93ª Promotoria de Justiça de Fortaleza afirmou nos autos que, para o MP, "a materialidade e autoria do delito estão comprovadas".
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*Com informações de Migalhas
Outros casos na Zara
O “Zara Zerou”
A Polícia Civil do Ceará conduziu uma investigação em 2021 que revelou a existência de um código na loja da referida marca, em Fortaleza, para alertar os funcionários sobre a presença de clientes negros e pessoas vestidas de forma “simples”. Na época, a Zara se pronunciou afirmando que a política da loja era “diversa e não discriminatória”.
O responsável pela gestão da loja enfrentou acusações de racismo, resultando no seu indiciamento. Organizações ligadas aos movimentos negros ingressaram com uma ação judicial buscando compensação por danos morais coletivos.
Outro caso ocorreu no mesmo ano. Na Bahia, um homem foi indenizado pela loja após um atendente o acusar de furto, sendo que na verdade, ele havia comprado a mochila. No mês de novembro deste ano, o Ministério Público do Rio apresentou uma acusação de racismo contra um segurança da Zara. O funcionário impediu um cliente negro de deixar a loja sem indicar a localização das peças de roupa das quais ele havia desistido de comprar.
Não apenas no Brasil, a Zara também impediu uma cliente que usava véu de entrar em uma de suas lojas da França. O caso aconteceu em 2015.
Trabalho análogo à escravidão
Além disso, a empresa enfrentou alegações de envolvimento em trabalho forçado, especialmente no que diz respeito à exploração da minoria uigur na China, conforme denunciado por organizações na França. Esta não é a primeira vez que a Zara enfrenta acusações desse tipo; em 2021, outra reclamação similar foi submetida à Procuradoria francesa.
A Inditex, conglomerado que detém a marca Zara, contestou as acusações, afirmando que são sem fundamentos e que mantém seu compromisso com uma política de "tolerância zero" a trabalhos análogos à escravidão.
A Zara entrou em acordo com Termo de Ajuste de Conduta no Brasil em 2017, em colaboração com o Ministério Público do Trabalho em São Paulo. Este documento abordava casos de trabalho análogo à escravidão e trabalho infantil identificados na cadeia produtiva da marca.
Naquela época, a empresa foi obrigada a pagar uma multa de R$ 5 milhões por ter violado um termo anteriormente acordado. Em 2011, trabalhadores envolvidos na produção de roupas para a marca foram resgatados em condições desumanas.
Sem representatividade
Ainda em 2017, uma polêmica voltou os olhares para a marca: o mal uso do dizer "Love your curves" ("Ame suas curvas", em português) para representar corpos femininos. A campanha publicitária coloca duas modelos magras de calças jeans ao lado da frase. A abordagem gerou indignação entre os consumidores, e, na época, a empresa optou por não se manifestar sobre o caso.
Em 2014, a marca de roupas expôs pijamas parecidos com os que eram usados durante o Holocausto e depois retirou das prateleiras.
Rato costurado em roupa
Em 2016, uma mulher nos EUA alegou ter descoberto uma pata de rato costurada em um vestido, que poderia ter causado uma erupção cutânea em sua pele pelo contato. A empresa, na época, afirmou que estava investigando o incidente.