Rui Paulo Gonçalves Estevão, o miliciano de 33 anos conhecido como Pipito e apontado como o atual chefe do Bonde do Zinho, a maior milícia do Rio de Janeiro, foi morto nesta sexta-feira (7) durante operação da Polícia Civil na zona oeste da cidade. Em protesto, os milicianos sequestraram três ônibus e os usaram como barricadas na Avenida Antares, em Santa Cruz.
De acordo com a Rio Ônibus, um desses veículos sequestrados foi incendiado. Em outubro passado uma cena parecida ocorreu na mesma região quando um sobrinho de Zinho foi morto pela polícia. Na ocasião, 35 ônibus foram incendiados e Pipito foi apontado como o mentor da ação.
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Na operação de hoje, que foi feita pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e pela Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) da Polícia Civil na Favela do Rodo (que fica na região), dois seguranças de Pipito foram baleados e hospitalizados. Não há maiores informações sobre suas identidades e estado de saúde.
Os agentes surpreenderam Pipito e seus seguranças dentro de um imóvel na região. Os milicianos então reagiram à ordem de prisão e ocorreu a troca de tiros. Pipito chegou a ser levado para o Hospital Municipal Rocha Faria, que confirmou que o miliciano já chegou morto à instituição.
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Pipito e o Bonde do Zinho
O Bonde do Zinho, liderado pelo miliciano Luis Antonio da Silva Braga - o Zinho - é uma das milícias mais poderosas do Rio de Janeiro. Controla muitos territórios na zona oeste da capital, além de algumas comunidades na Baixada Fluminense.
O grupo tem tanto poder de fogo e capilaridade que em 23 de outubro de 2023, após o seu número 2, Matheus da Silva Rezende, o Faustão, ser morto durante a Operação Dinastia da Polícia Civil, o grupo incendiou a cidade. Literalmente. Foram pelo menos 35 ônibus, 4 caminhões (incluindo um caminhão de entulho da Comlurb), uma estação de trem e uma composição ferroviária queimados em uma verdadeira operação de retaliação do grupo contra a morte da liderança.
O caos foi instalado na zona oeste do Rio e as empresas de transporte público recolheram boa parte dos seus veículos e suspenderam linhas por falta de segurança, deixando uma horda de trabalhadores à deriva na região, precisando voltar a pé para casa.
Faustão, o morto, era o principal candidato a substituir Zinho no comando da milícia em caso de morte ou prisão do seu líder. Com sua morte, Pipito, que ordenou o ataque aos ônibus, tornou-se o “número 2”. Zinho acabou preso em dezembro e, desde então, Pipito liderava o grupo.
No passado, foi homem de confiança de Ecko, o líder anterior a Zinho. Ficou preso entre 2018 e 2020 por porte ilegal de armas - foi pego com duas pistolas em sua residência. Acabou libertado por conta de saída temporária estabelecida no âmbito da pandemia de Covid-19.
De acordo com a Operação Dinastia, antes de assumir o comando do grupo, ele já era o chefe da milícia em Antares, comunidade da região de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. Tal comunidade, outrora dominada pelo Comando Vermelho, é considerada estratégica para o projeto de poder territorial da milícia. Pipito seria um líder natural ao dominar a localidade. Sobretudo em um contexto de conflitos com facções do narcotráfico e outras milícias, como o Bonde do Tandera - uma dissidência dos tempos de Ecko.
Por sua vez, Zinho herdou a milícia de Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto em 12 de junho de 2021 pela Polícia Civil quando ia visitar a mulher e os filhos na Comunidade das Três Pontes, em Paciência, na zona oeste do Rio. A Polícia Civil, que já monitorava Ecko seis meses antes, cercou a casa por volta das 8 horas da manhã, em uma operação chamada "Dia dos Namorados". Ao notar a chegada dos agentes, Ecko tentou fugir, foi baleado com dois tiros no peito e chegou ao Hospital Municipal Miguel Couto, para onde foi levado já sem vida.