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"Bonde do Zinho": entenda como surgiu a milícia que provoca caos no Rio de Janeiro

Mais de 35 ônibus e um trem foram queimados em resposta à morte do nº2 da quadrilha pela polícia

Milícia no Rio apavora trabalhadores no transporte público.Créditos: Reprodução/Twitter
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Uma milícia queimou cerca de 35 ônibus, um trem e instaurou um clima de guerra na Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), na última segunda-feira (23). Conhecido como "Bonde do Zinho", a quadrilha é o maior grupo paramilitar do estado e tem uma origem associada à polícia do Rio.

Os atos de vandalismo ocorreram em represália à morte de Matheus da Silva Rezende –  o Faustão, segundo na hierarquia do comando da milícia – a tiros da Polícia Civil do Rio. O chefe do grupo é Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que assumiu após a morte do ex-chefe Wellington da Silva Braga, o Ecko.

Os ataques se concentraram nos bairros sob controle da milícia, como Campo Grande, Inhoaíba e Santa Cruz, e áreas que já estiveram em domínio ou estão em disputa, a exemplo de Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes. Foram incendiados 20 ônibus municipais, 10 veículos de turismo e fretamento, e 5 BRTs, além do trem da SuperVia.

 

A origem do "Bonde do Zinho"

Este grupo paramilitar atua no Rio de Janeiro desde a virada dos anos 2000, em uma fusão entre familiares e a Liga da Justiça, uma milícia criada na metade da década de 1990 na Zona Oeste pelo ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o ex-deputado estadual Natalino Guimarães e o miliciano Ricardo Teixeira da Cruz, apelidado de Batman. 

Após a prisão de Batman em 2011 em uma operação das agências de segurança pública da capital fluminense, a quadrilha enfrenta uma sucessão de chefes que também são presos: Toni Ângelo de Souza Aguiar, o Robin e ex-braço direito de Batman, em 2013; e Marcos José Lima Gomes, o Gão e ex-PM, em 2014. 

Nos próximos anos, o grupo passou por uma crise interna na disputa pela liderança nos negócios da milícia. Dois nomes competiram pelo comando: o miliciano Dentuço e o ex-traficante Carlos Alexandre da Silva Braga – o Carlinhos Três Pontes ou CL. Após o sequestro de Dentuço, CL foi morto pela polícia em abril de 2017.

Na ação que culminou em seu assassinato, a Operação Pandora descobriu que a Liga da Justiça pagava R$ 40 mil por mês pelo vazamento de informações privilegiadas da Secretaria de Segurança Pública, de modo a facilitar as atividades do grupo sem a presença das forças policiais.  

Carlinhos Três Pontes foi um dos primeiros milicianos a formar alianças entre traficantes e milicianos, o que deu origem ao fenômeno da "narcomilícia", termo utilizado para descrever a milícia do Gardênia Azul, por exemplo. Em 2019, um relatório do Ministério Público do Rio apontou que mais de aproximadamente 180 territórios na Baixada Fluminense são controlados pela união de paramilitares e traficantes.

Com sua morte, assumiu o comando da milícia seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko. Nesta passagem, o grupo passa a se autodenominar "Bonde do Ecko" e se espalha pela Baixada Fluminense por meio de um esquema de franquias – a quadrilha financiava armamentos e homens mediante o retorno de porcentagens dos lucros locais.

A Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) da Polícia Civil estimou que Ecko acumulasse mais de 400 seguranças e faturamento de R$ 5 milhões mensais apenas no bairro de Santa Cruz. 

As desavenças entre Ecko e um dos franquiados, o miliciano Tandera, resulta em mais um rompimento na milícia. Em junho de 2021, Ecko foi morto em confronto com a Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIm), que reagiu em legítima defesa. Sua morte representa a ascensão de outro irmão seu, o atual comandante do grupo Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho. 

Então responsável pela contabilidade da operação, ele assume o comando da milícia e declara guerra a Tandera, que havia se aliado aos milicianos da Zona Norte do Rio. As atividades dos milicianos se resumiam na proibição do tráfico; segurança armada; fornecimento de botijão de gás, luz e serviço de transporte alternativo; e prestação de serviço de televisão a cabo e internet.

Em 2021, um edifício em construção pela milícia foi interditado pela polícia. O diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), Felipe Curi, revelou detalhes sobre os serviços de construção civil do "Bonde do Zinho": "Inclusive, com algumas famílias morando, e essa construção tinha cada imóvel sendo comercializado por R$ 120 mil".