Pelo menos 35 ônibus, um caminhão e um trem foram incendiados nesta segunda-feira (23) na zona oeste do Rio de Janeiro depois que o miliciano Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão, foi morto por agentes da Polícia Civil. Faustão era sobrinho de Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, líder da milícia "Bonde do Zinho", uma das maiores do Rio que controla boa parte da zona oeste e parte da Baixada Fluminense, e cotado para assumir o lugar do tio no futuro.
De acordo com o tradicional jornal carioca, O Globo, a Operação Dinastia - que vitimou Faustão - ocorreu na área de Três Pontes, em Paciência. Moradores relataram tiroteios ao longo do dia. Após o miliciano vir a óbito, a RioÔnibus já confirmou 35 coletivos e quatro caminhões incendiados.
Te podría interesar
Um dos caminhões é da Comlurb e fazia remoção de entulhos. Gari e motorista fugiram e estão a salvo. Outro foi incendiado na Avenida Brasil, na altura de Paciência. Segundo relatos, 20 homens armados mandaram que o motorista abandonasse o veículo, que carregava material de construção, e então atearam fogo.
No começo da tarde, a Mobi Rio, consórcio que administra o BRT, anunciou a suspensão temporária de todas as linhas do corredor Transoeste.
Te podría interesar
A SuperVia, responsável por metrôs e trens, também informou que a estação Tancredo Neves, na zona oeste, foi incendiada. Ainda foi confirmado um tiro de raspão no joelho de um menino de 10 anos. Ele recebeu atendimento médico na UPA de Paciência.
Mais de 15 quartéis do Corpo de Bombeiros foram acionados desde as 14h49 por conta dos incêndios. Os locais com mais chamadas foram Guaratiba, Inhoaíba, Cosmos, Paciência, Santa Cruz e Campo Grande, todos na zona oeste do Rio. Também há chamados em bairros como Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá.
Prefeito vs. Governador
O governador Cláudio Castro (PL) e o prefeito Eduardo Paes (PSD) usaram as redes sociais para comentar o episódio. O primeiro a ir ao X, antigo Twitter, foi Castro.
"Quero parabenizar nossos policiais da DGPE da Core e da Draco por prenderem hoje, em Santa Cruz, o Faustão ou Teteu – que era o braço direito e sobrinho do miliciano Zinho. Não vamos parar! Nossas ações para asfixiar o crime organizado têm trazido resultados diários. Hoje demos um duro golpe na maior milícia da zona oeste", comemorou o governador.
Já o prefeito, lembrou que dezenas de ônibus foram queimados e linhas foram paralisadas. "Os únicos prejudicados são os moradores das áreas que eles dizem proteger. Essa gente precisa de uma resposta muito firme das forças policiais. Como prefeito, apelo ao Governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem para impedir que fatos assim se repitam", declarou Paes.
Ecko e a liderança da milícia
Faustão, morto nesta segunda (23), é sobrinho de Zinho e era o principal candidato a substituí-lo na liderança do Bonde do Zinho, uma das principais milícias do Rio de Janeiro. Ele era apontado como o "principal homem de guerra" do tio e frequentemente chefiava rondas e operações.
Por sua vez, Zinho herdou a milícia de Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto em 12 de junho de 2021 pela Polícia Civil quando ia visitar a mulher e os filhos na Comunidade das Três Pontes, em Paciência, na zona oeste do Rio.
A Polícia Civil, que já monitorava o miliciano seis meses antes, cercou a casa por volta das 8 horas da manhã, em uma operação chamada "Dia dos Namorados". Ao notar a chegada dos agentes, Ecko tentou fugir, foi baleado com dois tiros no peito e chegou ao Hospital Municipal Miguel Couto, para onde foi levado já sem vida.
Jerominho e a Operação Dinastia
A Operação Dinastia, que vitimou Faustão e desatou o caos miliciano na zona oeste do Rio nesta segunda (23), se originou em 2022 quando Jerônimo Guimarães Filhos foi executado em Campo Grande. Jerominho, como era conhecido, era ex-vereador e chefe de outra milícia, a Liga da Justiça.
Em diálogo interceptado pela Polícia Civil, Faustão comentava o crime com Latrell (Rodrigo dos Santos). Com frases como "resolver logo esses velhos" e "praga do caralho", os investigadores passaram a desconfiar que a dupla estaria planejando os ataques ao miliciano mais antigo.
Jerominho foi morto em 4 de agosto de 2022 nas ruas de Campo Grande. De acordo com testemunhas, ele caminhava quando foi baleado na perna e no abdômen por homens que passaram de carro portando fuzis. Ele tinha 73 anos. Em vídeo divulgado no Twitter, registrado logo após o crime, o homem que estava gravando confirma a identidade de Jerominho e diz que "o carro passou e sentou-lhe o dedo".
Vereador do Rio de Janeiro pelo PMDB por dois mandatos, entre 2000 e 2008, Jerominho ficou conhecido por terminar o segundo mandato na cadeia. Ele foi um dos 227 indiciados pela CPI das Milícias em 2008 e ficou 11 anos preso por haver criado e liderado a Liga da Justiça em 1995. A organização é conhecida como a primeira milícia de Campo Grande, local de vida e morte para Jerominho. Entre seus crimes estariam listados homicídios, extorsões e comercialização ilegal de gás e água.
Solto no final de 2018, no ano seguinte flertou com a possibilidade de sair candidato para deputado federal nas eleições deste ano. Em 2020, a família de Jerominho foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que teria descoberto o interesse familiar em ocupar cargos no Executivo e no Legislativo, a fim de recuperar poder e prestígio na região.